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Para novos dekasseguis, a situação no Brasil é pior
da Reportagem Local
"Crise difícil é a brasileira". O
desabafo é de Orlando Honda, 38,
que resolveu deixar o Brasil pela
quinta vez. Filho de japoneses,
formado em ciências contábeis,
está indo trabalhar numa fábrica
de compensados de madeira, em
Osaka, no Japão.
Trabalhando de 10 a 12 horas por
dia, Honda espera receber US$
2.500. Quando deixou o Japão, em
junho de 97, ganhava US$ 3.000,
trabalhando na construção civil.
Ele chegava a economizar US$
2.000 por mês morando no alojamento da empresa.
Honda explica a queda do seu
salário desde a última viagem:
"Vai ser menor por causa da crise
asiática".
A primeira vez em que resolveu
ir ao Japão foi em 1991. "Era só
curiosidade, queria conhecer a
cultura", diz. "Agora é uma necessidade e um vício", completa.
Em São Paulo, o contador ganhava menos de R$ 800 por mês.
"Eu era vendedor ambulante na
praça da Sé", onde comercializava biscoitos e chocolates.
Honda diz que tentou um emprego formal, mas não conseguiu
por causa da idade.
"Quando eu juntar US$ 20.000
vou voltar para o Brasil." Quanto
tempo vai levar? Depende da crise
por lá, responde.
No mesmo vôo, Jorge Nose, 45,
regressava ao Japão, depois de
passar dois meses no Brasil. Ele
havia perdido seu emprego e resolveu voltar para São Paulo.
Nose ganhava 450.000 ienes
(cerca de US$ 3.100) trabalhando
numa fábrica de autopeças. A carga horária era de 12 horas por dia.
Quando deixou o Brasil, em novembro de 95, era despachante
policial. O salário era de R$ 1.500.
No Japão diz que consegue economizar até 40% de seus ganhos.
Como Honda, o objetivo da ida é
juntar dinheiro e voltar. "No máximo em cinco anos."
Alguns dias antes do seu embarque, a mesma firma que o havia
demitido, "por causa da crise",
diz Nose, resolveu readmiti-lo.
"Só vou porque tenho emprego
garantido."
Sem saber onde vão trabalhar,
Alberto Nakamura, 19, e sua noiva, Adriane Suzuki, 19, também
estão voltando para o Japão. Eles
passaram um mês no Brasil.
"Nós viemos para cá quando a
crise estourou ", diz Nakamura.
"Só que aqui eu não consigo nem
trabalho nem salários decentes",
completa. Ambos terminaram o
colegial e em 97 se mudaram para
o Japão.
Com saudades de casa, tiveram
que pedir demissão para visitar a
família no Brasil. "Lá não existe
férias", diz Adriane.
Juntos, ganhavam cerca de US$
3.000, numa rotina de 10 a 12 horas
de trabalho. As despesas com aluguel e comida eram de US$ 1.500.
O casal leva dinheiro suficiente
para se manter por dois meses sem
trabalho. "Depois, se não conseguirmos nada, o jeito é voltar."
Os quatro, Honda, Nose, Nakamura e Adriane, deixaram o Brasil
na quinta. Todos dizem que gostariam de ficar, mas "a crise brasileira está pior que a japonesa".
(ANDRÉ SOLIANI)
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