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LUÍS NASSIF
A economia sem Palocci
Como ficará a economia
com a saída de Antonio Palocci do Ministério da Fazenda?
Em relação aos objetivos centrais da política econômica
-fazer superávits primários,
manter o ritmo atual de queda
dos juros, não mexer com o
câmbio-, não se devem esperar
mudanças significativas. Não
há tempo útil e, com as eleições,
entra-se em um terreno de alta
volatilidade, em que a melhor
política é não fazer muita marola.
Nem se deve esperar uma aceleração na queda de juros.
Em 2002, a então diretoria do
Banco Central cometeu uma série de erros graves, como a introdução fora de hora da marcação a mercado, a venda desastrosa de "swaps" cambiais
amarrados a LFTs. Mas, para o
mercado, o principal erro foi a
redução da taxa de juros antes
da hora, tornando mais barato
apostar contra o Brasil. Certa ou
errada, é a convicção que prevaleceu e que certamente pesará
em qualquer decisão do Banco
Central de reduzir a taxa de juros além do programado.
Palocci tem uma virtude fundamental, que fará falta: o discurso. Crescia em momentos de
crise e sabia como ninguém
acalmar o mercado. Esse papel,
do ator político, é fundamental
para articular expectativas. Seu
sucessor, Guido Mantega, é
mais preparado que Palocci, porém mais tímido. Sua capacidade de enfrentar crises terá que
ser testada na prática. Não adotará nenhuma atitude que possa criar nervosismo no mercado,
mas terá que se aprimorar naquilo em que seu antecessor era
craque: na forma de falar para o
mercado.
Leve-se em conta que os próximos meses serão de um acirramento cada vez maior da campanha política. Eclodiu a Segunda Onda de denúncias, acirrada pela gravidade do crime
cometido de quebra de sigilo
bancário do caseiro. Por outro
lado, as denúncias da Folha de
domingo passado inauguraram
a temporada de levantamento
da vida do candidato Geraldo
Alckmin.
Nesse jogo, há uma curiosidade já lembrada por Eliane Cantanhêde. A dinâmica da mídia
exige novidade. Denúncias contra Lula deixaram de sê-lo, embora o fator Paulo Okamotto
paire como um ectoplasma sobre o presidente. A novidade são
as denúncias contra Alckmin.
Nesse período de campanha
pesada contra Lula, o governo
não parou. Uma estrutura complexa, como o governo federal,
sempre tem o que mostrar. A
novidade será a apresentação
de cada feito administrativo de
Lula. Do lado de Alckmin, a novidade será a exposição de cada
fragilidade gerencial.
Trata-se de um fenômeno que
já abordei algumas vezes na coluna e é filho da mesma matriz
psicológica que leva aos movimentos de manada no mercado
financeiro. Um ativo passa a ser
muito procurado e fica caro.
Quando há a percepção de que
ficou caro, há um movimento de
desova que joga o preço para
baixo até que alguém percebe
que ficou barato e recomeça o
movimento de alta.
Lula estava em um franco movimento de apreciação. A Segunda Onda poderá abortar esse crescimento. Mas, na outra
ponta, Alckmin começará a passar pelos primeiros testes de
imagem. E ambos os lados estarão cuspindo fogo.
Para o mercado, a conclusão
que se tira é que, em tempo de
eleições, não existem certezas, só
previsões. E a previsão é que,
desde 1989, nenhuma campanha promete ser tão suja quanto
esta.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
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