|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
OPINIÃO ECONÔMICA
Brasil na luta pela classificação
GESNER OLIVEIRA
Se fosse o Campeonato Brasileiro de futebol, o time teria
deixado a zona de classificação.
Segundo relatório da consultoria
A.T. Kearney, divulgado nesta semana, o Brasil caiu do terceiro lugar em 2001 para 13º colocado na
lista dos destinos mais atraentes
para o investimento direto escolhida pelos executivos das mil
maiores companhias do mundo.
O cenário global está desfavorável às inversões em emergentes,
inibindo as intenções de investimento nesses países. A China, que
acaba de ingressar na OMC (Organização Mundial do Comércio), constitui uma das poucas exceções.
Entre os países emergentes, o
país ficou em quarto, perdendo
para a China, o México e a Polônia. A queda foi acentuada, já
que em 2001 o país ocupou a terceira colocação global -segunda
entre os emergentes, atrás da China- e em 2000 ficou em quarto
lugar, novamente só perdendo
entre os emergentes para a China.
O Relatório de Investimento de
2002 (World Investment Report
2002), da Unctad (Conferência
das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento), também
divulgado nesta semana, registrou alterações na captação de investimentos diretos em 2001, que
possivelmente serão acentuadas
em 2002.
O Brasil manteve o 11º lugar entre os receptores mundiais de investimento direto. Entre os emergentes, o Brasil perdeu o 3º lugar
para o México, ainda que por um
motivo pontual, com a venda do
Banamex ao Citigroup, por US$
12,5 bilhões.
A questão interessa diretamente ao Brasil, um grande receptor
de investimentos diretos, que depende desses fluxos para financiar parcela significativa do déficit em conta corrente. Por exemplo, entre janeiro e julho deste
ano o déficit foi de US$ 8,83 bilhões, coberto por um montante
quase igual de investimentos diretos: US$ 8,86 bilhões.
Nos últimos anos o ingresso de
investimentos diretos vem permitindo um declínio da dívida externa brasileira. A contrapartida
é o aumento do estoque de capital
estrangeiro, que se incorpora ao
chamado passivo externo bruto.
Esse último é a soma da dívida
com o estoque de capital estrangeiro.
Trata-se, em geral, de uma troca com vantagem. Sob o ponto de
vista da vulnerabilidade externa,
o capital de investimento não
apresenta a volatilidade das aplicações de curto prazo; além disso,
os empréstimos convencionais
têm data certa para serem pagos e
têm sua rolagem sujeita a condições circunstanciais.
Há, no entanto, duas ressalvas
que devem ser levadas em consideração em uma economia emergente como a brasileira. Em primeiro lugar, países que não apresentam perspectivas de crescimento de médio prazo acabam
induzindo um aumento de remessas de lucros e dividendos em
vez de maiores reinvestimentos.
Em segundo lugar, o ingresso de
inversões destinadas apenas à
produção de serviços não-comerciáveis e com aumento da compra
de equipamentos importados de
forma concentrada no tempo pode exercer pressão adicional sobre
o balanço de pagamentos.
A queda dos investimentos diretos no ano passado não se restringiu ao Brasil. O fenômeno está associado às turbulências da economia mundial, agravadas pelo 11
de setembro e pelos escândalos
contábeis envolvendo grandes
empresas internacionais. Nesse
contexto, os fluxos globais de investimento direto estrangeiro caíram de US$ 1,5 trilhão em 2000
para pouco menos da metade,
US$ 735 bilhões, em 2001.
Embora tenha havido uma
queda em termos absolutos de
US$ 32,8 bilhões para US$ 22,5 bilhões, o Brasil conseguiu aumentar sua participação de 2,2% para
3,1% no total dos investimentos
em 2001.
Não se confirmaram, portanto,
as previsões pessimistas que anteviam o fim absoluto da safra de
investimentos no Brasil com o
drama argentino, o 11 de setembro e a crise do apagão. Se o país
continuar reduzindo a sua necessidade de financiamento externo
por meio da redução do déficit em
conta corrente, os fluxos atuais
continuarão a financiar praticamente a totalidade do déficit nos
próximos meses.
A exemplo do Brasileiro-2002,
as mudanças na classificação
ocorrem com enorme frequência,
praticamente a cada rodada. Por
exemplo, a crise que se seguiu à
desvalorização cambial brasileira
em 1999 não impediu uma forte
recuperação da confiança no país
no ano seguinte.
Superadas as incertezas associadas às eleições, o país poderá
voltar a ocupar os primeiros lugares na preferência global, como
ocorreu nos anos anteriores. Desde, é claro, que se adote uma política econômica consistente nos próximos anos.
Gesner Oliveira, 46, é doutor em economia pela Universidade da Califórnia
(Berkeley), professor da FGV-Eaesp, consultor da Tendências e ex-presidente do
Cade.
Internet: www.gesneroliveira.com.br
E-mail - gesner@fgvsp.br
Texto Anterior: Luís Nassif: Invasão de privacidade Próximo Texto: Panorâmica - Impostos: Débito do Refis também tem direito a anistia Índice
|