São Paulo, domingo, 28 de junho de 1998

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ESTRANHOS NO PARAÍSO
Setores voltados para brasileiros que trabalham no Japão sentem os efeitos da turbulência no país
Crise japonesa afeta economia no Paraná

JOSÉ MASCHIO
da Agência Folha, em Londrina

A crise econômica do Japão está afetando diretamente setores da economia norte paranaense voltada para os dekasseguis (brasileiros que trabalham no Japão).
Além de familiares que ficaram no Brasil, as agências de emprego e viagens e o ramo imobiliário foram os setores mais atingidos no norte do Paraná.
De 23 agências especializadas em viagens de dekasseguis para o Japão que existiam na região em dezembro do ano passado, só restaram 12, trabalhando com um índice muito reduzido de clientes em comparação com anos anteriores.
Mitio Takaki, da Imobiliária Londres, tinha, há três anos, 80% de sua carteira de clientes composta por dekasseguis. A crise japonesa praticamente paralisou os negócios com apartamentos e pequenas propriedades rurais na região, segundo Takaki.
Apartamentos e áreas rurais na faixa entre R$ 20 mil e R$ 50 mil eram os investimentos preferenciais dos dekasseguis.
Os efeitos da crise no oriente já estavam sendo "sentidos" há mais de um ano na região, com o progressivo corte de horas extras para a mão-de-obra brasileira no Japão.
"A situação piorou neste ano, com muitos não tendo dinheiro nem para retornar ao país, quanto mais para investir em imóveis", afirmou Takaki.
Agências
As agências de viagem que enviavam dekasseguis para o Japão estão paradas.
A Japan Recursos Humanos, que no ano passado enviou 45 pessoas para aquele país, neste ano teve esse número reduzido para apenas quatro pessoas.
"Para quem só trabalha com o envio de dekasseguis, o caso é crítico", afirma Toshiaki Nagao, da Japan.
Cristiane Sgarbossa, da S.M.Tour, afirma que, além da redução de pedidos de mão-de-obra por parte das empreiteiras japonesas, aumentaram também as exigências para o recrutamento.
"Ter menos de 40 anos e dominar o idioma voltaram a ser requisitos básicos", diz.
A S.M. Tour enviou neste ano apenas três trabalhadores para o Japão, contra cerca de cem no ano passado.
Familiares
Em pior situação estão familiares que dependem do dinheiro enviado do Japão para a sobrevivência no Brasil.
Grávida de seis meses, M.U., 34, disse que está passando "dificuldades econômicas". Seu marido está no Japão e perdeu as horas extras, reduzindo em quase 50% seus ganhos.
"A situação é mais grave ainda com a desvalorização que o iene teve nos últimos três anos. Ele está sem condições de enviar o necessário para manter a família aqui", afirma.
M.U. disse que retornou do Japão após a gravidez. Antes o casal havia trabalhado quatro anos naquele país. "O que economizamos nesse período vamos ter que gastar para enfrentar a crise", lamenta.
A mulher e a filha de I.S., 62, estão ainda em pior situação. Elas foram para o Japão em outubro do ano passado e somente a filha conseguiu emprego. "Nesse período, a luta tem sido conseguir dinheiro para as passagens de volta", diz I.S.
O empresário Sérgio Onishi afirma que a tendência é a situação se agravar ainda mais.
"Como no Brasil falta emprego, muitos descendentes não acreditam na crise japonesa e estão indo por conta própria. Lá, sem emprego, não possuem condições financeiras para retornar", afirma.



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