São Paulo, domingo, 28 de junho de 1998

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Para novos dekasseguis, a situação no Brasil é pior

da Reportagem Local

"Crise difícil é a brasileira". O desabafo é de Orlando Honda, 38, que resolveu deixar o Brasil pela quinta vez. Filho de japoneses, formado em ciências contábeis, está indo trabalhar numa fábrica de compensados de madeira, em Osaka, no Japão.
Trabalhando de 10 a 12 horas por dia, Honda espera receber US$ 2.500. Quando deixou o Japão, em junho de 97, ganhava US$ 3.000, trabalhando na construção civil. Ele chegava a economizar US$ 2.000 por mês morando no alojamento da empresa.
Honda explica a queda do seu salário desde a última viagem: "Vai ser menor por causa da crise asiática".
A primeira vez em que resolveu ir ao Japão foi em 1991. "Era só curiosidade, queria conhecer a cultura", diz. "Agora é uma necessidade e um vício", completa.
Em São Paulo, o contador ganhava menos de R$ 800 por mês. "Eu era vendedor ambulante na praça da Sé", onde comercializava biscoitos e chocolates.
Honda diz que tentou um emprego formal, mas não conseguiu por causa da idade.
"Quando eu juntar US$ 20.000 vou voltar para o Brasil." Quanto tempo vai levar? Depende da crise por lá, responde.
No mesmo vôo, Jorge Nose, 45, regressava ao Japão, depois de passar dois meses no Brasil. Ele havia perdido seu emprego e resolveu voltar para São Paulo.
Nose ganhava 450.000 ienes (cerca de US$ 3.100) trabalhando numa fábrica de autopeças. A carga horária era de 12 horas por dia.
Quando deixou o Brasil, em novembro de 95, era despachante policial. O salário era de R$ 1.500.
No Japão diz que consegue economizar até 40% de seus ganhos. Como Honda, o objetivo da ida é juntar dinheiro e voltar. "No máximo em cinco anos."
Alguns dias antes do seu embarque, a mesma firma que o havia demitido, "por causa da crise", diz Nose, resolveu readmiti-lo. "Só vou porque tenho emprego garantido."
Sem saber onde vão trabalhar, Alberto Nakamura, 19, e sua noiva, Adriane Suzuki, 19, também estão voltando para o Japão. Eles passaram um mês no Brasil.
"Nós viemos para cá quando a crise estourou ", diz Nakamura. "Só que aqui eu não consigo nem trabalho nem salários decentes", completa. Ambos terminaram o colegial e em 97 se mudaram para o Japão.
Com saudades de casa, tiveram que pedir demissão para visitar a família no Brasil. "Lá não existe férias", diz Adriane.
Juntos, ganhavam cerca de US$ 3.000, numa rotina de 10 a 12 horas de trabalho. As despesas com aluguel e comida eram de US$ 1.500.
O casal leva dinheiro suficiente para se manter por dois meses sem trabalho. "Depois, se não conseguirmos nada, o jeito é voltar."
Os quatro, Honda, Nose, Nakamura e Adriane, deixaram o Brasil na quinta. Todos dizem que gostariam de ficar, mas "a crise brasileira está pior que a japonesa". (ANDRÉ SOLIANI)



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