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CRISE RUSSA
Socorro suspenso há sete meses volta a ser discutido, mas ação da Otan e desvio de US$ 4,8 bi complicam acordo
Rússia e FMI retomam as negociações
JOSÉLIA AGUIAR
da Redação
Rússia e FMI voltam a negociar,
neste final de semana, um socorro
financeiro que está ao mesmo tempo prometido e suspenso há sete
meses.
Em 17 de agosto passado, poucos
dias depois de receber a parcela de
US$ 4,8 bilhões de uma ajuda prevista de US$ 23 bilhões, a Rússia
declarou a moratória de sua dívida
e desvalorizou a moeda, tornando-se o epicentro de uma crise que se
alastrou pela América Latina e
atingiu o Brasil.
Agora, o país não tem dinheiro
para pagar nem mesmo os US$ 4,8
bilhões do FMI e do Banco Mundial que começam a vencer nos
próximos meses.
Michel Camdessus, diretor-presidente do FMI, chega a Moscou
em um cenário político que não
podia ser mais desfavorável a um
acordo. A Rússia se opõe ao bombardeio que a Otan (ação militar
ocidental) iniciou na quarta-feira
contra a Iugoslávia, em represália à
negativa do governo sérvio em assinar o acordo de paz na província
separatista do Kosovo.
O premiê russo, Evguêni Primakov, cancelou seu vôo para Washington para uma reunião com o
FMI assim que soube da decisão da
Otan, que é apoiada justamente
pelas nações que lideram o socorro
financeiro à Rússia.
Desde que a ajuda financeira foi
suspensa, a Rússia tenta em vão
convencer o FMI a liberar os recursos. Desse acordo depende, principalmente, a recuperação da confiança dos credores externos, com
os quais o país também precisa renegociar sua dívida e acertar novos
empréstimos -ao menos US$ 7
bilhões este ano, como prevê o novo Orçamento.
O FMI acusa a Rússia de ter feito
pouco até agora para atender às
suas solicitações. O próprio Orçamento, que o Parlamento russo
acaba de aprovar, foi duramente
criticado pelo organismo financeiro. O país vem fracassando em sua
tentativa de acabar com os problemas crônicos de sua economia, o
excesso de gastos e a má arrecadação, que o levaram a depender de
capital externo para fechar suas
contas mensais.
Em agosto passado, no auge da
crise, o país tinha de pagar cerca de
US$ 1 bilhão a cada semana. Era
praticamente o mesmo que somava a sua arrecadação mensal, inferior à da cidade de Nova York sozinha. As reformas fiscal e bancária
não avançaram. A Rússia ainda
não conseguiu impôr disciplina às
suas oligarquias e acabar com a
corrupção endêmica.
Sem credibilidade, o país ainda
recebeu na última semana a acusação de ter usado indevidamente os
US$ 4,8 bilhões enviados pelo FMI
no ano passado.
O secretário do Tesouro norte-americano, Robert Rubin, disse na
quinta-feira que suspeitava que o
dinheiro havia sido usado irregularmente.
Foi a primeira acusação direta os
EUA ao país. Rubin se referiu à fuga feroz de capitais pouco antes da
moratória e da desvalorização do
rublo.
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