São Paulo, domingo, 27 de agosto de 2000


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CASO AMBEV
Advogado é acusado apenas de falso testemunho, segundo a polícia
Aírton Soares não sugeriu suborno ao Cade, diz PF

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O advogado Aírton Soares não teve participação no esquema que se preparava, no início do ano, para tentar subornar conselheiros do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica). É o que consta do relatório da Polícia Federal, que investigou o caso. A PF trabalhava com a hipótese de que Soares estivesse envolvido -o que foi noticiado pela Folha-, mas isso não se confirmou.
De acordo com a investigação policial, dois advogados de São Paulo ofereceram-se para mudar votos dos conselheiros no julgamento sobre a criação da AmBev, fusão das cervejarias Brahma e Antarctica.
Aírton Soares era advogado da Abradisa (Associação Brasileira dos Distribuidores de Antarctica). Foi indiciado pela Polícia Federal sob acusação de falso testemunho. Os advogados Márcio Pugliese e Marco Antônio Campos Salles, que estariam engendrando propostas de suborno, foram indiciados sob acusação de tráfico de influência.

Alerta de suborno
Não há, no relatório da Polícia Federal, concluído no dia 17 de julho, informação de que o advogado Aírton Soares, ex-deputado federal pelo PT de São Paulo, tenha deixado implícita proposta de suborno durante uma conversa com a conselheira Hebe Romano, relatora do caso no Cade.
Segundo o relatório da PF, em dezembro do ano passado Hebe Romano foi procurada por Aírton Soares, que lhe contou que "a Kaiser tinha disponibilizado uma verba de R$ 20 milhões para combater a fusão das fabricantes de bebidas Antarctica e Brahma". Mas o fez em tom de alerta, não com propostas veladas.
Segundo o relatório da PF, "a forma com que Aírton Soares colocou a questão deixou-a (Hebe Romano) extremamente preocupada e com receio". E mesmo assim, diz o texto, "ela não se sentiu encorajada a acionar a polícia".

Contradição
O relatório da Polícia Federal, elaborado pelo delegado Luiz Carlos Zubcov, sustenta que "cotejando as declarações de Romano e Soares, observamos que apresentam divergências, principalmente em relação ao pedido dos R$ 20 milhões, soma esta que, segundo Hebe Romano, não se destinava ao pagamento de honorários".
Aírton Soares insistiu, durante todo o inquérito policial, que esse dinheiro serviria para pagar os advogados e não para corromper conselheiros. A divergência entre o que disseram Romano e Soares resultou no indiciamento do advogado por falso testemunho. Para o delegado Zubcov, a soma serviria para a cooptação de votos no Cade, o que Soares não admite.
O então advogado da Abradisa diz que a decisão de procurar Romano foi tomada exclusivamente por ele, "à revelia de Ataíde Guerreiro", presidente da entidade e também indiciado pela PF sob acusação de falso testemunho.
O relatório do delegado Zubcov foi enviado ao Ministério Público, a quem caberá agora avaliar se será proposta ação contra os indiciados nesse episódio.



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