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RECEITA ORTODOXA
Analista considera positivo o esforço fiscal e recomenda ênfase na melhora da qualidade do gasto público
Brasil está em 6º em superávit primário
CÍNTIA CARDOSO
DA REPORTAGEM LOCAL
O Brasil aparece em 6º lugar em
um ranking que mostra a relação
entre superávit primário e PIB
(Produto Interno Bruto). A lista
foi elaborada pela EIU (Economist Intelligence Unit) a pedido
da Folha.
Na primeira colocação aparece
a Argélia, que ostenta um superávit primário de 6,4%, seguida pela
Turquia, com 5,7%. O superávit
primário é o cálculo que leva em
consideração o quanto a arrecadação total do país supera suas
despesas, descontados os gastos
com juros e correção monetária
de dívidas.
Segundo John Bowler, analista
de Brasil da EIU, os países que
acumulam grandes superávits
têm duas características distintas.
Podem estar na categoria de economias que obtêm alto volume de
receitas com petróleo, como a
Rússia, ou podem ser países que
têm um grau elevado de endividamento e um alto déficit nominal.
Entram nessa categoria o Brasil e
a Turquia, por exemplo, e mesmo
a Bélgica. Em 2004, o Brasil apresentou um déficit nominal de R$
47,14 bilhões. O valor é equivalente a 2,7% do PIB.
O levantamento da EIU mostra
ainda que os países asiáticos aparecem com superávits primários
em proporções modestas. A Tailândia, que foi fortemente atingida pela crise asiática, em 1997,
tem, hoje, um superávit de 0,3%.
"A Ásia tem hoje superávits primários bem baixos. Diferentemente do Brasil, a dinâmica da dívida dos países asiáticos está sob
controle. No Brasil, a relação dívida/PIB está acima de 50%. Na
Ásia, em média, está em 20%",
disse à Folha Bowler.
Superávit maior
A dívida líquida brasileira passou de 57,2% do PIB em dezembro de 2003 para 51,8% em dezembro de 2004, menor patamar
desde junho de 2001. Para o economista da EIU, esse resultado
mostra que o esforço fiscal brasileiro tem sido eficiente. Diante
disso, Bowler argumenta que o
Brasil não deve se preocupar em
elevar o atual patamar do superávit primário. "Se a economia crescer 3,5% neste ano com um superávit de 4,5%, a relação dívida/PIB
deve cair bastante. Claro que com
um superávit de 6%, cairia bem
mais rápido, mas acho que o Brasil deveria se preocupar mais agora em monitorar a qualidade dos
gastos públicos", disse.
Além disso, o economista ressaltou que há um certo "cansaço
com a austeridade fiscal", o que
torna mais difícil para o governo
promover apertos orçamentários
mais fortes. Mas, pelo menos até
2008, a EIU diz que o Brasil deverá
manter esse superávit.
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