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LUÍS NASSIF
Gerência e marketing
O país precisa de gerência, não
de marketing. A travessia cambial
é difícil, mas abre perspectivas de
crescimento futuro, que serão tão
mais próximas quanto mais competente for a condução da política
econômica. Por isso mesmo, são
prejudiciais essas tentativas erráticas de FHC, nos últimos dias,
tentando tirar fatos políticos do
marketing.
Essa história de Conselho de Sábios Bizantinos, visando ajudar
na formulação de políticas econômicas, é medida extemporânea,
não apenas pela definição dos
consultores -majoritariamente
membros de uma mesma escola
de pensamento que levou à derrocada da economia-, mas pela
própria utilidade do conselho.
O problema do país não é mais
formular, mas fazer, implementar
princípios básicos de boa gestão
econômica. Ainda mais agora,
com os desafios que se apresentam, com a mudança cambial afetando drasticamente as metas de
déficit público, governadores de
Estado lutando pela reabertura
de negociações da dívida, prefeituras quebradas, desemprego aumentando e tudo o mais.
Não se tem mais espaço para
formulações vazias, nem para inventar nada. Tem apenas que se
montar uma equipe operacionalmente eficiente, liderada por um
ministro que tenha comando, que
bote a mão na massa.
Desde 1996, brotou um conjunto
de boas idéias na área da regulação, novas políticas industriais,
novas formas de gerenciamento
de políticas públicas e de estímulo
à exportação, municipalização de
políticas sociais etc. Mas toda expectativa positiva vai por água
abaixo por falta de implementação adequada.
Novas prioridades
Os caminhos para a reversão das
expectativas passam, inicialmente, por mudanças ministeriais. O
que está em jogo não é a figura do
ministro A ou B. É tal o grau de
descrédito em relação ao comando da economia, que o BC está
imobilizado.
Os próximos meses serão um desafio administrativo redobrado,
com a redefinição das metas de
déficit público, renegociação das
dívidas com os Estados, administração de expectativas de mercado e, principalmente, de reversão
das prioridades.
A preocupação exclusiva com os
credores internacionais produziu
duas fendas fundas na credibilidade do presidente. Uma, o distanciamento do seu povo -mesmo daqueles que o elegeram para
o segundo mandato. Outra, a desconfiança da própria comunidade financeira internacional, para
com um país que não trata adequadamente seus problemas.
Por isso mesmo, a reversão dessas expectativas depende de uma
nova definição de política econômica, que coloque os problemas
nacionais no centro das preocupações do governo.
A próxima rodada de negociações com os governadores será
uma boa oportunidade para se estabelecer um novo pacto que tenha como objetivo principal uma
guinada nas prioridades públicas.
É hora de pensar seriamente em
um encontro de contas, inclusive
com a utilização do estoque de estatais a serem privatizadas, para
solucionar a questão da previdência pública e privada.
Se houver competência, coragem e desprendimento para atravessar os próximos seis meses, haverá condições objetivas para que
a mudança de patamar cambial
comece a trazer resultados concretos no segundo semestre, de
melhoria da atividade econômica
e do emprego.
Mas se não houver garantias de
boa gestão da economia nesse período, será impossível segurar as
expectativas por tanto tempo.
Hora da verdade
A hora dos rompantes é sempre
mais fácil que a hora da verdade.
A hora da verdade do governador
Itamar Franco virá nos próximos
meses, quando, gasto o dinheiro
do IPVA, o governador terá que se
ver com seus próprios demônios:
um Estado operacionalmente deficitário, que exigirá redução
substancial nos gastos com a folha.
Garotinho
O discurso otimista do governador carioca, Antony Garotinho,
na posse de Pio Borges, na presidência do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), é o sinal mais substantivo até agora feito em direção
a um pacto de governabilidade no
país.
E-mail: lnassif@uol.com.br
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