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TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS
Apesar da crise, cresce o comércio mundial
GILSON SCHWARTZ
da Equipe de Articulistas
Apesar da crise asiática, em 1997
o comércio mundial não apenas
cresceu como bateu um recorde de
alta (de quantidades vendidas) em
mais de 20 anos (dados da Organização Mundial do Comércio).
O volume de exportações cresceu mais que o PIB desde o final
dos anos 80, e em geral essas duas
coisas andam na mesma direção.
Para cada economia, parece que
o principal fator explicativo de
suas vendas externas continua
sendo, muito simplesmente, o nível de demanda do resto do mundo. O problema, para boa parte
das economias da periferia, é que
os preços de suas mercadorias caíram. Ou seja, os volumes vendidos
podem ter aumentado, mas a preços declinantes.
Neste ano celebra-se o cinquentenário da Comissão Econômica
para a América Latina (Cepal). A
rigor, a Cepal ganhou celebridade
exatamente porque seus estudos
mostravam, no final dos anos 40,
que os países da periferia jamais
conseguiriam superar o atraso
porque havia uma deterioração de
seus "termos de troca", ou seja,
da relação entre os preços dos produtos que exportavam e os de produtos que precisavam importar.
Essa tendência à erosão competitiva dos preços de produtos primários servia como base para a
defesa de políticas de industrialização.
Agora, 50 anos depois, o fenômeno continua atual, e a periferia,
quando diminui o atraso, não alcança o Primeiro Mundo.
Entretanto, a tese cepalina da industrialização pode não estar totalmente equivocada. Veja-se a
Ásia. A turbulência continua e
ninguém se arrisca mais a dizer
quando estará superada. Mas já é
possível dizer que erraram os analistas que previram o colapso total
daquelas economias e a virtual paralisação de seu comércio exterior,
por falta de financiamento.
Ainda segundo a OMC, mesmo
que em 1998 ocorra uma queda de
25% na taxa de crescimento da
economia mundial, a expansão
mundial do comércio ainda ficará
acima da média registrada no início dos anos 90.
É nesse ponto que entra em ação
a visão da Cepal. Se o comércio
mundial de fato mantiver esse dinamismo, sairão antes da crise os
países exportadores de matérias-primas ou os mais industrializados, com tecnologias mais avançadas e mais integrados às empresas do Primeiro Mundo?
Aliás, é igualmente importante
notar que o comércio de manufaturas cresceu a taxas superiores às
do comércio global, apesar das
quedas de preços que também as
afetaram.
Peso asiático
Os dados da OMC, comandada
por Renato Ruggiero, parecem indicar que, se não houver um colapso financeiro maior, o ciclo de
recuperação poderá ser mais rápido que o hoje esperado. Tem havido exagero na avaliação do impacto da crise asiática no lado real da
economia mundial. A OMC lembra que os cinco países mais afetados pela crise asiática (Coréia, Malásia, Tailândia, Indonésia e Filipinas) têm um peso de no máximo
7% no comércio mundial.
Conclusão: o perigo maior está
no contágio financeiro, não no estritamente comercial.
Se as operações de socorro global continuarem, a profundidade
da crise pode diminuir. Resta saber se há no mundo fundos oficiais suficientes para socorrer tantos bancos, países e regiões.
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