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LUÍS NASSIF
O terminal de Lula
Há duas hipóteses para a
afirmação de Lula -na
posse do presidente da Associação Comercial de São Paulo,
Guilherme Afif Domingos- de
que passa o dia consultando um
terminal de mercado acompanhando as cotações.
A hipótese otimista é a de que
soltou uma bela piada, a exemplo da história da pesca de lambari e de jaú -ao se dirigir a
Paulo Maluf e mencionar a dificuldade de apanhar peixe grande na rede. A hipótese pessimista
é que tenha falado sério.
Lula é sujeito formado em
chão de fábrica. Aprendeu no
dia-a-dia a importância da produção, da gestão. Nas negociações com as empresas, entendeu
a importância de o setor ir bem
para os trabalhadores irem bem.
Essa imensa alienação na qual
o país se meteu na última década jogou para segundo plano os
valores do trabalho e da gestão e
para primeiro essa macumba cibernética de julgar que o futuro
do país se molda perdendo tempo com o dia-a-dia do mercado.
Para os viciados em notícias de
mercado -que não sejam os
próprios operadores, que têm
por obrigação acompanhar as
cotações-, sugere-se urgente
inscrição na AMA (Associação
dos Midiamaníacos Anônimos).
Jamais para quem pensa em
construir uma nação. O mercado é apenas um ângulo, uma
consequência de um projeto consistente de país.
Lula tem o poder do discurso,
da mobilização. Com esse mesmo poder, JK mudou a face do
país, em parte por sua visão de
futuro, em grande parte por trazer novos paradigmas, levantar
a bandeira do "plano de metas"
que foi absorvida por todas as
empresas do país. Da pequena à
grande, toda empresa fazia
questão de ter seu "plano de metas", que nada mais era do que a
visão de futuro, pensar a empresa para os próximos dez anos e
começar a prepará-la para alcançar o objetivo proposto.
Lula exercita magnificamente
o discurso da melhoria da auto-estima nacional. Mas e daí? Não
pode ficar no ufano-porque-me-ufano. O discurso tem que ser
mobilizador. O sujeito tem que
ouvir, acreditar que somos capazes de enfrentar o mundo e partir para a ação; caso contrário,
ouve o discurso, canta o Hino
Nacional e vai para casa dormir.
Lula tem à sua disposição uma
bandeira desenvolvida ao longo
da última década, tão importante quanto a bandeira do "plano
de metas" que JK recebeu dos engenheiros da Cemig e espalhou
pelo país. Trata-se da bandeira
da qualidade e da competitividade. Saia da frente do terminal
e vá conhecer o trabalho das freirinhas do Hospital Santa Marcelina, em São Paulo, ou da Santa
Casa de Porto Alegre. Visite as
prefeituras que aplicaram programas de qualidade. Conheça o
programa gaúcho e o carioca.
Visite as grandes empresas brasileiras que se tornaram excelência mundial em gestão.
Lula poderia revirar esse país
pelo avesso, transformar o discurso em uma ação concatenada, em torno de um tema que
permitiria ao país recuperar o
sonho do desenvolvimento. Estimular cada cidadão a ter seu indicador, a sua meta, o seu objetivo.
Mas tem que sair da frente do
terminal.
E-mail - LNassif@uol.com.br
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