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Economia recuará até 5%, diz Gilet
Folha - A Usinor adquiriu o controle da Acesita pouco antes do
início da crise. O que muda para a
empresa?
Jean-Yves Gilet - Quando entramos no Brasil, ninguém pensava
na possibilidade de queda na economia brasileira. Agora, achamos
que a economia vai cair entre 4% e
5% em 1999. Consideramos que este ano será de consolidação de resultados. Ficamos calmos porque
sabemos que será um ano complicado. O ano de 99 será uma transição. Para uma indústria como a
nossa, de longo prazo, o mais difícil de superar é uma estagnação
por dois a três anos. Mas, segundo
os economistas, o mercado vai cair
na primeira parte do ano e se recuperar no segundo semestre.
Folha - Qual o impacto da desvalorização sobre a Acesita e a CST?
Gilet - O ambiente mudou, mas
os planos da Usinor permanecem
inalterados porque o interesse da
empresa no Brasil é a longo prazo.
Mesmo com a desvalorização, vamos manter um investimento na
CST de US$ 450 milhões num novo
laminador a quente (para produzir
produtos intermediários para a indústria automobilística). Não é
usual decidir investimentos desse
tamanho num período de turbulência, mas temos confiança no futuro da economia. A tática de curto
prazo muda um pouco, mas a visão de longo prazo não será alterada.
Folha - Como fica a dívida da
Acesita em dólares?
Gilet - Quando nós compramos a
Acesita, em setembro do ano passado, injetamos mais de R$ 1 bilhão na empresa. Mais de 90% do
dinheiro foi usado para abater dívidas. Os débitos em moeda norte-americana caíram de 67% para
60% das dívidas totais da empresa.
Hoje, a Acesita (incluindo empresas do grupo como Acesita energética e Sifco) deve R$ 850 milhões.
Quase 50% da dívida total é a curto
prazo.
Folha - Como a Acesita vai lidar
com o aumento da dívida, uma vez
que o faturamento da empresa é
de R$ 600 milhões, menor do que o
débito?
Gilet - A dívida é um instantâneo
imediato. Mas a Acesita vai ganhar
com a desvalorização. Nos últimos
anos, os produtos importados tinham 25% de nosso mercado. Vamos recuperar de 5% a 7% do que
havíamos perdido. Parte de nossos
clientes vai nacionalizar a produção de peças porque a importação
ficou cara e nós podemos fornecer
a matéria-prima, o aço inox. Além
disso, vamos aumentar nossas exportações para a América do Sul,
EUA e Europa em 60%. Na soma
geral, as vendas da Acesita vão
crescer 10% em 1999. Também vamos vender participações em empresas que não fazem parte do foco
principal do nosso negócio, como
ações da Elevadores Atlas e a Sifco.
Devemos arrecadar entre R$ 100
milhões e R$ 150 milhões com as
vendas.
Folha - Como fica a situação da
CST que tem mais de US$ 1 bilhão
em dívidas?
Gilet - Quase toda a produção da
CST é para exportação e, portanto,
a receita é em dólares. Mas apenas
pouco mais da metade dos custos
são em reais. O efeito da desvalorização cambial é positivo. Da dívida
de US$ 1 bilhão, 30% é a curto prazo. Mas não haverá problema porque a empresa tem proteção natural que são as vendas para o exterior. Pagamos as dívidas em dólar
com as receitas de exportação.
Folha - Como tem sido o desempenho das vendas?
Gilet - Até agora, as vendas não
caíram. Não tenho bola de cristal,
mas imagino que teremos pequeno crescimento nas vendas em
1999. Não estamos vendo uma crise no mercado de aço. Há uma explicação. No ano passado, houve
uma antecipação da crise porque
muitas empresas diminuíram suas
encomendas devido à crise russa e
ao aumento da taxa de juros. Agora, as empresas estão com estoques
baixos e devem fazer novas encomendas. Não deve ser um aumento grande porque os juros continuam muito altos.
Folha - O novo investimento da
CST permitirá que a empresa prepare produtos mais elaborados,
próprios para a indústria automobilística. Segundo analistas financeiros não há mercado para tanto
produto...
Gilet - As montadoras vão passar
a exportar mais do que importam
daqui para a frente. Se a demanda
nacional cair, as exportações vão
compensar a queda, em parte.
Além disso, quando o investimento estiver pronto, em janeiro de
2002, o mercado precisará de capacidade produtiva adicional.
Folha - Qual é a estratégia da
CST? A empresa pretende investir
na fabricação de produtos ainda
mais elaborados para fabricação
de carros? Vai competir diretamente com a CSN e a Usiminas, que dominam esse mercado?
Gilet - A estratégia da Usinor não
é ficar só na primeira etapa de fornecimento para as montadoras.
Num prazo não definido, teremos
uma estratégia de produção para
produtos mais acabados para a indústria automobilística. Com certeza, vamos fazer isso em parcerias. A entrada da Usinor no Brasil
não é uma guerra. A Usinor não
quer complicar ou destruir o mercado. Na Europa, a Usinor é um
ator indispensável da indústria automobilística. A Usinor fornece
30% dos produtos planos usados
pelas montadoras.
Folha -A Usinor tem planos de investimento para a Acesita?
Gilet - Desde a privatização, em
1993, a Acesita investiu US$ 600
milhões. A maioria dos equipamentos são novos ou foram modernizados. Agora, a empresa pode fazer uma pausa nos investimentos. Isso foi decidido antes da
desvalorização. Só faremos investimentos relativamente pequenos,
de US$ 50 milhões. As melhorias
agora vão depender de aumento de
produtividade.
Folha - Alguns especialistas dizem que a empresa está com uma
capacidade de produção maior do
que o mercado brasileiro...
Gilet - O mercado brasileiro consome de 130 mil a 180 mil toneladas
de aço inox por ano. A capacidade
da Acesita, em meados do ano
2000, será de 230 mil toneladas.
Mas isso faz parte da nossa estratégia de longo prazo de exportações.
As vendas externas representam
16% do faturamento e devem subir, em 1999, para 25%. Temos que
considerar também que a Acesita é
a única produtora de aço inox da
América do Sul e, portanto, não se
restringe ao mercado brasileiro.
Folha - A empresa vai aumentar o
preço de seus produtos?
Gilet - Parte de nossos custos são
matérias-primas com custo em
dólar, como o níquel. Por isso, teremos de aumentar preços em
reais. A elevação vai depender dos
produtos e deve variar entre 15% e
18%. Serão aumentos gradativos.
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