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CONFLITO INTERNO
Mantega discorda de velocidade da queda dos juros sinalizada pelo comitê; Meirelles reclama com Lula, que o apóia
Ata do Copom gera atrito entre Fazenda e BC
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
MARCELO BILLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Aconteceu ontem o primeiro
grande conflito entre a Fazenda e
o Banco Central desde a substituição de Antonio Palocci por Guido
Mantega no comando da equipe
econômica, em 27 de março.
Após o BC sinalizar ontem que
pode reduzir a intensidade da
queda dos juros, Mantega disse na
Fiesp que há espaço de sobra para
continuar cortando a taxa Selic.
Apesar de concordar com o
conteúdo das declarações de
Mantega, o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva reprovou a forma
dos comentários, públicos e numa linha contrária ao BC.
O presidente do Banco Central,
Henrique Meirelles, e diretores da
instituição ficaram contrariados.
Meirelles fez chegar a Lula que,
com declarações assim, Mantega
só contribuiria para dificultar o
processo de queda dos juros.
Com a fama de "desenvolvimentista" de Mantega, Meirelles
ganhou força no governo por ser
visto pelo mercado como um fiador das políticas implementadas
na gestão Palocci. Lula não quer
mercados tensos em ano eleitoral.
Meirelles já vem tendo dificuldades internas com alguns diretores, especialmente Afonso Bevilaqua (Política Econômica), que só
ficou na equipe após a saída de
Palocci por insistência do presidente do Banco Central.
Diretores do BC disseram ter
"saudade" de Palocci, que, nas declarações públicas, sempre defendia a política monetária, ainda
que tivesse discordâncias e as manifestasse nos bastidores.
A Folha apurou que Lula pretende ter uma conversa com
Mantega para pedir que evite colisões com o BC. O presidente deseja chegar à fase mais importante
da campanha eleitoral com a menor taxa de juros nominal e real
da história recente do país. Meirelles tem feito articulações no BC
para tentar atingir esse objetivo.
Ao dar declarações que se chocaram frontalmente com a ata do
BC, Mantega atrapalha a negociação entre Lula e Meirelles. Um
conflito com Mantega só reforçará a ortodoxia do BC quando a
margem de manobra de Meirelles
é pequena.
Mínimo e inflação
Segundo a Folha apurou, Meirelles disse a Lula que a entrada de
recursos na economia com a elevação do salário mínimo de R$
300 para R$ 350 a partir de abril
gerará uma leve pressão nos preços que contribuirá para que a inflação do ano convirja para a meta
de 4,5%. Hoje, as previsões dão
conta de uma inflação ligeiramente menor que a meta.
Ou seja, haverá aquecimento da
economia a partir de agora, quando esquenta também a campanha
eleitoral, que será combatido sem
elevação dos juros. Daí as menções cautelosas do BC na ata da
reunião da semana passada do
Copom (Conselho de Política
Monetária do BC), divulgada ontem.
Na ata, o BC diz que reduzirá os
juros "com mais parcimônia" a
partir de agora. Mantega, que participava de reunião do CDES
(Conselho de Desenvolvimento
Econômico e Social) na Fiesp, em
São Paulo, disse que a ata pode ser
interpretada de várias maneiras e
que, dado o cenário atual, nada
indica que os juros não possam
continuar caindo.
"[A redução do ritmo de queda
dos juros] é apenas uma das interpretações possíveis. É claro que há
uma posição de cautela, mas como as metas estão sendo alcançadas, vai haver uma redução da taxa de juros e aumento do crédito",
disse Mantega.
O ministro não comentou o ritmo em que os juros cairiam, disse
que "essa é uma atribuição do Copom". Mas insinuou que não há
motivo para não esperar novas
quedas. "Como eles [os técnicos
do Copom] se pautam pela lógica
e são bons analistas econômicos,
eles estão vendo o que está acontecendo. Não há nada, nenhuma
pressão inflacionária que nos autorize a pensar que nós vamos
mudar de rota ou que vai haver
uma inflexão na política monetária", completou Mantega.
O ministro disse que se precipitou quem deduziu pelo conteúdo
da ata que os juros necessariamente cairão mais devagar. "O
mercado deduz uma coisa agora,
daqui a uma semana deduz outra." Apesar da insistência do ministro, a ata do Copom é clara.
Prega que "a flexibilização adicional da política monetária seja
conduzida com parcimônia".
"Vamos discutir isso ao longo do
tempo. Fiquem tranqüilos porque a taxa continuará caindo", repetiu o ministro da Fazenda.
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