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ESTRANHOS NO PARAÍSO
Setores voltados para brasileiros que trabalham no Japão sentem os efeitos da turbulência no país
Crise japonesa afeta economia no Paraná
JOSÉ MASCHIO
da Agência Folha, em Londrina
A crise econômica do Japão está
afetando diretamente setores da
economia norte paranaense voltada para os dekasseguis (brasileiros
que trabalham no Japão).
Além de familiares que ficaram
no Brasil, as agências de emprego
e viagens e o ramo imobiliário foram os setores mais atingidos no
norte do Paraná.
De 23 agências especializadas em
viagens de dekasseguis para o Japão que existiam na região em dezembro do ano passado, só restaram 12, trabalhando com um índice muito reduzido de clientes em
comparação com anos anteriores.
Mitio Takaki, da Imobiliária
Londres, tinha, há três anos, 80%
de sua carteira de clientes composta por dekasseguis. A crise japonesa praticamente paralisou os
negócios com apartamentos e pequenas propriedades rurais na região, segundo Takaki.
Apartamentos e áreas rurais na
faixa entre R$ 20 mil e R$ 50 mil
eram os investimentos preferenciais dos dekasseguis.
Os efeitos da crise no oriente já
estavam sendo "sentidos" há
mais de um ano na região, com o
progressivo corte de horas extras
para a mão-de-obra brasileira no
Japão.
"A situação piorou neste ano,
com muitos não tendo dinheiro
nem para retornar ao país, quanto
mais para investir em imóveis",
afirmou Takaki.
Agências
As agências de viagem que enviavam dekasseguis para o Japão
estão paradas.
A Japan Recursos Humanos,
que no ano passado enviou 45 pessoas para aquele país, neste ano
teve esse número reduzido para
apenas quatro pessoas.
"Para quem só trabalha com o
envio de dekasseguis, o caso é crítico", afirma Toshiaki Nagao, da
Japan.
Cristiane Sgarbossa, da
S.M.Tour, afirma que, além da redução de pedidos de mão-de-obra
por parte das empreiteiras japonesas, aumentaram também as exigências para o recrutamento.
"Ter menos de 40 anos e dominar o idioma voltaram a ser requisitos básicos", diz.
A S.M. Tour enviou neste ano
apenas três trabalhadores para o
Japão, contra cerca de cem no ano
passado.
Familiares
Em pior situação estão familiares que dependem do dinheiro enviado do Japão para a sobrevivência no Brasil.
Grávida de seis meses, M.U., 34,
disse que está passando "dificuldades econômicas". Seu marido
está no Japão e perdeu as horas extras, reduzindo em quase 50%
seus ganhos.
"A situação é mais grave ainda
com a desvalorização que o iene
teve nos últimos três anos. Ele está
sem condições de enviar o necessário para manter a família aqui",
afirma.
M.U. disse que retornou do Japão após a gravidez. Antes o casal
havia trabalhado quatro anos naquele país. "O que economizamos nesse período vamos ter que
gastar para enfrentar a crise", lamenta.
A mulher e a filha de I.S., 62, estão ainda em pior situação. Elas
foram para o Japão em outubro do
ano passado e somente a filha conseguiu emprego. "Nesse período,
a luta tem sido conseguir dinheiro
para as passagens de volta", diz
I.S.
O empresário Sérgio Onishi afirma que a tendência é a situação se
agravar ainda mais.
"Como no Brasil falta emprego,
muitos descendentes não acreditam na crise japonesa e estão indo
por conta própria. Lá, sem emprego, não possuem condições financeiras para retornar", afirma.
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