São Paulo, domingo, 28 de fevereiro de 1999

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CONJUNTURA
Se governo fizer sua parte, o país pode recuperar-se no ano 2000
Brasil deve encolher 4% em 99, diz banco espanhol

VANESSA ADACHI
enviada especial à Espanha

A economia brasileira deve encolher 4% em 99, mas, se o governo conseguir reduzir o buraco das contas públicas, o país terá, então, uma rápida recuperação já no ano 2000.
Essa é a previsão do economista-chefe do Banco Bilbao Vizcaya na Espanha, Miguel Sebastián Gascón. "Este vai ser um ano muito duro para o Brasil, mas, no melhor cenário, o país poderá ter uma recuperação do PIB à la Coréia", afirmou ele ontem em Bilbao, no norte da Espanha, quando foram divulgados os resultados de 98 do banco. No ano passado, o BBV assumiu o brasileiro Excel Econômico.
Gascón se referiu à Coréia porque o país teve uma recessão profunda, porém rápida, depois da crise financeira de 97.
Para ele, o melhor cenário seria aquele em que a forte desvalorização inicial do real ("overshooting") fosse corrigida em parte, a taxa de inflação não ficasse muito elevada e o pacote fiscal fosse implementado.
Para Gascón, o problema brasileiro agora é político. "O diagnóstico econômico é muito fácil, não é difícil como no Japão. Qualquer aluno meu do terceiro ano resolve o problema do Brasil: é preciso reduzir o déficit fiscal", afirmou ele.
O BBV, que tem bancos em nove países da América Latina, prevê que apenas Argentina e Uruguai serão duramente afetados pela crise brasileira. "A Argentina também deverá ter uma queda do PIB (Produto Interno Bruto), próximo a zero", disse Gascón. Excluindo Brasil e Argentina, o restante da região deverá crescer 2% em 99.
Apesar do cenário negativo, o banco diz não ter alterado seus planos para a região, nem mesmo para o Brasil. "Somos um grupo estratégico, pensamos no longo prazo. Somos como agricultores e não como caçadores, nos assentamos", disse José Ignácio Goirigolzarri, diretor-geral do BBV para América e Europa.
Goirigolzarri informou que, dos US$ 1,55 bilhão já levados pelo banco ao Brasil, US$ 853 milhões foram afetados pela desvalorização, o equivalente ao que já foi injetado no BBV Brasil.
Os outros US$ 700 milhões, que correspondem a uma reserva para expansão futura, estão em uma conta em dólares e foram protegidos.
Goirigolzarri não quis detalhar o impacto da desvalorização sobre o investimento no país e sua expectativa de retorno. "Quando se está investindo para o longo prazo, não se mostra grande alegria quando há uma valorização da moeda local nem grandes tristezas com uma desvalorização", disse ele.
O BBV anunciou um lucro global de US$ 1,095 bilhão em 98, o que representou um crescimento de 25% sobre o resultado do ano anterior. Emilio Ybarra, presidente mundial do banco, classificou o resultado de "brilhante". O resultado da filial brasileira entrou na conta apenas a partir do último trimestre do ano e não foi especificado no anúncio.
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A jornalista Vanessa Adachi viajou a convite do Banco Bilbao Vizcaya.



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