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CRÉDITO
Empresas elogiam incentivo ao financiamento imobiliário anunciado pelo governo, mas dizem ter sido surpreendidas por mudança
Pacote ajuda bancos, diz setor de construção
ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
O pacote de incentivo ao crédito
imobiliário, anunciado na última
quinta-feira, em Brasília, difere de
seu projeto embrionário e dá certos benefícios aos bancos. Em linhas gerais, porém, é positivo. A
avaliação pertence a entidades setoriais ouvidas ontem, como o Secovi (Sindicato da Habitação),
Câmara Brasileira da Indústria da
Construção, Sinduscon-SP (sindicato da indústria da construção
em São Paulo) e o Creci.
O plano foi criado em cima de
um projeto anterior, desenhado
em 2004 numa parceria entre instituições financeiras e lideranças
da construção civil. Foi entregue
ao Conselho Monetário Nacional
em janeiro e alterado. O governo
nega que as mudanças sejam benéficas ao sistema financeiro e defende o conteúdo.
"O projeto é positivo, mas, independentemente da boa intenção,
sofreu alterações que nos pegaram de surpresa. Há benefícios
inegáveis aos bancos aí", diz Paulo Safady Simão, presidente da
CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção).
"Parece que os técnicos do governo fizeram uma nova versão
da proposta, uma "remixagem"
do projeto com detalhes que não
eram esperados", afirma Celso
Petrucci, diretor-executivo do Secovi, o Sindicato da Habitação.
As entidades dizem que o governo alterou o chamado fator
multiplicador do financiamento,
e isso dá vantagens aos bancos.
Explica-se: se uma pessoa vai a
uma agência e pede empréstimo
imobiliário de R$ 50 mil, agora,
com as novas regras, o banco deve
multiplicar os R$ 50 mil por 3,17
-cada valor equivale a um multiplicador, segundo uma tabela-,
o que resulta em cerca de R$ 158
mil. Nesse caso, o juro ao cliente
será de 9% ao ano.
Com os R$ 158 mil o banco faz
uma conta de subtração. Tira R$
50 mil (valor emprestado) dos R$
158 mil, o que resulta em R$ 108
mil. A partir de agora, o banco terá direito de, ao emprestar R$ 50
mil, usar os R$ 108 mil no investimento que quiser. Seja emprestando recursos para terceiros ou
numa linha de cheque especial
para seus clientes, entre outras
opções.
Esse volume emprestado é, na
prática, dinheiro do SFH (Sistema
Financeiro da Habitação). O problema é que ele ficava parado nos
bancos. Não usavam, diziam as
instituições, porque os custos da
operação desse financiamento
imobiliário eram altos demais.
Acabavam com o dinheiro parado, num tímido rendimento,
equivalente ao da caderneta de
poupança -regra do governo determina que a não-aplicação só
dava à instituição uma remuneração de 80% da TR.
Como agora foi criado esse multiplicador e estipulado o direito de
usar livremente uma parte dos recursos, o governo espera que a
conversa mude de figura.
"Trabalhamos dentro do propósito de dar um multiplicador
maior para as linhas menores.
Com isso, haverá um incentivo
maior para o mercado liberar empréstimos mais baixos", disse ontem Sérgio Darcy, diretor de Normas do BC. Ele nega a existência
de favorecimento aos bancos. "O
projeto inicial contava com a cobrança de uma taxa de administração de R$ 27 para os bancos.
Não aprovamos isso, mas, por outro lado, alteramos o multiplicador do banco."
O projeto inicial, da Abecip e da
Câmara, até contava com um
multiplicador, mas menor: variava de 1 a 1,5. Agora, no projeto do
governo, há multiplicadores de 1 a
3,35. Quanto maior esse fator,
maior será o valor que o banco
poderá arbitrar livremente. "Não
pedimos nada disso", diz Décio
Tenerello, presidente da Abecip.
Mesmo com essas questões, Tenerello e Paulo Simão, da Câmara
da Construção Civil, apóiam as
medidas porque dizem que serão
necessárias para impulsionar o
setor. "Devemos ter uma expansão na atividade econômica em
2005, e isso tende a elevar o volume da poupança e, logo, o montante no SFH. É preciso então
criar formas de usar esse dinheiro
para a habitação", diz Tenerello.
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