São Paulo, Domingo, 28 de Março de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

COMÉRCIO EXTERIOR
Estrangeiros temem emprestar para futuro concorrente
Privatização do Banespa faz secar linhas de crédito

MARA LUQUET
Editora do Folhainvest

O Banespa, que já desempenhou papel importante no financiamento do comércio exterior brasileiro, tem atualmente uma participação pífia nesse mercado. O volume de linhas comerciais da carteira do Banespa, atualmente, é de parcos US$ 20 milhões.
A cifra corresponde a 2% do volume histórico de linhas estrangeiras com que o Banespa costumava contar no passado (cerca de US$ 1 bilhão).
O que afasta os bancos estrangeiros do Banespa é a perspectiva de sua privatização.
"Os bancos podem estar emprestando dinheiro para um possível concorrente, porque ninguém sabe ainda quem será o controlador do Banespa", diz Antônio José Barreto, diretor da área internacional do banco.

Mercado de câmbio
O Banespa, segundo analistas, já teve cerca de 25% do mercado de câmbio no passado; hoje, sua participação é de 0,04%.
Dados do Banco Central mostram que, no final do ano passado, o Banespa estava na 13ª posição no ranking dos maiores financiadores das exportações brasileiras. No topo estava o Banco do Brasil.
Nos últimos meses, o Banespa pode ter descido alguns degraus nesse ranking, pois, a cada vencimento de operação, o banco não consegue renovar a linha e, portanto, perde mais espaço nesse mercado.
"Estamos tentando captar linhas internacionais, mas não estamos conseguindo", diz Barreto.

Turbulência
É certo que a turbulência dos mercados internacionais a partir da crise asiática de 97 e o aumento da percepção do risco brasileiro contribuíram para que o volume de linhas estrangeiras direcionadas ao país caíssem bastante nos últimos meses.
Observadores desse mercado estimam que os US$ 55 bilhões que costumavam irrigar o mercado brasileiro foi reduzida, no primeiro trimestre deste ano, para menos de US$ 30 bilhões.
Nos últimos dias, houve uma melhora sensível no fornecimento de linhas de bancos estrangeiros para o país. Mas nem assim o cenário melhorou para o Banespa, pelo menos na área de captação de recursos no exterior.

Novas captações
O Unibanco, terceiro no ranking dos bancos que financiam as exportações brasileiras, segundo o Banco Central, tinha uma taxa de renovação de linhas internacionais na ordem de 30%, no auge da crise, no final de janeiro. Nos últimos dias, contudo, o banco está conseguindo, não apenas renovar, mas também fazer novas captações.
"Não é um aumento significativo, mas estamos conseguindo mais recursos do que no mês passado", diz Sérgio Zappa, diretor das áreas internacional e de tesouraria do Unibanco.
Renato Faria, diretor de comércio exterior do Banco Real e do ABN-Amro Bank, diz que o volume maior de dinheiro para financiar o comércio exterior está direcionado às exportações. "Não digo que o mercado está uma maravilha, mas houve uma melhora considerável", diz Faria.

Custos
As linhas internacionais começam a reaparecer, mas o custo para os bancos ainda é alto. Em média, esse dinheiro custa aos bancos cerca de 3% mais a variação da Libor (taxa de juros interbancária de Londres).
Para o tomador final, os exportadores brasileiros, contudo, já é possível sentir diferença no custo desse empréstimo.
Há um mês, boas empresas chegaram a pagar 7% mais a variação da Libor; hoje, esses recursos custam entre 4% e 5% mais a variação da Libor, que estava a 5,02% (seis meses) na última sexta-feira.
"Nós estamos pagando 3% acima da Libor", diz Luis Murat, diretor financeiro da Sadia. A empresa, segundo ele, deve exportar, neste ano, algo em torno de US$ 400 milhões.


Texto Anterior: Luís Nassif: O gênio de Garoto do Banjo
Próximo Texto: Crédito é vital na exportação
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.