São Paulo, domingo, 28 de fevereiro de 1999

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MERCADO TENSO
País ficou em 1º lugar em 97, quando lançou R$ 16 bi em títulos no exterior; em 98, valor foi de R$ 8,4 bi
Brasil cai para 4º lugar na captação externa

FERNANDO RODRIGUES
da Sucursal de Brasília

Depois de ser o campeão entre os países emergentes na captação de dinheiro lançando títulos no exterior em 97, o Brasil caiu para quarto lugar em 98. O país ficou atrás de Argentina, Rússia e México.
Essas informações constam de um relatório divulgado semana passada pela corretora Merrill Lynch a seus clientes.
Em 98, as empresas privadas brasileiras e o governo federal lançaram no exterior títulos num valor total de US$ 8,4 bilhões.
Esses títulos são a forma mais popular de contrair dívida externa. Diferentemente dos empréstimos bancários, os países ou empresas emitem um bônus que é comprado por investidores no exterior. Depois de lançado, o papel é vendido inúmeras vezes no mercado.
No caso do Brasil, os títulos externos foram uma fonte de financiamento barato para as empresas nos primeiros quatro anos do governo FHC. Os juros no país sempre estiveram mais altos do que os cobrados internacionalmente.
Em 97, o Brasil captou cerca de US$ 16 bilhões lançando títulos no exterior. O país foi o maior emissor desse tipo de dívida naquele ano.
Os US$ 8,4 bilhões de títulos brasileiros do ano passado fizeram o país cair para a quarta colocação - atrás da Argentina (US$ 15,9 bilhões), da Rússia (US$ 12,1 bilhões) e do México (US$ 8,9 bilhões).
Não foi apenas o Brasil que conseguiu lançar menos títulos no exterior no ano passado. A moratória russa (agosto de 98) funcionou como um freio no mercado.
Em 98, os países emergentes lançaram US$ 73,7 bilhões em títulos. Em 97, o valor havia atingido US$ 89,4 bilhões, segundo o relatório.
Essa redução de títulos fez com que o mercado recuasse para o volume igual ao emitido em 96. A América Latina foi a grande perdedora nos últimos três anos.
Em 96, os países latino-americanos abocanharam 74% do mercado. No ano passado, 55%.
Os investidores estão direcionando suas aplicações para outras regiões do planeta. Os países mais favorecidos por essa mudança de direção são os da Europa Central -responsáveis por 30% dos títulos lançados no ano passado. Em 96, essa parte do globo ficava só com 9% das emissões de bônus.
Outra mudança significativa é a natureza do emissor dos papéis. Enquanto em 96 os governos eram responsáveis por 59% dos títulos emitidos por países emergentes, hoje o percentual pulou para 71%.
Isso significa que os investidores estão mais cautelosos na hora de aceitar a emissão de novos papéis. O governo de um país é sempre considerado um devedor de menor risco do que uma empresa.
Para 99, a Merrill Lynch não faz previsões, mas nota que há forte presença de governos nas poucas emissões realizadas em janeiro.
Dos US$ 2,3 bilhões de bônus lançados em janeiro, apenas um caso envolvia uma empresa.
Para o Brasil, o mercado está fechado no momento. É interessante notar que a crise brasileira está afetando países latinos, como a Argentina e o México, mas não a ponto de impedir que esses países fiquem fora do mercado de títulos.
Em dezembro, antes da desvalorização do real, o Brasil lançou apenas um papel (o banco ABN Amro). Mas a Argentina conseguiu fazer nove emissões. O México lançou seis títulos.
Neste ano, o Brasil continua fora do mercado. Os governos da Argentina e do México já conseguiram fazer emissões em fevereiro.



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