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São Paulo, sexta-feira, 27 de junho de 2003

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Brasil pouco ganha com o pacote, diz CNA

CÍNTIA CARDOSO
DA REPORTAGEM LOCAL

O pacote de reforma na PAC (Política Agrícola Comum) apresentado pela União Européia é visto com pouco entusiasmo pela CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil).
Motivo: produtos importantes para o agronegócio brasileiro, como açúcar, fumo e algodão, não foram contemplados pela reforma dos europeus.
Outro ponto de descontentamento: a reforma da PAC não desvincula totalmente a concessão de subsídios do volume produzido pelos agricultores, como queria o Brasil e os demais membros do Grupo de Cairns (formado por 18 países grandes produtores e exportadores agrícolas, entre eles o Brasil).
"No caso da carne, que tem grande importância para nós, os subsídios vão continuar vinculados a 40% da produção. Isso até diminui a pressão que leva à produção de excedentes e deprime os preços no mercado internacional, mas ainda fica aquém das nossas expectativas", disse Antonio Donizeti Beraldo, chefe do departamento internacional da CNA.
A questão relativa aos produtos lácteos também foi alvo de críticas. Pela proposta européia para a manteiga, por exemplo, haverá um corte de 25% no preço de intervenção praticado pela UE nos próximos quatro anos. O preço de intervenção serve como uma espécie de garantia de renda para os produtores. Ou seja, independentemente dos preços praticados no mercado internacional, o governo oferece um preço fixo para a compra da produção. "Um corte de 25% é até expressivo, mas os preços de intervenção da Europa ainda estão muito acima dos de mercado", diz Beraldo.
O texto da reforma enfatiza também aspectos ligados ao ambiente, ao bem-estar dos animais e outros temas ambientais. Para a CNA, esses tópicos podem vir a se transformar em uma verdadeira armadilha para negociações futuras entre o Brasil e a UE. "Daí, pode surgir espaço para a criação de novas barreiras protecionistas", avaliou o economista da CNA.
Se a reforma causou alguma frustração no setor agrícola brasileiro, ela tem o mérito, segundo a CNA, de acenar com a possibilidade de desbloquear as negociações da próxima rodada da OMC (Organização Mundial do Comércio), em setembro, e aquelas entre o Mercosul e a UE.
Sob essa questão, entretanto, o Itamaraty se mostra um pouco mais cético. "O governo brasileiro aguarda, portanto, que a União Européia apresente suas novas propostas sobre a reforma do comércio agrícola internacional, em sintonia com os objetivos a que se propõe a Rodada Doha", diz nota oficial divulgada ontem.


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