São Paulo, Quinta-feira, 28 de Janeiro de 1999
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LUÍS NASSIF

Gerência e marketing

O país precisa de gerência, não de marketing. A travessia cambial é difícil, mas abre perspectivas de crescimento futuro, que serão tão mais próximas quanto mais competente for a condução da política econômica. Por isso mesmo, são prejudiciais essas tentativas erráticas de FHC, nos últimos dias, tentando tirar fatos políticos do marketing.
Essa história de Conselho de Sábios Bizantinos, visando ajudar na formulação de políticas econômicas, é medida extemporânea, não apenas pela definição dos consultores -majoritariamente membros de uma mesma escola de pensamento que levou à derrocada da economia-, mas pela própria utilidade do conselho.
O problema do país não é mais formular, mas fazer, implementar princípios básicos de boa gestão econômica. Ainda mais agora, com os desafios que se apresentam, com a mudança cambial afetando drasticamente as metas de déficit público, governadores de Estado lutando pela reabertura de negociações da dívida, prefeituras quebradas, desemprego aumentando e tudo o mais.
Não se tem mais espaço para formulações vazias, nem para inventar nada. Tem apenas que se montar uma equipe operacionalmente eficiente, liderada por um ministro que tenha comando, que bote a mão na massa.
Desde 1996, brotou um conjunto de boas idéias na área da regulação, novas políticas industriais, novas formas de gerenciamento de políticas públicas e de estímulo à exportação, municipalização de políticas sociais etc. Mas toda expectativa positiva vai por água abaixo por falta de implementação adequada.

Novas prioridades
Os caminhos para a reversão das expectativas passam, inicialmente, por mudanças ministeriais. O que está em jogo não é a figura do ministro A ou B. É tal o grau de descrédito em relação ao comando da economia, que o BC está imobilizado.
Os próximos meses serão um desafio administrativo redobrado, com a redefinição das metas de déficit público, renegociação das dívidas com os Estados, administração de expectativas de mercado e, principalmente, de reversão das prioridades.
A preocupação exclusiva com os credores internacionais produziu duas fendas fundas na credibilidade do presidente. Uma, o distanciamento do seu povo -mesmo daqueles que o elegeram para o segundo mandato. Outra, a desconfiança da própria comunidade financeira internacional, para com um país que não trata adequadamente seus problemas.
Por isso mesmo, a reversão dessas expectativas depende de uma nova definição de política econômica, que coloque os problemas nacionais no centro das preocupações do governo.
A próxima rodada de negociações com os governadores será uma boa oportunidade para se estabelecer um novo pacto que tenha como objetivo principal uma guinada nas prioridades públicas.
É hora de pensar seriamente em um encontro de contas, inclusive com a utilização do estoque de estatais a serem privatizadas, para solucionar a questão da previdência pública e privada.
Se houver competência, coragem e desprendimento para atravessar os próximos seis meses, haverá condições objetivas para que a mudança de patamar cambial comece a trazer resultados concretos no segundo semestre, de melhoria da atividade econômica e do emprego.
Mas se não houver garantias de boa gestão da economia nesse período, será impossível segurar as expectativas por tanto tempo.

Hora da verdade
A hora dos rompantes é sempre mais fácil que a hora da verdade. A hora da verdade do governador Itamar Franco virá nos próximos meses, quando, gasto o dinheiro do IPVA, o governador terá que se ver com seus próprios demônios: um Estado operacionalmente deficitário, que exigirá redução substancial nos gastos com a folha.

Garotinho
O discurso otimista do governador carioca, Antony Garotinho, na posse de Pio Borges, na presidência do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), é o sinal mais substantivo até agora feito em direção a um pacto de governabilidade no país.


E-mail: lnassif@uol.com.br



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