São Paulo, quinta-feira, 28 de maio de 2009

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País entrou em recessão em 2008, diz comitê

Retração começou no último trimestre do ano passado, diz órgão recém-criado da FGV para determinar ciclos econômicos

Recessão interrompe 21 trimestres seguidos de crescimento, com alta acumulada de 30% no PIB, segundo nova metodologia


PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

"Não há dúvida" de que o Brasil entrou em recessão no último trimestre de 2008, interrompendo 21 trimestres de expansão continuada da economia, o mais longo ciclo de crescimento desde 1980, que gerou incremento acumulado do PIB de 29,9% -nível só verificado na história recente no ciclo expansionista entre 1983 a 1987.
As conclusões são do Codace (Comitê de Datação de Ciclos Econômicos), criado pela FGV (Fundação Getulio Vargas) para apoiar as decisões de política monetária e de planejamento das empresas. Iniciativa inédita no país, a criação do Codace segue os moldes e a proposta de comitê similar dos EUA, o NBER (Escritório Nacional de Pesquisa Econômica, na sigla em inglês), que afirmou que aquele país está em recessão desde o final de 2007.
Relatora do Codace, a economista Marcelle Chauvet, professora da Universidade da Califórnia, disse que a decisão de marcar o início da recessão no Brasil não considera projeções sobre o futuro da economia. Levou em conta, porém, indicadores que mostram que "não há dúvida" sobre o declínio da economia por um período superior a seis meses, segundo ela.
Esse é o prazo mínimo que o comitê considera necessário para determinar um novo ciclo, de expansão ou recessão.
Segundo Régis Bonelli, pesquisador da FGV, o Brasil vive claramente uma fase de recessão, e os indicadores de produção da indústria apontam uma contração do PIB no primeiro e no segundo trimestre deste ano. Ele é também membro do comitê, mas disse que essa opinião é sua, não do órgão.
O papel do Codace é analisar o passado e determinar o começo e o fim dos ciclos econômicos, sem fazer projeções. Por isso, seus integrantes são econômicos na hora de fazer análises prospectivas. Além de Bonelli e Chauvet, mais cinco economistas integram o comitê de notáveis: Affonso Celso Pastore (coordenador do grupo, ex-presidente do Banco Central), Dionísio Dias Carneiro (Casa das Garças), João Victor Issler (FGV), Marco Bonomo (FGV) e Paulo Picchetti (FGV).
O grupo foi criado neste mês e se reuniu na segunda-feira e na terça-feira para discutir a "datação" do atual ciclo e o cenário macroeconômico.
De acordo com Chauvet, a informação de quando o país entra numa fase recessiva ou expansionista é "fundamental" para auxiliar o planejamento das empresas e definir estratégias de estoques, investimentos e produção. Pode também ajudar o governo na definição da política monetária.
"Saber quando o país entrou em recessão é fundamental para a política monetária. E enterra aquela regra sem fundamento econômico de que dois PIBs negativos seguidos indicam recessão. É um dado importante para calibrar a política de juros", disse Sérgio Vale, economista da MB Associados.
Para Vale, outra vantagem é que o comitê usa outros dados para decretar se o país está ou não em recessão -como produção, emprego e renda. "Acaba a centralidade do PIB", diz.
Sobre a duração do atual ciclo, Vale acredita que somente ao final do segundo trimestre o país poderá começar a sair da recessão. "Não será uma recessão tão longa nem profunda como nos EUA. O mercado interno sustentará a economia."
Já Thaís Marzola Zara, economista da Rosenberg & Associados, diz que só em 2010 o Brasil deixará a recessão para trás e retomará os níveis de produção anteriores ao quarto trimestre de 2008. Ela já vê, porém, sinais de melhora a partir do quarto trimestre deste ano.


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