São Paulo, quinta-feira, 28 de novembro de 2002

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Taxa alta deverá frear o consumo

JOSÉ ALAN DIAS
DA REPORTAGEM LOCAl

A alta das taxas dos juros cobrados pelos bancos nos empréstimos a pessoas físicas poderá ter como consequência a diminuição no consumo no final do ano.
Juros altos são acompanhados de outros inibidores: bancos e financeiras tornam-se mais seletivos na concessão de crédito por temerem a inadimplência. Uma segunda providência é encurtar os prazos de financiamento.
"O crédito até existe. Mas o próprio consumidor desiste de comprar por conta do custo. O cliente que desiste é justamente aquele mais prudente, que avalia melhor as condições e que seria o melhor pagador", diz Oswaldo de Freitas Queiroz, sócio-diretor da Servloj, que administra o crediário de cerca de 600 lojas no país.
Em setembro, quando o BC aumentou a taxa básica de juros (Selic) de 18% para 21% (hoje está em 22%), a empresa diminuiu os prazos máximos de financiamento de 12 para 9 meses -mas evitou o repasse integral da alta dos juros básicos. Não adiantou: deverá fechar o ano com queda de 5% em relação aos R$ 70 milhões financiados em 2001.
Quando a taxa Selic sobe as primeiras modalidades de empréstimos a sofrer são as de veículos e as de crédito pessoal (nas quais o cliente busca dinheiro em um banco para comprar um bem). Isso porque o spread (diferença entre o custo de captação e a receita com o repasse do dinheiro) é menor nessas modalidades, diz José Arthur Assunção, vice-presidente da Acrefi (Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento). "As financeiras, como têm spread maior, mexem menos nos juros". Em outubro, segundo a apuração do BC, as taxas médias cobradas pelos bancos para o crédito pessoal foram de 5,44% ao mês. Nas financeiras, a média foi de 9%.
"Enquanto a prestação couber no bolso, haverá procura por crédito. O consumo só é inibido quando ela aumenta a um nível que não se encaixa no orçamento", destoa Ricardo Malcon, da associação das financeiras.
Abram Szajman, presidente da Fecomercio-SP, apresentou ressalvas aos comentários do chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Altamir Lopes, para quem "seria bom que, se possível, as pessoas fizessem as compras de Natal à vista".
"O BC está fazendo o papel dele. Agora, falar para comprarem à vista é simples. Só deveriam explicar como comprar à vista se as pessoas não têm renda", afirmou.
A Federação estima que o faturamento do comércio em São Paulo ficará entre 5% e 6% maior que no ano passado. A alta será puxada pelas vendas de supermercados e de medicamentos, e não de bens de consumo.


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