São Paulo, quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

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BC mantém taxa de juro, mas sinaliza alta

Por unanimidade, Selic é mantida em 8,75%, maior taxa real do mundo, mas comunicado do banco sinaliza alta futura

Analistas do mercado esperam aumento da taxa para a reunião de abril e que a Selic chegue a 11,25% no final deste ano


EDUARDO CUCOLO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

As previsões de aumento da inflação e de crescimento mais acelerado da economia levaram o Banco Central a sinalizar que um novo aumento dos juros está próximo. Ontem, o Copom (Comitê de Política Monetária do BC) decidiu, por unanimidade, manter a taxa básica de juros inalterada em 8,75% ao ano, o que já era esperado pelos analistas financeiros.
A surpresa ficou, no entanto, com o comunicado divulgado após a decisão. Até a reunião anterior, o Copom dizia que o nível atual da taxa era "consistente com um cenário inflacionário benigno" e que havia uma "margem de ociosidade" na produção.
Agora, retirou essa avaliação do seu discurso. Disse apenas que "irá acompanhar a evolução do cenário macroeconômico até sua próxima reunião, para então definir os próximos passos na sua estratégia de política monetária".
Para o economista Roberto Padovani, do Banco WestLB, a mudança indica que o BC está pensando em subir os juros, mas que essa alta não acontecerá ainda na próxima reunião, em março. "Esse comunicado diz mais pelo que não está escrito. Foram excluídas duas frases importantes e que vinham acompanhando as decisões anteriores", afirmou.
Essa foi a primeira das oito reuniões do Copom programadas para 2010. Agora, o comitê só volta a se reunir nos dias 16 e 17 de março. A expectativa do mercado financeiro, no entanto, é que os juros comecem a subir a partir da reunião marcada para a última semana de abril.
Economistas consultados pelo BC na pesquisa Focus estimam que a Selic deve terminar o último ano do governo Lula em 11,25%. A maior parte da alta deve ocorrer justamente durante o período eleitoral, o que já preocupa outras áreas do governo.
Tanto que o Ministério da Fazenda vem fazendo previsões para o crescimento da economia mais pessimistas que as do BC, ao contrário do que aconteceu no ano passado.
Para o ministro Guido Mantega, o país vai crescer 5,2% neste ano. A previsão do BC é de uma expansão de 5,8%. Um crescimento menor significa, em tese, menos chances de descontrole inflacionário.
Um dado divulgado nesta semana colocou mais pressão sobre o BC. Os economistas estão prevendo, pela primeira vez desde o estouro da crise econômica, que a inflação vá ficar acima do centro da meta de 4,5%.

Juros reais
Com a manutenção da taxa Selic, o Brasil voltou a assumir a liderança do ranking dos países com maior juro real (descontada a inflação) do planeta, com 4% ao ano, deixando em segundo lugar a Indonésia (3,6%), segundo a consultoria UpTrend.
A última vez em que os juros subiram foi em setembro de 2008, antes da quebra do banco Lehman Brothers. A piora na crise financeira que se seguiu levou o BC a reduzir a Selic em cinco pontos percentuais entre janeiro e julho, de 13,75% ao ano para o patamar atual.
A reunião de ontem foi realizada com um diretor a menos, devido à saída da ex-diretora de Assuntos Internacionais Maria Celina Berardinelli, que deixou a instituição há duas semanas. Seu substituto, Carlos Hamilton Araújo, atual chefe de departamento do BC, ainda precisa ser sabatinado pelo Senado.
A reunião de março pode ser também a última sob a direção do atual presidente do BC, Henrique Meirelles, que precisa se afastar do cargo se quiser concorrer a algum cargo público nas eleições.
Ele se filiou ao PMDB no ano passado e avalia a possibilidade de ser candidato ao Senado por Goiás. Fala-se também na Vice-Presidência na chapa da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil).


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