|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
LUÍS NASSIF
Diagnóstico pioneiro
Em setembro de 1998, o
trabalho "A Crise Asiática
e o Papel do FMI", do já morto
economista Ruben Dario Almonacid, decifrou pioneiramente o enigma das sucessivas
crises cambiais que assolaram
o mundo nos anos 90. Não tenho mais o trabalho. Baseio-me na coluna que escrevi na
época, como um tributo a um
dos mais criativos e honestos
economistas brasileiros.
Os movimentos exagerados
ocorridos até então em imóveis, ações e câmbio tiveram
como causa central a dinâmica
do setor externo, o livre fluxo
de capitais entrando.
O balanço de pagamentos
(BP) de um país corresponde
ao saldo em transações correntes (STC) mais o saldo de contas de capital (SCK). Ou à variação das reservas internacionais.
O STC abrange todas as transações com bens e serviços de
um país com o resto do mundo.
O SCK inclui todas as transações financeiras do exterior.
A fórmula de equilíbrio é BP
= STC + SCK = variação das
reservas.
Quando o BP está em equilíbrio, significa que o STC é igual
ao SCK e as reservas internacionais estão constantes. O STC
depende da taxa real de câmbio, da renda do país e da do
resto do mundo. Aumentos da
taxa real de câmbio e da renda
do resto do mundo melhoram
o STC. O aumento da renda interna o piora.
Já o SCK é função do diferencial entre o juro na moeda local
e o juro de aplicações na moeda estrangeira. Em um mercado cambial livre, a taxa de
câmbio tende a se desvalorizar
quando o BP é deficitário e a se
valorizar quando o BP é superavitário.
Aí, criam-se círculos viciosos:
1) um aumento do juro interno gera um influxo de capitais;
2) esses capitais, por sua vez,
tendem a revalorizar o câmbio,
o que afetará as expectativas
quanto à taxa de câmbio, levando à sua valorização;
3) isso aumentará novamente o juro oferecido pela moeda
local e induzirá novos influxos
de capitais;
4) a entrada de capitais gera
uma expansão monetária, e, se
o Banco Central quiser esterilizá-la, irá colocar no mercado
dívida interna, pressionando
os juros internos para cima e,
com isso, fortalecendo ainda
mais o influxo de capitais.
Esse era o ponto em comum
nas crises cambiais de economias totalmente distintas, como o Brasil e a Argentina, no
início da estabilização, o Japão, no começo da década de
90, os Tigres Asiáticos e o Japão
novamente, em 1998.
As recomendações dos especialistas iam desde expandir a
oferta de moeda (Krugman)
até aumentar despesas e cortar
impostos ou aumentar a inflação (FMI).
O caminho era outro, recomendava Almonacid. Para fins
da dinâmica desse processo, o
que importa é a relação entre o
STC e o SCK, e não o valor absoluto de um e outro.
As soluções para a nova ordem mundial passam pela
criação de uma moeda única
mundial. Enquanto não amadurece essa solução, dizia Almonacid, os países têm que
usar todas os instrumentos de
política econômica disponíveis
para evitar desequilíbrio no
BP, especialmente se eles se
acumulam sob forma de dívida
externa elevada, porque torna
o país dependente das expectativas e da vontade dos estrangeiros.
Almonacid era monetarista
de Chicago.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
Texto Anterior: Estradas 2: Termina paralisação de caminhoneiros Próximo Texto: Aperto menor?: Investimento em habitação pode ficar fora da meta fiscal Índice
|