São Paulo, quarta-feira, 28 de julho de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

LUÍS NASSIF

Diagnóstico pioneiro

Em setembro de 1998, o trabalho "A Crise Asiática e o Papel do FMI", do já morto economista Ruben Dario Almonacid, decifrou pioneiramente o enigma das sucessivas crises cambiais que assolaram o mundo nos anos 90. Não tenho mais o trabalho. Baseio-me na coluna que escrevi na época, como um tributo a um dos mais criativos e honestos economistas brasileiros.
Os movimentos exagerados ocorridos até então em imóveis, ações e câmbio tiveram como causa central a dinâmica do setor externo, o livre fluxo de capitais entrando.
O balanço de pagamentos (BP) de um país corresponde ao saldo em transações correntes (STC) mais o saldo de contas de capital (SCK). Ou à variação das reservas internacionais.
O STC abrange todas as transações com bens e serviços de um país com o resto do mundo.
O SCK inclui todas as transações financeiras do exterior.
A fórmula de equilíbrio é BP = STC + SCK = variação das reservas.
Quando o BP está em equilíbrio, significa que o STC é igual ao SCK e as reservas internacionais estão constantes. O STC depende da taxa real de câmbio, da renda do país e da do resto do mundo. Aumentos da taxa real de câmbio e da renda do resto do mundo melhoram o STC. O aumento da renda interna o piora.
Já o SCK é função do diferencial entre o juro na moeda local e o juro de aplicações na moeda estrangeira. Em um mercado cambial livre, a taxa de câmbio tende a se desvalorizar quando o BP é deficitário e a se valorizar quando o BP é superavitário.
Aí, criam-se círculos viciosos:
1) um aumento do juro interno gera um influxo de capitais;
2) esses capitais, por sua vez, tendem a revalorizar o câmbio, o que afetará as expectativas quanto à taxa de câmbio, levando à sua valorização;
3) isso aumentará novamente o juro oferecido pela moeda local e induzirá novos influxos de capitais;
4) a entrada de capitais gera uma expansão monetária, e, se o Banco Central quiser esterilizá-la, irá colocar no mercado dívida interna, pressionando os juros internos para cima e, com isso, fortalecendo ainda mais o influxo de capitais.
Esse era o ponto em comum nas crises cambiais de economias totalmente distintas, como o Brasil e a Argentina, no início da estabilização, o Japão, no começo da década de 90, os Tigres Asiáticos e o Japão novamente, em 1998.
As recomendações dos especialistas iam desde expandir a oferta de moeda (Krugman) até aumentar despesas e cortar impostos ou aumentar a inflação (FMI).
O caminho era outro, recomendava Almonacid. Para fins da dinâmica desse processo, o que importa é a relação entre o STC e o SCK, e não o valor absoluto de um e outro.
As soluções para a nova ordem mundial passam pela criação de uma moeda única mundial. Enquanto não amadurece essa solução, dizia Almonacid, os países têm que usar todas os instrumentos de política econômica disponíveis para evitar desequilíbrio no BP, especialmente se eles se acumulam sob forma de dívida externa elevada, porque torna o país dependente das expectativas e da vontade dos estrangeiros.
Almonacid era monetarista de Chicago.

E-mail - Luisnassif@uol.com.br


Texto Anterior: Estradas 2: Termina paralisação de caminhoneiros
Próximo Texto: Aperto menor?: Investimento em habitação pode ficar fora da meta fiscal
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.