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OPINIÃO ECONÔMICA
Internacional da concorrência próxima a Cancún
GESNER OLIVEIRA
A três meses da Reunião Ministerial de Cancún, no México, a Rede Internacional da
Concorrência ("International
Competition Network") teve sua
segunda reunião em Mérida, no
mesmo Estado mexicano de Yucatán, a cerca de 300 quilômetros
de Cancún.
O tema da concorrência será
um dos itens na mesa de negociação de Doha. A Rede Internacional de Concorrência (Rede) reúne
quase uma centena de órgãos de
defesa da concorrência e oferece
uma boa idéia de como anda a
proteção dos mercados pelo mundo.
Defesa da concorrência é um assunto novo na maioria dos países.
Mais de dois terços dos membros
da Rede editaram sua legislação
na área há menos de uma década. Uma das razões da realização
da reunião no México foi o décimo aniversário da Comissão Federal de Concorrência daquele
país, o equivalente mexicano ao
Cade (Conselho Administrativo
de Defesa Econômica) no Brasil.
Um balanço realista da situação no mundo e em particular
nos países em desenvolvimento
revela muita legislação e entusiasmo, mas pouca implementação e disponibilidade de recursos.
No papel, a concorrência é fortíssima. Na prática dos mercados
dos países em desenvolvimento,
os avanços são modestos, para dizer o mínimo.
O presidente do México, Vicent
Fox, exaltou a concorrência e os
mercados ao fazer seu pronunciamento na reunião de Mérida.
Chamou atenção para o fato de
que o volume de comércio do México (exportações somadas às importações) supera a soma do comércio do restante da América
Latina. Mas tal grau de liberalização comercial não foi suficiente, por si só, para garantir maior
concorrência na economia.
Na Argentina, a situação é pior.
Embora a lei de defesa da concorrência do país preveja a criação
de um tribunal da concorrência, o
governo Kirchner até agora não
tomou providência nesse sentido.
No Brasil, apesar da alta qualidade das lideranças no Cade, Seae e
SDE, tais entidades não têm recebido a devida prioridade pelo governo Lula na hora da distribuição dos escassos recursos disponíveis.
A falta de atenção com as instituições da defesa da concorrência
e da regulação explica grande
parte das distorções da liberalização na América Latina e no Leste
Europeu. Os problemas associados a programas de privatização
residem precisamente na ausência de um marco regulatório adequado.
Além disso, o custo burocrático
de organismos desaparelhados e
a falta de harmonia entre as legislações são extremamente elevados. Segundo estudo da Pricewaterhouse distribuído aos participantes da Rede, a longa espera
pela autorização de fusões e aquisições representa cerca de 50%
dos custos associados a uma fusão
transnacional. Em casos em que a
transação é analisada por órgãos
de vários países, o custo pode ser
astronômico e acarretar espera de
mais de três anos!
Em contraste com as áreas de
política monetária e fiscal, não há
estatísticas sistemáticas sobre a
situação da concorrência nos vários países. Seria útil, por exemplo, desenvolver indicadores sobre a qualidade e a eficiência dos
serviços prestados pelas diferentes
agências de defesa da concorrência e de regulação. Tal relatório
mundial da concorrência, proposto na reunião da Rede, poderia conter uma classificação das
diferentes agências, promovendo
uma salutar competição entre
aqueles que estão habituados a
promover a concorrência dos outros.
Uma classificação dessa natureza daria mais objetividade ao debate que ora se trava no Brasil
acerca do papel das agências reguladoras ao permitir uma comparação entre o desempenho de
cada organismo, bem como com
os parâmetros internacionais. Da
mesma forma, permitiria uma
avaliação mais objetiva e transparente acerca do grau de concorrência em mercados tão diferentes quanto os de chocolate, serviços de telefonia e bancos.
O subinvestimento institucional
na defesa da concorrência não é
casual nem é exclusivo de países
em desenvolvimento, embora as
consequências sejam mais sérias
nesses últimos. O fenômeno decorre da ausência de grupos organizados que em cada jurisdição
nacional pressionem pela boa
maior oferta desse bem público
representado pela concorrência.
Um acordo internacional sobre a
matéria estabelecendo padrões de
qualidade e compromisso com o
combate ao abuso do poder econômico poderia atenuar essa distorção. Daí a conexão Mérida-Cancún.
Gesner Oliveira, 46, é doutor em economia pela Universidade da Califórnia
(Berkeley), professor da FGV-EAESP, sócio-diretor da Tendências e ex-presidente do Cade.
Internet: www.gesneroliveira.com.br
E-mail - gesner@fgvsp.br
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