São Paulo, Domingo, 28 de Março de 1999
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AGRICULTURA
Safra atual foi plantada quando o dólar estava mais baixo, mas preço dos insumos sentiu mudança cambial
Próximo plantio terá custos mais altos

da Reportagem Local

O agricultor deve redobrar a sua atenção em relação ao plantio da safra de inverno, a partir de maio, quando, certamente, o aumento no custo de produção será sentido em seu bolso.
Essa é a avaliação das principais cooperativas e sindicatos de produtores de diversas regiões agrícolas do país.
A desvalorização do real aconteceu num momento em que a maior parte dos agricultores já havia utilizado os insumos.
O plantio foi feito no final do ano passado, quando o dólar estava ainda contido pela política cambial anterior, de minidesvalorizações.
Esse é um dos principais fatores que devem garantir um aumento de receita agrícola nesta colheita.
"Porém, quando for preparar a terra para um novo plantio, o agricultor encontrará uma outra realidade no mercado", afirma Getúlio Pernambuco, economista, assessor técnico da CNA (Confederação Nacional da Agricultura).

Insumo importado
Todos os insumos, como defensivos agrícolas e fertilizantes, tiveram aumento de preços depois da valorização do real.
Cerca de 50% da matéria-prima aplicada na fabricação de fertilizante é importada, assim como 90% da dos agrotóxicos.
Diante da queda do real, o agricultor assistiu a uma série de reajustes de preços dos insumos, segundo Flávio Turra, economista da Ocepar (Organização das Cooperativas do Paraná).
O atraso e a redução na liberação de recursos do governo fez com que muitos produtores rurais recorressem a empréstimos das empresas produtoras, como é o caso de boa parte dos plantadores de algodão do Centro-Oeste.
Essas dívidas começam a ser quitadas com a entrada dessa colheita, tendo como base de cálculo a cotação diária do dólar.

Safra de inverno
Os primeiros agricultores que já sentiram esse impacto são os do milho-safrinha, os de cevada e os de trigo, entre outras, as chamadas culturas de inverno.
"Há uma incógnita. Não sabemos ainda se os ganhos com essa safra de verão irão garantir os investimentos necessários em insumos para a próxima safra de inverno", afirma Turra.
Alguns economistas acreditam que a rentabilidade de culturas como o trigo, o algodão e até mesmo a soja poderá ser reduzida diante dos investimentos necessários em novos plantios.

Queda do dólar
Mesmo as perspectivas de queda do dólar, como ocorreu com intensidade na semana passada, não deverão aliviar o bolso do produtor, na avaliação das cooperativas agrícolas.
Isso porque o agricultor comprou seus insumos com o dólar sendo cotado em alta.
Ele poderá ter que vender seus alimentos com a moeda norte-americana cotada a um valor mais baixo, o que deve facilitar a importação, aumentando a concorrência com produtos de fora.
Na avaliação de economistas, essa fato pode provocar queda de preços dos nacionais, além de dificultar as exportações brasileiras.
Há ainda alguns segmentos alimentícios, como é o caso do milho, do feijão e do arroz, chamados de produtos domésticos, pelo fato de não serem exportáveis, que estão obtendo preços semelhantes ou mais baixos do que os da safra passada, segundo produtores.
Ainda segundo economistas, o aumento da produção desses grãos nesta temporada tende a favorecer esse comportamento estável ou de queda de preços.
(ROBERTO DE OLIVEIRA)

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