São Paulo, domingo, 28 de junho de 1998

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FUNDOS SOCIAIS
Saques superam depósitos desde março de 97, pressionados por demissões, aposentadorias e casa própria
Déficit anual do FGTS já supera R$ 1 bilhão

GABRIEL J. DE CARVALHO
da Redação

Os saques do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) acumulados em 12 meses já superam em mais de R$ 1 bilhão os depósitos no mesmo período.
A arrecadação líquida acumulada em 12 meses vem registrando déficits desde setembro do ano passado. De lá para cá os resultados negativos foram sistematicamente crescentes (ver gráfico).
Antes de março de 97, déficits eram observados em um ou outro mês, segundo números da Caixa Econômica Federal (CEF). Desde então, viraram rotina.
Só não ocorreu resultado negativo em janeiro e fevereiro passados, mas pelo fato de serem períodos em que, tradicionalmente, a arrecadação dá um salto devido ao pagamento do 13º salário.
O FGTS tem patrimônio ao redor de R$ 50 bilhões. Nos últimos 12 meses até maio, os depósitos somaram R$ 14,20 bilhões, e os saques, R$ 15,23 bilhões, com déficit recorde de R$ 1,032 bilhão.

Motivos
Esse agravamento da situação financeira do FGTS tem relação, obviamente, com o aumento do desemprego no país. Vagas aparecem, mas sem carteira assinada.
No ano passado, dos R$ 13,6 bilhões sacados, R$ 7 bilhões tiveram como motivo a dispensa sem justa causa. Foram movimentadas 12,25 milhões de contas, 8,1 milhões delas devido a demissões.
A CEF atribui a arrecadação líquida negativa, além do desemprego, aos saques por aposentadoria e compra da casa própria.
Comparando-se as proporções em cima da quantidade de contas movimentadas, houve, de fato, crescimento nesses dois tipos de saque e relativa estabilidade no motivado por desemprego. Mas, quanto ao valor sacado, só a casa própria tem avanço expressivo.
Em 1995, por exemplo, os saques para casa própria corresponderam a 10,6% do total sacado. No ano passado chegaram a 16,9%.
Esse crescimento está relacionado à maior oferta de crédito imobiliário e ao esforço da CEF para quitação antecipada de dívidas.
As retiradas do FGTS por motivo de aposentadoria se mantiveram na faixa de 21% do valor retirado nos últimos três anos.
Para tirar conclusões, o primeiro trimestre é um período muito curto e influenciado por fatores sazonais, como férias e pós-Natal. Mas, se o que ocorreu de janeiro a março de 98 for o retrato do ano, a participação dos saques por demissão vai crescer.
O montante sacado por demissão correspondeu a 58% do total de R$ 2,1 bilhões. O percentual é bem maior que os 51,5% da média de 97, embora próximos dos 61% em 95 e dos mesmos 58% em 96.
Além de demissão sem justa causa, aposentadoria e casa própria, vírus HIV, câncer, inatividade da conta e morte permitem o saque.



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