São Paulo, sexta-feira, 27 de setembro de 2002

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CONTAS EXTERNAS

Para o BC, entrarão menos empréstimos e investimentos e aumentará remessa de recursos ao exterior

Crise afasta US$ 11,5 bi do Brasil em 2002

NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A crise financeira que se abateu sobre os mercados nos últimos meses deve afastar US$ 11,5 bilhões do país neste ano, segundo o Banco Central. Esse valor inclui tanto a queda no fluxo de dólares para o Brasil quanto o aumento nas remessas de recursos para o exterior. Para o BC, o movimento decorre de turbulências externas.
Num regime de câmbio flutuante, situações como essa, de falta de capital externo, são resolvidas com alta do dólar. O real se desvaloriza para que a balança comercial traga mais dólares para o país e normalize o desequilíbrio.
Para tentar evitar uma alta excessiva na cotação da moeda americana, o BC estima que serão necessárias intervenções maiores no mercado de câmbio. Até agosto, o BC esperava que, vendendo mensalmente US$ 500 milhões aos investidores, entre outubro e novembro, poderia normalizar a situação. Agora, elevou esse número para US$ 800 milhões.
A queda no fluxo de capital externo para o país pode ser dividida em três partes: na redução do volume de investimento estrangeiro no país, na dificuldade das empresas brasileiras em rolar suas dívidas e no aumento de remessas de dólares para o exterior.
As empresas brasileiras devem rolar apenas 50% de suas dívidas no exterior. Em 2001, essa proporção superou os 100%, ou seja, além de pagar tudo o que deviam, as empresas ainda se endividaram mais no mercado internacional.
O chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, diz que esse movimento não preocupa o governo. "O balanço de pagamentos é a menor de nossas preocupações." Ele afirma que o principal motivo para a disparada do dólar não é a situação das contas externas, e sim o nervosismo dos investidores.
Para Lopes, a queda no fluxo de capital para o país é consequência da "elevada volatilidade externa" dos últimos meses, o que fez investidores estrangeiros reduzirem suas aplicações em países emergentes. Isso afeta em maior escala aqueles que, como o Brasil, dependem de grande quantia de dólares para fechar suas contas.
Além da alta do dólar, o desequilíbrio nas contas externas deve ser compensado de duas outras formas: com o socorro bilionário oferecido pelo FMI (Fundo Monetário Internacional) e com um ligeiro aumento no ingresso de capital de curto prazo, de caráter mais especulativo.
Em relação ao saldo da balança comercial, o BC elevou para US$ 9 bilhões sua projeção para o superávit deste ano. Em julho, a estimativa estava em US$ 5 bilhões. A melhora no resultado será possível graças à desvalorização do real ocorrida desde então.
O governo conta ainda com US$ 6 bilhões que serão liberados pelo FMI. O dinheiro será fundamental para o equilíbrio das contas externas deste ano. Dos US$ 6 bilhões que o FMI irá emprestar ao Brasil neste semestre, US$ 3 bilhões já foram sacados neste mês, e outros US$ 3 bilhões devem ser liberados em dezembro. Outros US$ 24 bilhões poderão ser sacados, em várias parcelas, em 2003.
Por último, o BC espera contar ainda com um aumento no fluxo de capital de curto prazo para o país. Essas transações incluem aplicações em títulos de curto prazo (com vencimento inferior a um ano) negociados no mercado financeiro brasileiro, além de algumas operações de financiamento ao comércio exterior.
Segundo as projeções do BC, o ingresso de capital de curto prazo no país deve chegar a US$ 3,2 bilhões, contra US$ 1,7 bilhão esperado em julho passado.


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