São Paulo, domingo, 28 de fevereiro de 1999

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Economia recuará até 5%, diz Gilet


Folha - A Usinor adquiriu o controle da Acesita pouco antes do início da crise. O que muda para a empresa?
Jean-Yves Gilet -
Quando entramos no Brasil, ninguém pensava na possibilidade de queda na economia brasileira. Agora, achamos que a economia vai cair entre 4% e 5% em 1999. Consideramos que este ano será de consolidação de resultados. Ficamos calmos porque sabemos que será um ano complicado. O ano de 99 será uma transição. Para uma indústria como a nossa, de longo prazo, o mais difícil de superar é uma estagnação por dois a três anos. Mas, segundo os economistas, o mercado vai cair na primeira parte do ano e se recuperar no segundo semestre.
Folha - Qual o impacto da desvalorização sobre a Acesita e a CST?
Gilet -
O ambiente mudou, mas os planos da Usinor permanecem inalterados porque o interesse da empresa no Brasil é a longo prazo. Mesmo com a desvalorização, vamos manter um investimento na CST de US$ 450 milhões num novo laminador a quente (para produzir produtos intermediários para a indústria automobilística). Não é usual decidir investimentos desse tamanho num período de turbulência, mas temos confiança no futuro da economia. A tática de curto prazo muda um pouco, mas a visão de longo prazo não será alterada.
Folha - Como fica a dívida da Acesita em dólares?
Gilet -
Quando nós compramos a Acesita, em setembro do ano passado, injetamos mais de R$ 1 bilhão na empresa. Mais de 90% do dinheiro foi usado para abater dívidas. Os débitos em moeda norte-americana caíram de 67% para 60% das dívidas totais da empresa. Hoje, a Acesita (incluindo empresas do grupo como Acesita energética e Sifco) deve R$ 850 milhões. Quase 50% da dívida total é a curto prazo.
Folha - Como a Acesita vai lidar com o aumento da dívida, uma vez que o faturamento da empresa é de R$ 600 milhões, menor do que o débito?
Gilet -
A dívida é um instantâneo imediato. Mas a Acesita vai ganhar com a desvalorização. Nos últimos anos, os produtos importados tinham 25% de nosso mercado. Vamos recuperar de 5% a 7% do que havíamos perdido. Parte de nossos clientes vai nacionalizar a produção de peças porque a importação ficou cara e nós podemos fornecer a matéria-prima, o aço inox. Além disso, vamos aumentar nossas exportações para a América do Sul, EUA e Europa em 60%. Na soma geral, as vendas da Acesita vão crescer 10% em 1999. Também vamos vender participações em empresas que não fazem parte do foco principal do nosso negócio, como ações da Elevadores Atlas e a Sifco. Devemos arrecadar entre R$ 100 milhões e R$ 150 milhões com as vendas.
Folha - Como fica a situação da CST que tem mais de US$ 1 bilhão em dívidas?
Gilet -
Quase toda a produção da CST é para exportação e, portanto, a receita é em dólares. Mas apenas pouco mais da metade dos custos são em reais. O efeito da desvalorização cambial é positivo. Da dívida de US$ 1 bilhão, 30% é a curto prazo. Mas não haverá problema porque a empresa tem proteção natural que são as vendas para o exterior. Pagamos as dívidas em dólar com as receitas de exportação.
Folha - Como tem sido o desempenho das vendas?
Gilet -
Até agora, as vendas não caíram. Não tenho bola de cristal, mas imagino que teremos pequeno crescimento nas vendas em 1999. Não estamos vendo uma crise no mercado de aço. Há uma explicação. No ano passado, houve uma antecipação da crise porque muitas empresas diminuíram suas encomendas devido à crise russa e ao aumento da taxa de juros. Agora, as empresas estão com estoques baixos e devem fazer novas encomendas. Não deve ser um aumento grande porque os juros continuam muito altos.
Folha - O novo investimento da CST permitirá que a empresa prepare produtos mais elaborados, próprios para a indústria automobilística. Segundo analistas financeiros não há mercado para tanto produto...
Gilet -
As montadoras vão passar a exportar mais do que importam daqui para a frente. Se a demanda nacional cair, as exportações vão compensar a queda, em parte. Além disso, quando o investimento estiver pronto, em janeiro de 2002, o mercado precisará de capacidade produtiva adicional.
Folha - Qual é a estratégia da CST? A empresa pretende investir na fabricação de produtos ainda mais elaborados para fabricação de carros? Vai competir diretamente com a CSN e a Usiminas, que dominam esse mercado?
Gilet -
A estratégia da Usinor não é ficar só na primeira etapa de fornecimento para as montadoras. Num prazo não definido, teremos uma estratégia de produção para produtos mais acabados para a indústria automobilística. Com certeza, vamos fazer isso em parcerias. A entrada da Usinor no Brasil não é uma guerra. A Usinor não quer complicar ou destruir o mercado. Na Europa, a Usinor é um ator indispensável da indústria automobilística. A Usinor fornece 30% dos produtos planos usados pelas montadoras.
Folha -A Usinor tem planos de investimento para a Acesita?
Gilet -
Desde a privatização, em 1993, a Acesita investiu US$ 600 milhões. A maioria dos equipamentos são novos ou foram modernizados. Agora, a empresa pode fazer uma pausa nos investimentos. Isso foi decidido antes da desvalorização. Só faremos investimentos relativamente pequenos, de US$ 50 milhões. As melhorias agora vão depender de aumento de produtividade.
Folha - Alguns especialistas dizem que a empresa está com uma capacidade de produção maior do que o mercado brasileiro...
Gilet -
O mercado brasileiro consome de 130 mil a 180 mil toneladas de aço inox por ano. A capacidade da Acesita, em meados do ano 2000, será de 230 mil toneladas. Mas isso faz parte da nossa estratégia de longo prazo de exportações. As vendas externas representam 16% do faturamento e devem subir, em 1999, para 25%. Temos que considerar também que a Acesita é a única produtora de aço inox da América do Sul e, portanto, não se restringe ao mercado brasileiro.
Folha - A empresa vai aumentar o preço de seus produtos?
Gilet -
Parte de nossos custos são matérias-primas com custo em dólar, como o níquel. Por isso, teremos de aumentar preços em reais. A elevação vai depender dos produtos e deve variar entre 15% e 18%. Serão aumentos gradativos.



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