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COMÉRCIO EXTERIOR
Estrangeiros temem emprestar para futuro concorrente
Privatização do Banespa faz secar linhas de crédito
MARA LUQUET
Editora do Folhainvest
O Banespa, que já desempenhou
papel importante no financiamento do comércio exterior brasileiro,
tem atualmente uma participação
pífia nesse mercado. O volume de
linhas comerciais da carteira do
Banespa, atualmente, é de parcos
US$ 20 milhões.
A cifra corresponde a 2% do volume histórico de linhas estrangeiras com que o Banespa costumava
contar no passado (cerca de US$ 1
bilhão).
O que afasta os bancos estrangeiros do Banespa é a perspectiva de
sua privatização.
"Os bancos podem estar emprestando dinheiro para um possível
concorrente, porque ninguém sabe ainda quem será o controlador
do Banespa", diz Antônio José
Barreto, diretor da área internacional do banco.
Mercado de câmbio
O Banespa, segundo analistas, já
teve cerca de 25% do mercado de
câmbio no passado; hoje, sua participação é de 0,04%.
Dados do Banco Central mostram que, no final do ano passado,
o Banespa estava na 13ª posição no
ranking dos maiores financiadores
das exportações brasileiras. No topo estava o Banco do Brasil.
Nos últimos meses, o Banespa
pode ter descido alguns degraus
nesse ranking, pois, a cada vencimento de operação, o banco não
consegue renovar a linha e, portanto, perde mais espaço nesse
mercado.
"Estamos tentando captar linhas
internacionais, mas não estamos
conseguindo", diz Barreto.
Turbulência
É certo que a turbulência dos
mercados internacionais a partir
da crise asiática de 97 e o aumento
da percepção do risco brasileiro
contribuíram para que o volume
de linhas estrangeiras direcionadas ao país caíssem bastante nos
últimos meses.
Observadores desse mercado estimam que os US$ 55 bilhões que
costumavam irrigar o mercado
brasileiro foi reduzida, no primeiro trimestre deste ano, para menos
de US$ 30 bilhões.
Nos últimos dias, houve uma
melhora sensível no fornecimento
de linhas de bancos estrangeiros
para o país. Mas nem assim o cenário melhorou para o Banespa, pelo
menos na área de captação de recursos no exterior.
Novas captações
O Unibanco, terceiro no ranking
dos bancos que financiam as exportações brasileiras, segundo o
Banco Central, tinha uma taxa de
renovação de linhas internacionais
na ordem de 30%, no auge da crise,
no final de janeiro. Nos últimos
dias, contudo, o banco está conseguindo, não apenas renovar, mas
também fazer novas captações.
"Não é um aumento significativo, mas estamos conseguindo
mais recursos do que no mês passado", diz Sérgio Zappa, diretor
das áreas internacional e de tesouraria do Unibanco.
Renato Faria, diretor de comércio exterior do Banco Real e do
ABN-Amro Bank, diz que o volume maior de dinheiro para financiar o comércio exterior está direcionado às exportações. "Não digo
que o mercado está uma maravilha, mas houve uma melhora considerável", diz Faria.
Custos
As linhas internacionais começam a reaparecer, mas o custo para
os bancos ainda é alto. Em média,
esse dinheiro custa aos bancos cerca de 3% mais a variação da Libor
(taxa de juros interbancária de
Londres).
Para o tomador final, os exportadores brasileiros, contudo, já é
possível sentir diferença no custo
desse empréstimo.
Há um mês, boas empresas chegaram a pagar 7% mais a variação
da Libor; hoje, esses recursos custam entre 4% e 5% mais a variação
da Libor, que estava a 5,02% (seis
meses) na última sexta-feira.
"Nós estamos pagando 3% acima da Libor", diz Luis Murat, diretor financeiro da Sadia. A empresa,
segundo ele, deve exportar, neste
ano, algo em torno de US$ 400 milhões.
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