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CRISE ASIÁTICA
Recessão provoca dispensa de 21 mil entre 175 mil descendentes de japoneses que foram do Brasil para lá
Dekasseguis viram sem-teto no Japão
MARCIO AITH
de Tóquio e de Hamamatsu
Eles saíram do Brasil para acumular poupança, mas foram atropelados pela maior turbulência
econômica japonesa desde a crise
do petróleo, em 1974-75.
Nos últimos 12 meses, a recessão
no Japão provocou a demissão de
21 mil dos 175 mil dekasseguis brasileiros que trabalhavam como
operários nos setores automobilístico, eletroeletrônico e de alimentação.
Famílias inteiras de brasileiros
estão desempregadas e viraram
sem-teto do outro lado do mundo,
disputando espaço debaixo de
pontes em cidades industriais como Hamamatsu ou nas estações
de Shinjuku e de Ueno, na capital,
Tóquio.
A crise está mudando o perfil de
uma comunidade na qual até 1995
não havia desemprego e compunha uma força de trabalho disputada "a tapa" por fornecedoras de
componentes para grandes companhias como Nissan, Sony, Canon, Sanyo e NEC.
"Só quero dinheiro para comprar minha passagem de volta",
diz Cícero T., paulista de 35 anos,
neto de japoneses demitido de
uma indústria de autopeças na
Província de Shizuoka, a 300 quilômetros de Tóquio. "Achei que
fosse enriquecer e encontrei o inferno", afirmou.
Junto com sua mulher -grávida
de quatro meses- e com outros
17 brasileiros, Cícero mora junto
de um rio canalizado que serve de
esgoto no centro de Hamamatsu.
Fim do sonho
"A época de ouro dos nikkeis
acabou", disse à Folha Hiroshi
Nomura, gerente do centro de estabilização de empregos do Japão,
administrado pelo Ministério do
Trabalho. "Faço um apelo para
que os brasileiros parem de vir.
Não há mais empregos", disse ele.
As ofertas de empregos para nikkeis -descendentes de japoneses
nascidos no exterior- despencaram de 354 por mês para 80. Os
empregos à disposição oferecem
metade da remuneração que os
brasileiros estavam acostumados
a ganhar. Além disso, passaram a
ser disputados por coreanos, tailandeses e malaios trabalhando
ilegalmente e dispostos a fazer
qualquer coisa para fugir da crise
em seus países.
Salários caem
Os brasileiros que conseguiram
manter seus postos de trabalho
deixaram de ganhar horas extras e
foram obrigados a aceitar a redução de seus salários. Recebem hoje, no máximo, 1.300 ienes por hora nas mesmas funções nas quais
ganhavam 1.500 ienes há dois
anos. As brasileiras ganhavam
1.200 ienes por hora de trabalho e
se contentam agora com 1.000.
A desvalorização do iene no último ano reduziu ainda mais o valor
de seus salários em dólar. Há dois
anos, os dekasseguis ajudavam o
governo brasileiro a fechar suas
contas externas com remessas de
US$ 2 bilhões. Estima-se que, em
1998, o valor não ultrapasse US$
1,2 bilhão.
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