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BC mantém taxa de juro, mas sinaliza alta
Por unanimidade, Selic é mantida em 8,75%, maior taxa real do mundo, mas comunicado do banco sinaliza alta futura
Analistas do mercado esperam aumento da taxa para a reunião de abril e que a Selic chegue a 11,25%
no final deste ano
EDUARDO CUCOLO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
As previsões de aumento da
inflação e de crescimento mais
acelerado da economia levaram o Banco Central a sinalizar
que um novo aumento dos juros está próximo. Ontem, o Copom (Comitê de Política Monetária do BC) decidiu, por unanimidade, manter a taxa básica
de juros inalterada em 8,75%
ao ano, o que já era esperado
pelos analistas financeiros.
A surpresa ficou, no entanto,
com o comunicado divulgado
após a decisão. Até a reunião
anterior, o Copom dizia que o
nível atual da taxa era "consistente com um cenário inflacionário benigno" e que havia uma
"margem de ociosidade" na
produção.
Agora, retirou essa avaliação
do seu discurso. Disse apenas
que "irá acompanhar a evolução do cenário macroeconômico até sua próxima reunião, para então definir os próximos
passos na sua estratégia de política monetária".
Para o economista Roberto
Padovani, do Banco WestLB, a
mudança indica que o BC está
pensando em subir os juros,
mas que essa alta não acontecerá ainda na próxima reunião,
em março. "Esse comunicado
diz mais pelo que não está escrito. Foram excluídas duas
frases importantes e que vinham acompanhando as decisões anteriores", afirmou.
Essa foi a primeira das oito
reuniões do Copom programadas para 2010. Agora, o comitê
só volta a se reunir nos dias 16 e
17 de março. A expectativa do
mercado financeiro, no entanto, é que os juros comecem a subir a partir da reunião marcada
para a última semana de abril.
Economistas consultados
pelo BC na pesquisa Focus estimam que a Selic deve terminar
o último ano do governo Lula
em 11,25%. A maior parte da alta deve ocorrer justamente durante o período eleitoral, o que
já preocupa outras áreas do governo.
Tanto que o Ministério da
Fazenda vem fazendo previsões para o crescimento da economia mais pessimistas que as
do BC, ao contrário do que
aconteceu no ano passado.
Para o ministro Guido Mantega, o país vai crescer 5,2%
neste ano. A previsão do BC é
de uma expansão de 5,8%. Um
crescimento menor significa,
em tese, menos chances de descontrole inflacionário.
Um dado divulgado nesta semana colocou mais pressão sobre o BC. Os economistas estão
prevendo, pela primeira vez
desde o estouro da crise econômica, que a inflação vá ficar acima do centro da meta de 4,5%.
Juros reais
Com a manutenção da taxa
Selic, o Brasil voltou a assumir
a liderança do ranking dos países com maior juro real (descontada a inflação) do planeta,
com 4% ao ano, deixando em
segundo lugar a Indonésia
(3,6%), segundo a consultoria
UpTrend.
A última vez em que os juros
subiram foi em setembro de
2008, antes da quebra do banco
Lehman Brothers. A piora na
crise financeira que se seguiu
levou o BC a reduzir a Selic em
cinco pontos percentuais entre
janeiro e julho, de 13,75% ao
ano para o patamar atual.
A reunião de ontem foi realizada com um diretor a menos,
devido à saída da ex-diretora de
Assuntos Internacionais Maria
Celina Berardinelli, que deixou
a instituição há duas semanas.
Seu substituto, Carlos Hamilton Araújo, atual chefe de departamento do BC, ainda precisa ser sabatinado pelo Senado.
A reunião de março pode ser
também a última sob a direção
do atual presidente do BC,
Henrique Meirelles, que precisa se afastar do cargo se quiser
concorrer a algum cargo público nas eleições.
Ele se filiou ao PMDB no ano
passado e avalia a possibilidade
de ser candidato ao Senado por
Goiás. Fala-se também na Vice-Presidência na chapa da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil).
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