|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ESTRUTURA
BNDES vai injetar R$ 654 milhões e passará a deter 31% da Ferronorte; expectativa era de aporte de R$ 384 milhões
Ajuda a ferrovia fica maior que o previsto
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
O BNDES (Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e
Social) anunciou ontem que injetará R$ 654 milhões na estrada de
ferro Ferronorte, sob as formas de
financiamento, aporte direto de
recursos e troca de dívidas por
ações da empresa.
Com a operação, o banco passará a deter 31% da ferrovia, criada
nos anos 90 pelo ex-rei da soja
Olacyr de Moraes e hoje o principal corredor de transporte da safra de grãos do Centro-Oeste.
Os acionistas da empresa, controlada pela holding Brasil Ferrovias, também injetarão recursos
da ordem de R$ 135 milhões
-desse total, R$ 15 milhões poderão ser captados no mercado. A
maior parte do dinheiro virá dos
fundos de pensão de estatais Funcef (Caixa) e Previ (Banco do Brasil), hoje os maiores acionistas individuais da holding.
O único sócio que não participará do aporte será a Constran, de
Olacyr de Moraes. Também são
acionistas o banco americano JP
Morgan e o fundo fechado Laif
(EUA). Além da capitalização, os
sócios privados converteram em
ações R$ 165 milhões em dívidas
que a Ferronorte tem com eles.
Do total injetado pelo BNDES
na empresa, R$ 249 milhões virão
da troca de dívidas por papéis da
ferrovia, R$ 150 milhões serão colocados sob a forma de aporte de
capital e R$ 255 milhões como
empréstimo.
Do valor total do financiamento, R$ 120 milhões poderão ser
convertidos, no futuro, em ações
da ferrovia, o que abre espaço para o BNDES ampliar sua participação na companhia.
A dívida total da Ferronorte
com o BNDES é de R$ 1,6 bilhão, a
maior parte contraída na época
da construção da Ferronorte.
Ao justificar a operação, o vice-presidente do BNDES, Darc Costa, disse que ela permitirá à Ferronorte voltar a investir, hoje impossibilitada em razão do pesado
endividamento. Segundo ele, o
débito, sem a solução que foi encontrada, "não tinha como ser pago". Ou seja, o banco preferiu colocar mais dinheiro no negócio
para não perder o R$ 1,6 bilhão
que já havia emprestado.
O que norteou o banco em sua
decisão, disse Costa, foi a questão
estratégica que representa o desenvolvimento da safra da grãos
do Centro-Oeste, que sofre com o
gargalo da ferrovia. Guilherme
Lacerda, presidente da Funcef,
nega que a operação constitua um
tipo de socorro. "Não é uma solução paternalista. Não é uma solução do tipo "hospital"."
À princípio, chegou-se a imaginar que o BNDES entraria no capital da holding, mas o banco optou por participar da Ferronorte
porque ela tem uma geração de
caixa maior e pode atrair mais investidores no futuro, depois do
saneamento financeiro. Inicialmente, porém, a idéia era pôr menos recursos: R$ 384 milhões.
A operação depende ainda de
uma negociação, já em curso, entre a Brasil Ferrovias e o Tesouro.
A empresa está em atraso com o
pagamento das concessões de
duas outras estradas de ferro que
controla. A perspectiva é fechar
um acordo em 180 dias.
Feita a capitalização, a expectativa é investir R$ 1,6 bilhão no período 2005-2009. Os recursos serão usados na expansão da rede,
na melhoria das condições da via
e na compra e recuperação da vagões ferroviários.
Histórico
Além da Ferronorte, a Brasil
Ferrovias controla a Ferroban e a
Novo Oeste -as duas concessões
foram adquiridas na época das
privatizações do setor, durante a
década de 90.
A enorme dívida da Ferronorte,
uma das poucas ferrovias do país
que nasceu privada, decorre do
atraso de mais de cinco anos da
entrada em operação da estrada.
O motivo principal foi a demora
do governo em fazer obras de infra-estrutura. Com isso, a via só
começou a operar em 1999.
Texto Anterior: Exuberância nacional: Nova safra deve ser recorde; lucro tende a cair Próximo Texto: Crise no ar: Para salvar a Varig, governo pode mudar regra de falência do setor Índice
|