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BENS DE CONSUMO
Economia é impulsionada pela maior procura por carros, eletroeletrônicos, telefones e outros produtos
Crédito fácil e juros baixos elevam vendas
ADRIANA MATTOS
FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL
O poder aquisitivo do brasileiro
está estável, segundo institutos de
pesquisa e consultorias. Mas há
um grupo de consumidores que
passou a gastar mais neste ano a
ponto de esquentar as vendas tanto de carros importados e geladeiras de R$ 4.000 como de radiogravadores e aspiradores de pó.
A corrida desse público às concessionárias e às redes de lojas,
que vem contribuindo para impulsionar a economia brasileira, é
motivada por uma série de fatores
que estão atuando hoje de forma
conjunta no país.
O acesso ao crédito facilitou a
vida das empresas, que puderam
reduzir juros e aumentar as parcelas para pagamento das compras no varejo. E quem tem mais
dinheiro, mas temia o desemprego, está agora seguro para consumir.
Mais: os ex-inadimplentes voltaram às compras após quitarem
as dívidas vencidas ao longo de
99. Também surgiu uma nova categoria de profissionais -a ligada
ao setor de telefonia, Internet e
seus prestadores de serviços-,
com salários elevados e, portanto,
com dinheiro para gastar.
"Tudo isso está dando um empurrão na economia", diz Fábio
Silveira, economista da Tendências. Ele lembra que o setor de telecomunicações está investindo
pesado no país e que a Internet e
os celulares estão cada vez mais
presentes na vida dos consumidores. "O crescimento das exportações também resulta no aumento
do emprego e, consequentemente, favorece o consumo."
DVD e celulares
Esse consumo não se restringe a
uma única classe social. Atinge os
extremos da pirâmide e a classe
média. Que o digam os fabricantes de eletrônicos de alta tecnologia, de celulares de última geração
e de carros importados.
As revendas de carros usados e a
indústria de eletrodomésticos
portáteis também não têm do que
reclamar -só a festejar os resultados obtidos desde o início do
ano.
Há números surpreendentes: as
vendas de DVD (Digital Video
Disc) cresceram 638% no primeiro semestre em relação a igual período do ano passado. Nas câmeras filmadoras, o aumento foi de
71%, informa a Eletros, associação que representa a indústria eletrônica.
Esse bom desempenho das vendas também é registrado pelos fabricantes de computadores. Espera-se que esse mercado cresça
35% neste ano, estima o IDC (International Data Corporation),
por conta da compra pelas classes
de menor poder aquisitivo.
Em alguns casos, como o dos
DVDs, não se trata apenas de a
base de comparação ser baixa, já
que o produto chegou recentemente ao mercado. "O aparelho
está se popularizando graças ao
crescente interesse da classe alta",
afirma Gilberto Asmar, sócio da
Import Express, rede varejista há
12 anos no mercado.
O consumidor brasileiro de renda mais elevada também está fazendo a festa no setor de telefonia.
A BCP informa que a venda de celulares pós-pagos- usados principalmente pelas classes média e
alta- cresceu 30% em julho e
neste mês em comparação a maio
e junho.
A expansão no consumo se alastrou pelas camadas sociais, e esse
movimento pode ser verificado
pelo aumento nas vendas de carros usados e aparelhos portáteis
de preços populares. Segundo a
Assovesp (Associação dos Revendedores de Veículos Automotores no Estado de São Paulo), de janeiro a junho foram vendidos
35% mais carros usados sobre
igual período do ano passado.
De cada dez pessoas que saíram
das lojas com o automóvel, seis financiaram a compra. No ano passado, cinco faziam o mesmo. O
que motivou o aumento, diz a associação, foi a redução de até 40%
nas taxas de juros cobradas pelas
lojas neste ano.
"O crédito é que está impulsionando todos esses setores", afirma Clarice Messer, diretora da
Fiesp (Federação das Indústrias
do Estado de São Paulo).
Segundo ela, o dinheiro disponível para a pessoa física fazer um
financiamento aumentou 50%,
descontando-se a inflação, de outubro de 99 até julho deste ano. "A
tendência é esse quadro não se alterar daqui para a frente."
Setores beneficiados
O crescimento do consumo, diz,
favoreceu mais o setor de bens
duráveis, mas outros também
acabaram se beneficiando. Pelo
levantamento da Fiesp, a produção da indústria de transformação subiu 6%, em média, no primeiro semestre deste ano em relação a igual período de 99.
Mas alguns setores tiveram desempenho melhor ainda. No caso
da indústria mecânica, o crescimento foi de 13,2%; eletroeletrônicos, 10,1%; mobiliário, 9,7%;
têxtil, 8%; e papel e papelão, 6,6%.
"O crédito explica boa parte desse
resultado", diz Roberto Faldini,
diretor da Fiesp.
A redução dos juros é o que está
por trás da retomada do consumo, analisa Celso Toledo, economista da MB Associados. "As taxas ainda estão altas, mas nunca
estiveram tão baixas como hoje."
Segurança
A redução dos juros, diz, trouxe
segurança. "Quando podíamos
imaginar que seria possível comprar um carro financiado em três
anos, pagando taxa pré-fixada de
1,5% ao mês?"
Essa confiança na economia teve impacto nos bens duráveis e
não em outros setores, como os
não-duráveis (alimentos). O que
explica isso, segundo Toledo, é o
fato de a demanda pelos duráveis
ainda não ter sido saciada.
Pelo levantamento da FCESP
(Federação do Comércio do Estado de São Paulo), as vendas de
bens duráveis subiram 15,4% no
primeiro semestre deste ano sobre igual período do ano passado.
As de bens não-duráveis cresceram 3,7% no mesmo período.
Para Newton Rosa, economista
da MCM, essa tendência se manterá até o final do ano. "O que vai
ajudar ainda mais é que o emprego e a renda vão se recuperar mais
rapidamente no segundo semestre. As perspectivas são boas."
Clarice diz que o fato de o tempo de busca de um emprego ter
diminuído já muda a dinâmica do
consumo do país. "Mais confiante, o brasileiro passa a gastar
mais."
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