São Paulo, sábado, 29 de janeiro de 2005

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RECEITA ORTODOXA

Analista considera positivo o esforço fiscal e recomenda ênfase na melhora da qualidade do gasto público

Brasil está em 6º em superávit primário

CÍNTIA CARDOSO
DA REPORTAGEM LOCAL

O Brasil aparece em 6º lugar em um ranking que mostra a relação entre superávit primário e PIB (Produto Interno Bruto). A lista foi elaborada pela EIU (Economist Intelligence Unit) a pedido da Folha.
Na primeira colocação aparece a Argélia, que ostenta um superávit primário de 6,4%, seguida pela Turquia, com 5,7%. O superávit primário é o cálculo que leva em consideração o quanto a arrecadação total do país supera suas despesas, descontados os gastos com juros e correção monetária de dívidas.
Segundo John Bowler, analista de Brasil da EIU, os países que acumulam grandes superávits têm duas características distintas. Podem estar na categoria de economias que obtêm alto volume de receitas com petróleo, como a Rússia, ou podem ser países que têm um grau elevado de endividamento e um alto déficit nominal. Entram nessa categoria o Brasil e a Turquia, por exemplo, e mesmo a Bélgica. Em 2004, o Brasil apresentou um déficit nominal de R$ 47,14 bilhões. O valor é equivalente a 2,7% do PIB.
O levantamento da EIU mostra ainda que os países asiáticos aparecem com superávits primários em proporções modestas. A Tailândia, que foi fortemente atingida pela crise asiática, em 1997, tem, hoje, um superávit de 0,3%.
"A Ásia tem hoje superávits primários bem baixos. Diferentemente do Brasil, a dinâmica da dívida dos países asiáticos está sob controle. No Brasil, a relação dívida/PIB está acima de 50%. Na Ásia, em média, está em 20%", disse à Folha Bowler.

Superávit maior
A dívida líquida brasileira passou de 57,2% do PIB em dezembro de 2003 para 51,8% em dezembro de 2004, menor patamar desde junho de 2001. Para o economista da EIU, esse resultado mostra que o esforço fiscal brasileiro tem sido eficiente. Diante disso, Bowler argumenta que o Brasil não deve se preocupar em elevar o atual patamar do superávit primário. "Se a economia crescer 3,5% neste ano com um superávit de 4,5%, a relação dívida/PIB deve cair bastante. Claro que com um superávit de 6%, cairia bem mais rápido, mas acho que o Brasil deveria se preocupar mais agora em monitorar a qualidade dos gastos públicos", disse.
Além disso, o economista ressaltou que há um certo "cansaço com a austeridade fiscal", o que torna mais difícil para o governo promover apertos orçamentários mais fortes. Mas, pelo menos até 2008, a EIU diz que o Brasil deverá manter esse superávit.


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