São Paulo, quinta-feira, 28 de outubro de 2004

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ESTRUTURA

BNDES vai injetar R$ 654 milhões e passará a deter 31% da Ferronorte; expectativa era de aporte de R$ 384 milhões

Ajuda a ferrovia fica maior que o previsto

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

O BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) anunciou ontem que injetará R$ 654 milhões na estrada de ferro Ferronorte, sob as formas de financiamento, aporte direto de recursos e troca de dívidas por ações da empresa.
Com a operação, o banco passará a deter 31% da ferrovia, criada nos anos 90 pelo ex-rei da soja Olacyr de Moraes e hoje o principal corredor de transporte da safra de grãos do Centro-Oeste.
Os acionistas da empresa, controlada pela holding Brasil Ferrovias, também injetarão recursos da ordem de R$ 135 milhões -desse total, R$ 15 milhões poderão ser captados no mercado. A maior parte do dinheiro virá dos fundos de pensão de estatais Funcef (Caixa) e Previ (Banco do Brasil), hoje os maiores acionistas individuais da holding.
O único sócio que não participará do aporte será a Constran, de Olacyr de Moraes. Também são acionistas o banco americano JP Morgan e o fundo fechado Laif (EUA). Além da capitalização, os sócios privados converteram em ações R$ 165 milhões em dívidas que a Ferronorte tem com eles.
Do total injetado pelo BNDES na empresa, R$ 249 milhões virão da troca de dívidas por papéis da ferrovia, R$ 150 milhões serão colocados sob a forma de aporte de capital e R$ 255 milhões como empréstimo.
Do valor total do financiamento, R$ 120 milhões poderão ser convertidos, no futuro, em ações da ferrovia, o que abre espaço para o BNDES ampliar sua participação na companhia.
A dívida total da Ferronorte com o BNDES é de R$ 1,6 bilhão, a maior parte contraída na época da construção da Ferronorte.
Ao justificar a operação, o vice-presidente do BNDES, Darc Costa, disse que ela permitirá à Ferronorte voltar a investir, hoje impossibilitada em razão do pesado endividamento. Segundo ele, o débito, sem a solução que foi encontrada, "não tinha como ser pago". Ou seja, o banco preferiu colocar mais dinheiro no negócio para não perder o R$ 1,6 bilhão que já havia emprestado.
O que norteou o banco em sua decisão, disse Costa, foi a questão estratégica que representa o desenvolvimento da safra da grãos do Centro-Oeste, que sofre com o gargalo da ferrovia. Guilherme Lacerda, presidente da Funcef, nega que a operação constitua um tipo de socorro. "Não é uma solução paternalista. Não é uma solução do tipo "hospital"."
À princípio, chegou-se a imaginar que o BNDES entraria no capital da holding, mas o banco optou por participar da Ferronorte porque ela tem uma geração de caixa maior e pode atrair mais investidores no futuro, depois do saneamento financeiro. Inicialmente, porém, a idéia era pôr menos recursos: R$ 384 milhões.
A operação depende ainda de uma negociação, já em curso, entre a Brasil Ferrovias e o Tesouro. A empresa está em atraso com o pagamento das concessões de duas outras estradas de ferro que controla. A perspectiva é fechar um acordo em 180 dias.
Feita a capitalização, a expectativa é investir R$ 1,6 bilhão no período 2005-2009. Os recursos serão usados na expansão da rede, na melhoria das condições da via e na compra e recuperação da vagões ferroviários.

Histórico
Além da Ferronorte, a Brasil Ferrovias controla a Ferroban e a Novo Oeste -as duas concessões foram adquiridas na época das privatizações do setor, durante a década de 90.
A enorme dívida da Ferronorte, uma das poucas ferrovias do país que nasceu privada, decorre do atraso de mais de cinco anos da entrada em operação da estrada. O motivo principal foi a demora do governo em fazer obras de infra-estrutura. Com isso, a via só começou a operar em 1999.


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