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POLÊMICA
Ministra diz que continuará defendendo a instituição do licenciamento ambiental para a liberação de transgênicos
Para Marina, batalha ainda não terminou
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Um detalhe no "Diário Oficial"
da União deixou clara a contrariedade da ministra Marina Silva
(Meio Ambiente) com a medida
provisória que liberou o plantio
de soja transgênica no país: ela
não assinou o texto.
Mas a ministra não dá por encerrada a batalha para impor controle à plantação de organismos
geneticamente modificados. Um
novo round ocorrerá no debate
do projeto de lei com regras mais
duradouras sobre o assunto.
"Só quero ter segurança. Não se
trata de preconceito político,
ideológico ou fundamentalista. O
que eu posso dizer é que eu ainda
não tenho essa segurança", argumenta a ministra em meio a buquês de flores que recebeu durante o dia. Um deles foi mandado
em nome do colega Gilberto Gil
(Cultura). O cartão, assinado pelo
secretário-executivo, diz que era
uma "homenagem à lucidez, coragem e coerência" da ministra.
Folha - A sra. ainda acha possível
barrar o cultivo de sementes geneticamente modificadas no país?
Marina Silva - As coisas precisam
ser combinadas para que a entrada dos organismos geneticamente modificados seja feita de forma
ordenada e obedecendo à lei e não
da forma desordenada e desrespeitosa para com a legislação como vem sendo feito nos últimos
oito anos. É fundamental cumprir
as restrições que foram colocadas
na medida provisória e a assinatura de termos de compromisso
pelos produtores. E ainda virá um
projeto de lei com o marco legal.
Folha - Mas não há sinal de que a
disputa entre grupos no governo
terá uma trégua na discussão desse
projeto de lei, há?
Marina - Não sei se necessariamente uma batalha entre grupos.
É claro que há olhares diferentes
num grupo interministerial de 11
ministérios, porque diversa é a
composição do governo e não poderia deixar de ser. O projeto de
lei já avançou muito, agora falta a
decisão presidencial para o envio
do projeto ao Congresso.
O que eu posso dizer é que, mediante o cumprimento das regras
da MP e se tivermos uma lei que
não exclua o poder de decisão dos
ministérios envolvidos nessa
questão, poderemos ter o controle dessa situação.
Folha - A posição do ministério é
proibir os transgênicos?
Marina - A posição do ministério
nunca foi proibir, ser contra. Defendemos o licenciamento ambiental e a necessidade de estudo
de impacto ambiental.
Folha - O Ministério da Agricultura só tem 2.700 fiscais e só no Rio
Grande do Sul são cerca de 150 mil
propriedades a serem fiscalizadas.
Essas restrições não correm o risco
de ficar no papel?
Marina - A MP estabeleceu que
haverá um grupo de acompanhamento dessas regras. Eu acredito
que o chefe da Casa Civil comandará esse processo e, a partir daí,
vamos ver como superar as dificuldades para a implementação.
Folha - Em abril, o governo só havia liberado a comercialização da
safra já colhida e um novo plantio
chegou a ser proibido. A história
não pode se repetir?
Marina - Por isso é necessária
uma legislação que possa estabelecer um marco legal adequado
para os organismos geneticamente modificados. Essa é uma questão nova, de uma complexidade
muito alta. Acho que há um empobrecimento do debate quando
algumas pessoas tentam banalizar essa discussão dizendo que há
um grupo contra e outro a favor.
Folha - Um dos argumentos para
liberar o plantio foi que faltavam
sementes convencionais.
Marina - Esse argumento não sei
de onde veio, mas o próprio Ministério da Agricultura afirmou
que o problema não era falta de
semente convencional. Acho que
houve um problema da ordem
dos produtores do Rio Grande do
Sul, que pressionam para plantar
a soja geneticamente modificada.
Mas a MP talvez não tenha saído
como alguns pensavam: libera e
ponto. Isso não aconteceu.
Folha - Por que a medida provisória não teve a sua assinatura?
Marina - A MP foi assinada pelo
presidente interino e o chefe da
Casa Civil. A posição do ministério foi pública.
A MP foi decisão do governo,
que respeito, mas o ministério
continuará trabalhando para que
tenhamos uma legislação que institua o licenciamento ambiental.
A empresa que possui a patente
nunca entrou com pedido de licenciamento da semente. A empresa se recusa a fazer o licenciamento em todo o mundo.
Folha - A sra. consumiria alimentos que contenham transgênicos?
Marina - Costumo ser bastante
cuidadosa pela função de Estado
que exerço e prefiro não discutir
nesse nível. Só quero ter segurança. Não se trata de preconceito
político, ideológico ou fundamentalista. O que posso dizer é
que não tenho essa segurança.
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