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País entrou em recessão em 2008, diz comitê
Retração começou no último trimestre do ano passado, diz órgão recém-criado da FGV para determinar ciclos econômicos
Recessão interrompe 21 trimestres seguidos de crescimento, com alta acumulada de 30% no PIB, segundo nova metodologia
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
"Não há dúvida" de que o
Brasil entrou em recessão no
último trimestre de 2008, interrompendo 21 trimestres de
expansão continuada da economia, o mais longo ciclo de crescimento desde 1980, que gerou
incremento acumulado do PIB
de 29,9% -nível só verificado
na história recente no ciclo expansionista entre 1983 a 1987.
As conclusões são do Codace
(Comitê de Datação de Ciclos
Econômicos), criado pela FGV
(Fundação Getulio Vargas) para apoiar as decisões de política
monetária e de planejamento
das empresas. Iniciativa inédita no país, a criação do Codace
segue os moldes e a proposta de
comitê similar dos EUA, o
NBER (Escritório Nacional de
Pesquisa Econômica, na sigla
em inglês), que afirmou que
aquele país está em recessão
desde o final de 2007.
Relatora do Codace, a economista Marcelle Chauvet, professora da Universidade da Califórnia, disse que a decisão de
marcar o início da recessão no
Brasil não considera projeções
sobre o futuro da economia. Levou em conta, porém, indicadores que mostram que "não há
dúvida" sobre o declínio da economia por um período superior
a seis meses, segundo ela.
Esse é o prazo mínimo que o
comitê considera necessário
para determinar um novo ciclo,
de expansão ou recessão.
Segundo Régis Bonelli, pesquisador da FGV, o Brasil vive
claramente uma fase de recessão, e os indicadores de produção da indústria apontam uma
contração do PIB no primeiro e
no segundo trimestre deste
ano. Ele é também membro do
comitê, mas disse que essa opinião é sua, não do órgão.
O papel do Codace é analisar
o passado e determinar o começo e o fim dos ciclos econômicos, sem fazer projeções. Por isso, seus integrantes são econômicos na hora de fazer análises
prospectivas. Além de Bonelli e
Chauvet, mais cinco economistas integram o comitê de notáveis: Affonso Celso Pastore
(coordenador do grupo, ex-presidente do Banco Central), Dionísio Dias Carneiro (Casa das
Garças), João Victor Issler
(FGV), Marco Bonomo (FGV) e
Paulo Picchetti (FGV).
O grupo foi criado neste mês
e se reuniu na segunda-feira e
na terça-feira para discutir a
"datação" do atual ciclo e o cenário macroeconômico.
De acordo com Chauvet, a informação de quando o país entra numa fase recessiva ou expansionista é "fundamental"
para auxiliar o planejamento
das empresas e definir estratégias de estoques, investimentos
e produção. Pode também ajudar o governo na definição da
política monetária.
"Saber quando o país entrou
em recessão é fundamental para a política monetária. E enterra aquela regra sem fundamento econômico de que dois
PIBs negativos seguidos indicam recessão. É um dado importante para calibrar a política
de juros", disse Sérgio Vale,
economista da MB Associados.
Para Vale, outra vantagem é
que o comitê usa outros dados
para decretar se o país está ou
não em recessão -como produção, emprego e renda. "Acaba a centralidade do PIB", diz.
Sobre a duração do atual ciclo, Vale acredita que somente
ao final do segundo trimestre o
país poderá começar a sair da
recessão. "Não será uma recessão tão longa nem profunda como nos EUA. O mercado interno sustentará a economia."
Já Thaís Marzola Zara, economista da Rosenberg & Associados, diz que só em 2010 o
Brasil deixará a recessão para
trás e retomará os níveis de
produção anteriores ao quarto
trimestre de 2008. Ela já vê, porém, sinais de melhora a partir
do quarto trimestre deste ano.
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