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MERCADO TENSO
De acordo com analista, o modelo chileno sempre foi citado como referência por outros países, inclusive por Gustavo Franco, do BC
Chile adota modelo cambial similar ao brasileiro
da Equipe de Articulistas
A mudança no regime cambial
anunciada há dois dias pelo governo chileno aproxima o país do
modelo brasileiro. A interpretação
é do analista Michael Hood, que
acompanha a economia chilena
para o banco J. P. Morgan.
Segundo Hood, o modelo chileno sempre foi citado como referência por outros países. Até o
presidente do Banco Central, Gustavo Franco, já teceu elogios ao
sistema de "bandas largas" do
Chile e, nos últimos dias, admitiu
que a política cambial brasileira
deveria transitar para um sistema
semelhante (depois fez a ressalva
de que apenas no médio e longo
prazo).
Hood alerta para a curiosa ironia
de que, antes disso, os chilenos foram obrigados a adotar o sistema
brasileiro, de bandas cambiais
mais estreitas, juros mais altos e
rendição à captação de recursos financeiros externos de curto prazo.
Para o analista do J. P. Morgan, a
mudança chilena também se deve
à dificuldade que o governo de
Eduardo Frei encontra para fazer
um ajuste fiscal mais duro.
Sem ajuste fiscal, as mudanças
no mecanismo da banda servem
para tentar convencer o mercado
de que o governo tem a situação
sob controle.
A origem da crise chilena é a forte dependência do país não apenas
em relação aos mercados asiáticos, mas em relação a uma mercadoria específica: o cobre. Em
maio, o próprio Hood previa uma
redução da taxa de juros no Chile,
pois a atividade econômica do país
já dava sinais de desaquecimento.
Nas últimas semanas, entretanto, com o agravamento da crise
asiática, os preços do cobre caíram
mais e os mercados começaram a
testar o peso chileno. Segundo
Hood, eram tentativas de verificar
até que ponto o governo estaria
disposto a perder reservas. Ou seja, um ataque especulativo clássico. O J.P. Morgan está prevendo
um crescimento de 3,5% para o
Chile no ano que vem. Seria ótimo
para o Brasil, diz, mas no Chile é
uma catástrofe, um desastre, diante das taxas observadas nos últimos anos.
No curto prazo, entretanto,
Hood não espera uma crise cambial mais forte no Chile. Ele afirma
que as autoridades parecem assustadas com a extensão do estrago
que a crise asiática pode provocar.
A redução na flexibilidade do regime cambial, entretanto, apresenta riscos. O Chile, ex-modelo,
está indo na contramão dos outros
países que, diante da crise, entendem que a prioridade é dar maior
flexibilidade às políticas cambiais,
ampliando em vez de estreitar a
banda cambial.
Pacote
Na última quinta-feira, o governo chileno anunciou um novo pacote de medidas.
Além da elevação do teto da banda de flutuação do peso em relação
ao dólar, o Orçamento deverá ser
reduzido em US$ 200 milhões no
segundo semestre. O BC reduziu
de 30% para 10% o depósito para o
ingresso de recursos do exterior.
No início do ano, o governo aplicou dois sucessivos programas de
redução do Orçamento que resultaram em um corte de mais de US$
500 milhões.
(GILSON SCHWARTZ)
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