São Paulo, domingo, 27 de agosto de 2000


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TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS
Bolha da Internet já está perdendo brilho comercial

GILSON SCHWARTZ
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Talvez nenhum mercado tenha sido motivo de projeções de crescimento tão eufóricas quanto o da Internet. O glamour comercial do setor, no entanto, está diminuindo. O mesmo vale para alguns outros empreendimentos da chamada nova economia.
A revista "The Economist" chama a atenção para o processo em várias reportagens. Há sinais preocupantes tanto no valor de mercado quanto nos indicadores de audiência dos principais websites dos EUA.
Por mais que se celebre a Internet como uma espécie de nova corrida do ouro californiana, o mais comum continua sendo a operação com prejuízo e com modelos de negócios de eficácia e rentabilidade duvidosos.
Até certo ponto, a demanda especulativa por projetos charmosos e a disponibilidade de fundos ociosos alimentam (ou melhor, alimentavam até pouco tempo atrás) a bolha. Mas se trata de uma bolha especulativa.
As ilusões milenaristas de que a Internet seria uma espécie de terra prometida da livre iniciativa perdem terreno para a realidade dos conflitos jurídicos.
Na semana passada, um conflito entre UOL e AOL foi decidido no âmbito do Conar. Nos EUA, o uso ilegítimo de softwares agentes para fazer espionagem industrial em sites alheios foi derrubado com base em leis antigas que dispõem sobre a invasão de propriedade privada.
As disputas em torno de questões de propriedade intelectual, ou seja, de propriedade privada de produtos do conhecimento, tendem a ganhar peso crescente.
Enquanto isso, modelos comunitários, autenticamente interativos e intensivos em recursos humanos, perdem espaço no mercado. Aliás, a mais recente onda de demissões em massa está ocorrendo justamente nos setores ligados à Internet, nos EUA. Como a bolha ainda não estourou, aumenta a rotatividade entre empregos, mas a tendência é no sentido do enxugamento. Afinal, boa parte dos sites de massa ainda promete, sem cumprir, gerar lucros.
Mas os prejuízos ainda não pesam contra a tendência de elevação nos salários dos executivos da nova economia.
Na semana passada o "The New York Times" estampava dados mostrando a fuga de cérebros, nos altos níveis gerenciais, da velha para a nova economia.
O setor permanece ambíguo: queda nas ações, prejuízos e demissões, de um lado, corrida do ouro, reforço dos oligopólios globais da mídia e ganhos de produtividade, de outro.
Como tudo isso repousa sobre um edifício de expectativas sobre uma futura sociedade tecnológica, é difícil precisar o que é real, o que é delírio, onde há uma nova economia.



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