São Paulo, sexta-feira, 27 de novembro de 2009

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Temor de calote de Dubai derruba Bolsas

Ameaça de moratória da principal holding estatal do emirado árabe assusta mercados; Bovespa segue Europa e cai 2,25%

Pessimismo se acentuou ontem com risco de perdas de grandes bancos com inadimplência de Dubai; Londres tem queda de 3,2%

Steve Crisp/Reuters
Vista de Dubai, com vários prédios de apartamentos em construção

FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

A ameaça de moratória de Dubai (Emirados Árabes Unidos), anunciada na quarta-feira, derrubou os mercados financeiros mundiais ontem.
Analistas esperavam um dia morno nas Bolsas, devido ao feriado do Dia de Ação de Graças nos EUA, mas o que se viu foi o contrário. Com Dubai no centro das atenções, as Bolsas europeias tiveram expressivas quedas. A Bovespa não conseguiu se isolar e encerrou as operações em baixa de 2,25%.
Anteontem surgiu a notícia de que o conglomerado estatal Dubai World, holding que cuida dos principais investimentos do governo de Dubai, estava com problemas para honrar compromissos. Aliado ao fantasma de "default" no Oriente Médio, mais um temor ajudou a abalar o mercado financeiro ontem: o de que grandes bancos europeus estejam entre os maiores prejudicados se o calote da dívida realmente ocorrer.
Na Bolsa de Londres, as baixas alcançaram 3,18%. Em Frankfurt, houve desvalorização de 3,25%. E a Bolsa de Paris teve perdas de 3,41%. As ações do setor bancário estiveram entre os destaques de perdas no mercado londrino: os papéis do Royal Scotland Bank desabaram 7,74%; as ações do Lloyds caíram 5,75%; e as do HSBC sofreram recuo de 4,80%. Em Paris, as ações do Credit Suisse recuaram 5,4%. As Bolsas dos EUA não abriram.
A Dubai World teria mais de US$ 60 bilhões em dívidas com cerca de 70 credores. Em 2010, está programado o vencimento de US$ 13 bilhões em dívidas de Dubai; em 2011, outros US$ 19,5 bilhões. Na quarta, a holding pediu aos credores a suspensão da dívida por seis meses, enquanto renegocia vencimentos de suas obrigações.
Ontem, o governo de Dubai fez um comunicado na tentativa de acalmar os mercados. Em nota, o segundo maior dos emirados que compõem o país afirmou entender os temores dos mercados e, especialmente, dos credores, mas disse que a "intervenção" era necessária para resolver o problema do endividamento da Dubai World.
Após o anúncio, a agência de classificação de risco Moody's baixou a nota de seis grandes companhias do governo. O mesmo fez a agência Standard and Poor's, que reduziu a classificação de cinco companhias, dizendo que o anúncio de quarta-feira representa o fracasso do governo de Dubai em dar apoio financeiro a uma companhia do primeiro plano.

No Brasil
Mesmo que os bancos brasileiros não tenham ligação direta com os problemas enfrentados por Dubai, suas ações acompanharam seus pares europeus e fecharam com quedas elevadas. Para Itaú Unibanco PN, as perdas ficaram em 3,27%; Santander UNT perdeu 3,12%; Bradesco PN recuou 2,22%; e BB ON, 2,07%.
"O possível "default" [de Dubai] afetou muito o mercado europeu, devido à exposição que, parece, os bancos da região teriam", disse Kelly Trentin, analista da corretora SLW. "A Bolsa brasileira ficou sem o referencial americano e acompanhou o mercado europeu. Temos agora de esperar para ver como Wall Street vai repercutir o episódio na abertura dos mercados amanhã [hoje]."
A reação no câmbio foi de alta de 1,39% do dólar diante do real. A moeda dos EUA encerrou vendida a R$ 1,75 e passou a registrar baixa de apenas 0,40% no mês.


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