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PAULO RABELLO DE CASTRO
Eleições 2006: agenda das oposições
Nos programas propostos por Geraldo e Cristovam, o foco no crescimento aparece como o objetivo maior
APÓS COMENTAR o programa do
PT (www.pt.org.br) visito hoje
as páginas de Geraldo
(www.geraldo45.org.br) de Cristovam (www.vote12.com.br), e de Heloisa Helena (www.psol.org.br).
Primeiro, uma comparação numérica: Geraldo finalmente produziu
seu documento-programa, com
alentadas 217 páginas e -pasme-
300 colaboradores nomeados ao final; Cristovam preencheu 138 páginas bem articuladas entre diagnóstico e proposições; HH ficou a dever,
pois sua coligação não documentou
um projeto de governo. O programa
da coligação do PT contém apenas 31
páginas.
Os documentos de Geraldo e Cristovam parecem ter o mesmo DNA,
caracterizado pelo foco no crescimento, como objetivo maior dos seus
programas; um diagnóstico comum
sobre o círculo vicioso dos juros altos
e dos tributos que escorcham o empresário nacional; e a tentativa de
ambos em produzir uma visão estratégica do país para além do mandato
2007 2010. Cristovam vai mais longe
ao adotar, como subtítulo de sua "revolução pela educação", a menção de
"construir o Brasil até 2022", numa
oportuna alusão ao que o país poderá
vir a ser à altura do segundo centenário da Independência.
Enquanto Cristovam capricha nas
teses educacionais, o programa de
Geraldo procura dar o recado do
"bom gerente", com extensa lista de
providências espalhadas por seus 32
capítulos. Ao final de dois deles, após
prometer uma "nova Sudene" e uma
"nova Sudam" -agências de fomento- esclarece que suas ações serão
detalhadas em 180 dias após o início
de seu governo.
Há aspectos interessantes, em ambos os projetos, na articulação entre
metas programadas e os meios para
alcançá-las. Cristovam (e seu partido,
o PDT) surpreende pela ênfase que
imprime, por exemplo, à simplificação tributária como meio eficaz de
romper o círculo da pobreza, mediante apoio ao empreendedorismo.
"Nosso sistema tributário deixa os
empreendedores emaranhados em
mais de 70 impostos, taxas e contribuições", diz ele.
Geraldo condena a carga fiscal
monstruosa, mas pouco esclarece sobre qual é sua proposta de reforma (se
houver). Aliás, nenhuma das reformas mais reclamadas (da tributação,
da Previdência, das leis trabalhistas,
do crédito e das finanças) recebeu o
enfoque correspondente à sua real
importância. Em compensação, a lista de realizações prometidas é longa e
detalhista, quase enfadonha.
Os candidatos de oposição tampouco inovam em relação ao tão decantado crescimento econômico: não arriscam mais que um palpite sobre a
taxa de expansão do PIB.
Não deixa de ser curioso que Cristovam introduza o conceito de "riscos" ao início do seu programa.
Os 13 riscos enumerados por
Cristovam são ameaças à prosperidade, entre os quais uma "elite política descomprometida e corrupta".
Mas haveria grande potencial de recuperação até 2022, se emendadas
a estratégia nacional de governo e
corrigida a descontinuidade das
ações governamentais.
A distância é pouca entre os candidatos, quando ambos prometem
o fim da gastança pública, com cujas economias o primeiro faria sua
"revolução na educação" (R$ 7 bilhões/ano, adicionais, para começar) enquanto Geraldo transformaria o país num "gigantesco canteiro
de obras". Geraldo vai mais longe ao
comprometer-se com um "déficit
zero" nominal e quando ressuscita
o compromisso de Tancredo de
"não gastar mais do que se arrecada". Pena que os benefícios saudáveis dessa promessa não sejam mais
reverberados nas páginas do programa.
E Heloisa Helena? Difícil dizer
como seria seu programa pois a
"superação da ordem capitalista",
proposta por seu partido, é meta
estranha num país que ainda nem
promoveu a distribuição do capital
pelo método capitalista. Como, então, superar algo nem mesmo foi
experimentado?
O brasileiro de hoje acumula
mais recibos de seção eleitoral do
que consegue acumular poupanças
para seu futuro. A educação eficaz,
definida por Cristovam, seria parte
dessa boa acumulação. Um "sólido
mercado de capitais" seria outra
importante ferramenta, essa proposta por Geraldo.
A estabilidade monetária trombeteada por todos seria parte do
caminho. Vamos votar mais uma
vez. Quem sabe acumulamos, se
não capital, mais experiência pelo
menos. Bom voto.
PAULO RABELLO DE CASTRO, 57, doutor em economia
pela Universidade de Chicago (EUA), é vice-presidente do
Instituto Atlântico e chairman da SR Rating, classificadora
de riscos. Preside também a RC Consultores, consultoria
econômica, e o Conselho de Planejamento Estratégico da
Fecomercio SP. Escreve às quartas-feiras, a cada 15 dias,
nesta coluna.
rabellodecastro@uol.com.br
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