São Paulo, domingo, 27 de agosto de 2000


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BENS DE CONSUMO
Economia é impulsionada pela maior procura por carros, eletroeletrônicos, telefones e outros produtos
Crédito fácil e juros baixos elevam vendas

ADRIANA MATTOS
FÁTIMA FERNANDES

DA REPORTAGEM LOCAL
O poder aquisitivo do brasileiro está estável, segundo institutos de pesquisa e consultorias. Mas há um grupo de consumidores que passou a gastar mais neste ano a ponto de esquentar as vendas tanto de carros importados e geladeiras de R$ 4.000 como de radiogravadores e aspiradores de pó.
A corrida desse público às concessionárias e às redes de lojas, que vem contribuindo para impulsionar a economia brasileira, é motivada por uma série de fatores que estão atuando hoje de forma conjunta no país.
O acesso ao crédito facilitou a vida das empresas, que puderam reduzir juros e aumentar as parcelas para pagamento das compras no varejo. E quem tem mais dinheiro, mas temia o desemprego, está agora seguro para consumir.
Mais: os ex-inadimplentes voltaram às compras após quitarem as dívidas vencidas ao longo de 99. Também surgiu uma nova categoria de profissionais -a ligada ao setor de telefonia, Internet e seus prestadores de serviços-, com salários elevados e, portanto, com dinheiro para gastar.
"Tudo isso está dando um empurrão na economia", diz Fábio Silveira, economista da Tendências. Ele lembra que o setor de telecomunicações está investindo pesado no país e que a Internet e os celulares estão cada vez mais presentes na vida dos consumidores. "O crescimento das exportações também resulta no aumento do emprego e, consequentemente, favorece o consumo."

DVD e celulares
Esse consumo não se restringe a uma única classe social. Atinge os extremos da pirâmide e a classe média. Que o digam os fabricantes de eletrônicos de alta tecnologia, de celulares de última geração e de carros importados.
As revendas de carros usados e a indústria de eletrodomésticos portáteis também não têm do que reclamar -só a festejar os resultados obtidos desde o início do ano.
Há números surpreendentes: as vendas de DVD (Digital Video Disc) cresceram 638% no primeiro semestre em relação a igual período do ano passado. Nas câmeras filmadoras, o aumento foi de 71%, informa a Eletros, associação que representa a indústria eletrônica.
Esse bom desempenho das vendas também é registrado pelos fabricantes de computadores. Espera-se que esse mercado cresça 35% neste ano, estima o IDC (International Data Corporation), por conta da compra pelas classes de menor poder aquisitivo.
Em alguns casos, como o dos DVDs, não se trata apenas de a base de comparação ser baixa, já que o produto chegou recentemente ao mercado. "O aparelho está se popularizando graças ao crescente interesse da classe alta", afirma Gilberto Asmar, sócio da Import Express, rede varejista há 12 anos no mercado.
O consumidor brasileiro de renda mais elevada também está fazendo a festa no setor de telefonia. A BCP informa que a venda de celulares pós-pagos- usados principalmente pelas classes média e alta- cresceu 30% em julho e neste mês em comparação a maio e junho.
A expansão no consumo se alastrou pelas camadas sociais, e esse movimento pode ser verificado pelo aumento nas vendas de carros usados e aparelhos portáteis de preços populares. Segundo a Assovesp (Associação dos Revendedores de Veículos Automotores no Estado de São Paulo), de janeiro a junho foram vendidos 35% mais carros usados sobre igual período do ano passado.
De cada dez pessoas que saíram das lojas com o automóvel, seis financiaram a compra. No ano passado, cinco faziam o mesmo. O que motivou o aumento, diz a associação, foi a redução de até 40% nas taxas de juros cobradas pelas lojas neste ano.
"O crédito é que está impulsionando todos esses setores", afirma Clarice Messer, diretora da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).
Segundo ela, o dinheiro disponível para a pessoa física fazer um financiamento aumentou 50%, descontando-se a inflação, de outubro de 99 até julho deste ano. "A tendência é esse quadro não se alterar daqui para a frente."

Setores beneficiados
O crescimento do consumo, diz, favoreceu mais o setor de bens duráveis, mas outros também acabaram se beneficiando. Pelo levantamento da Fiesp, a produção da indústria de transformação subiu 6%, em média, no primeiro semestre deste ano em relação a igual período de 99.
Mas alguns setores tiveram desempenho melhor ainda. No caso da indústria mecânica, o crescimento foi de 13,2%; eletroeletrônicos, 10,1%; mobiliário, 9,7%; têxtil, 8%; e papel e papelão, 6,6%. "O crédito explica boa parte desse resultado", diz Roberto Faldini, diretor da Fiesp.
A redução dos juros é o que está por trás da retomada do consumo, analisa Celso Toledo, economista da MB Associados. "As taxas ainda estão altas, mas nunca estiveram tão baixas como hoje."

Segurança
A redução dos juros, diz, trouxe segurança. "Quando podíamos imaginar que seria possível comprar um carro financiado em três anos, pagando taxa pré-fixada de 1,5% ao mês?"
Essa confiança na economia teve impacto nos bens duráveis e não em outros setores, como os não-duráveis (alimentos). O que explica isso, segundo Toledo, é o fato de a demanda pelos duráveis ainda não ter sido saciada.
Pelo levantamento da FCESP (Federação do Comércio do Estado de São Paulo), as vendas de bens duráveis subiram 15,4% no primeiro semestre deste ano sobre igual período do ano passado. As de bens não-duráveis cresceram 3,7% no mesmo período.
Para Newton Rosa, economista da MCM, essa tendência se manterá até o final do ano. "O que vai ajudar ainda mais é que o emprego e a renda vão se recuperar mais rapidamente no segundo semestre. As perspectivas são boas."
Clarice diz que o fato de o tempo de busca de um emprego ter diminuído já muda a dinâmica do consumo do país. "Mais confiante, o brasileiro passa a gastar mais."



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