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LUÍS NASSIF
A competição da gasolina
No último mês ocorreu um
episódio inédito no mercado de
distribuidores de combustíveis.
A Esso vendeu combustível a
seus postos pelo preço de tabela. Depois, entregou a alguns
deles cheques, representando
desconto sobre o preço acertado.
Pela primeira vez rompia-se
o acordo de preços e de mercado que historicamente marcou
o controle do mercado brasileiro de combustíveis pelas cinco
grandes distribuidoras: BR
Distribuidora, Ipiranga, Shell,
Texaco e Esso.
O que levou a essa situação
foi o surgimento de dezenas de
distribuidores independentes,
competindo em nível de mercado, como conseqüência da desregulamentação do setor, iniciada ainda no governo Collor.
Hoje, reunidas em uma associação de classe, 25 companhias independentes, distribuídas em 8 Estados, respondem
por 17% do mercado, com faturamento de US$ 1,7 bilhão e
investimentos da ordem de
US$ 180 milhões. Atendem a
mais de 2 mil postos (a Esso
tem 5.500 postos, e a Petrobrás,
8.000), têm 1.600 empregos diretos e presumíveis 8.500 indiretos.
A desregulamentação marcou o início efetivo da competição no setor. Mas a ela se atribui também um descontrole,
com a ampliação de gasolina
adulterada e sonegação de impostos.
Início da liberação
Antes da desregulamentação,
esse era um dos mercados mais
cartoriais do país. A distribuidora fazia estudos de mercado
e identificava áreas para a instalação de postos. Em seguida
selecionava o candidato a dono de posto e o financiava, em
troca de contratos de exclusividade de dez anos. Pelo contrato, o dono comprometia-se a
vender determinado volume de
litros por mês.
Com o tempo, o dono do posto percebia que a demanda estava subestimada. Tinha que
continuar adquirindo da distribuidora inicial, mesmo acima da cota inicialmente fixada, passando a arcar sozinho
com o investimento adicional
necessário.
Quando o mercado foi desregulamentado, as novas distribuidoras passaram a operar
sobre essa cota de suplementação, extra-acordo. Hoje em
dia, esse excedente representa
40% do mercado. Nos próximos três anos, deverá representar de 60% a 70%. O percentual tende a crescer porque os
postos não estão renovando
mais os contratos de exclusividade aos quais estavam amarrados.
Início da competição
Quando teve início a desregulamentação, as primeiras dificuldades surgiram no âmbito
do Departamento Nacional de
Combustíveis (DNC), com uma
série de diretores entrando e
tentando alterar a legislação,
para refazer a situação anterior.
O novo sindicato procurou o
ministro das Minas e Energia,
Raimundo Brito, avisando que
o mercado poderia se cartelizar novamente. De início, a luta foi desigual.
Na maior parte, as novas distribuidoras surgiram dos retalhistas, o segmento do comércio de combustíveis que vende
"picado" para empresas e
transportadoras. Em geral, é
um povo batalhador, mas sem
grande verniz político e sem
relacionamentos maiores. Nas
reuniões às quais compareciam, no Ministério das Minas
e Energia, os presidentes das
grandes distribuidoras entravam acompanhados do vice-presidente da República,
Marco Maciel, do PFL, partido
que indicou o ministro Raimundo Brito.
O ministro demonstrou correção no processo. Disse que
revogaria a portaria se o setor
provasse que não haveria sonegação, nem consumidor seria
enganado por misturas e falsificações.
Como a sede do sindicato é
em Curitiba, seus diretores
procuraram o governador Jaime Lerner e propuseram a
substituição tributária: isto é, o
imposto ser recolhido na própria refinaria. Lerner concordou.
Falsificação
O segundo desafio era a
questão da falsificação de
combustíveis. O sindicato
montou uma pesquisa nacional que demonstrou que apenas 2% dos consumidores buscavam o posto de acordo com a
bandeira. A maioria absoluta
buscava por proximidade ou
por conhecimento do dono. Logo, o ponto de fiscalização deveria ser o posto.
Quinze dias depois, em janeiro de 1997, a portaria que retornava à situação anterior foi
revogada por Brito, e a competição se implantou derrubando
um cartório de 50 anos.
Os dois problemas que existem hoje -sonegação e adulteração-necessitam ser combatidos. A sonegação surge de
distorções no processo judicial,
com juízes de primeira instância concedendo liminares para
que não haja a cobrança de
impostos na própria refinaria.
As denúncias saídas na imprensa têm inibido a ação desses juízes
Quanto à adulteração da gasolina, a decisão da Agência
Nacional de Petróleo de impor
multas de até R$ 5 milhões a
postos autuados deverá reduzir
sua incidência.
E-mail: lnassif@uol.com.br
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