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BOLSA
Presidente da instituição defende novas regras para a negociação de ações
'Bovespa precisa de Novo Mercado'
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA REPORTAGEM LOCAL
Para o presidente da Bolsa de
Valores de São Paulo, Alfredo
Rizkallah, a solução para o mercado de capitais brasileiro é a criação do Novo Mercado, um setor
da Bovespa com regras bem diferentes das atuais.
Inspirado no "Neuer Markt"
alemão, a criação desse Novo
Mercado foi sugerida por estudo
realizado por uma equipe de consultores liderada por José Roberto
Mendonça de Barros, ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda.
No Novo Mercado, seriam negociadas apenas ações com direito a voto. Além disso, as eventuais
divergências entre acionistas seriam resolvidas por uma câmara
de arbitragem, e não mais pela
Justiça, como acontece hoje.
Enquanto as reformas tributárias e da Lei das S/A não vêm, Rizkallah afirma que o mercado já ficaria aliviado se investidores estrangeiros fossem isentos do pagamento da CPMF (Contribuição
Provisória sobre Movimentação
Financeira).
Leia a seguir os principais trechos da entrevista que Rizkallah
concedeu à Folha.
Folha - O diretor da Bolsa de Londres disse à Folha que um dos objetivos do acordo fechado com a Bolsa de São Paulo é facilitar a vida de
empresas brasileiras que quiserem
negociar ações lá. Quais vantagens
esse acordo poderá trazer para a
Bovespa?
Rizkallah - Para nós, interessa
sempre a possibilidade de empresas brasileiras serem listadas em
outros mercados. Com a promoção que essas empresas fazem do
Brasil, podemos criar o desejo de
investidores que residem em outros países de trazerem recursos
para investirem em outras empresas do mercado brasileiro,
porque nem todas estão lá fora.
Mas temos que preservar a liquidez dessas mesmas empresas aqui
no mercado brasileiro, senão nos
tornamos simplesmente um mercado exportador de papéis.
Mas o que tem acontecido nos últimos tempos é justamente o contrário, muitas empresas estão fechando capital e saindo da Bolsa.
Rizkallah - Nós ainda não temos
um mercado de capitais desenvolvido, não existem condições
para isso. É preciso existir um
mercado de capitais forte para o
país poder crescer. E, para esse
mercado existir, são necessárias
três coisas: reforma tributária, eliminação do déficit público e a reforma da Lei das S/A.
Folha - Mas, pelo que se vê, essas
reformas não devem ser finalizadas logo. O mercado de capitais
aguenta esperar tanto assim?
Rizkallah - Bom, mas isso é uma
coisa que os brasileiros têm que
decidir, não sou eu. Temos que
conscientizar a sociedade brasileira da importância daquilo.
Folha - Com empresas fechando
capital e investidores estrangeiros
tirando dinheiro da Bovespa, o que
vai acontecer com a Bolsa?
Rizkallah - Por isso que nós precisamos acelerar essas reformas.
Mas nós temos um problema gravíssimo, que não depende de reformas, depende só de um ato do
governo: é o custo de transação
aqui no Brasil. Você citou estrangeiros tirando capital: esse problema depende unicamente da
eliminação da incidência da
CPMF sobre a operação dos (investidores) estrangeiros.
Folha - Isso quer dizer que cobrar
CPMF do investidor local não tem
tanto impacto para a Bolsa?
Rizkallah - O investidor nacional
deve ser isento dentro do âmbito
da reforma tributária. A CPMF
trabalha contra o país. Além da
reforma tributária, é importante a
reforma da Lei das S/A. Hoje,
mesmo as maiores empresas brasileiras são pequenas quando
comparadas com outras do mercado internacional. Como é que
as empresas estrangeiras cresceram? Com mercado de capitais,
que ainda não está à disposição
do empresário nacional. Mas, para ter um mercado de ações forte,
é preciso que essas ações tenham
determinadas características semelhantes às de outros mercados.
Folha - É esse o Novo Mercado?
Rizkallah - Seria esse o Novo
Mercado. É por isso que nós estamos empenhados em fazer um setor na Bovespa onde nós possamos ter companhias que tenham
condições universalmente aceitas. Por exemplo: ações de um tipo só e políticas de resolução de
divergências entre os acionistas
por meio de um conselho arbitral,
e não por meio da Justiça. São
condições que, acredito, criarão
muito mais atratividade para os
investidores comprarem ações.
Folha - Em qual etapa está a criação desse Novo Mercado?
Rizkallah - Eu gostaria de ver isso acontecer até o fim do ano.
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