São Paulo, quarta-feira, 29 de março de 2006

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TROCA DE COMANDO

Permanência de Meirelles no BC pode acalmar ânimos

Mercado tem dia agitado e dólar alcança os R$ 2,209

FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Um dia após a saída de Antonio Palocci do Ministério da Fazenda, os investidores correram para ajustar suas posições no mercado financeiro. Analistas afirmam que a permanência de Henrique Meirelles à frente do Banco Central será fundamental para que o mercado se acalme.
O dólar teve alta considerável de 1,75% ontem, indo a R$ 2,209. A Bovespa despencou 2,55%. Os juros futuros subiram.
Em entrevista dada ontem pela manhã, o novo ministro da Fazenda, Guido Mantega, criticou o atual nível dos juros básicos, o que não agradou ao mercado. A falta de sintonia entre Mantega e o presidente do BC preocupa os investidores.
A resposta do mercado internacional às mudanças no governo não foi das melhores. O Global 40, um dos principais títulos da dívida brasileira no exterior, perdeu 1% de seu valor. O risco-país chegou aos 240 pontos no fim das operações (alta de 1,69%).
"À medida que cada membro [do governo] que dá credibilidade à política monetária sair, o mercado vai responder negativamente. Por isso, é importante que o Meirelles siga no comando do BC", diz Alexandre Lintz, estrategista-chefe do banco BNP Paribas.
"Ninguém tem certeza absoluta de que o BC vai seguir com as mesmas pessoas. E o mercado acha fundamental que o BC mantenha sua autonomia, seu direito de conduzir a política monetária com liberdade", diz Newton Rosa, economista-chefe da Sul América Investimentos.
Na esteira das mudanças no Ministério da Fazenda, o banco JP Morgan recomendou a seus clientes diminuírem sua exposição a títulos brasileiros e ampliar em papéis da Rússia. O temor de analistas é que outras grandes instituições financeiras comecem a alterar suas recomendações, desfavorecendo os ativos brasileiros.
Com o mercado turbulento, o Tesouro cancelou seu tradicional leilão de títulos públicos.
Para piorar, o Fed (BC dos EUA) subiu os juros e deu sinais de que o processo de elevação das taxas no país ainda não acabou.
Esse cenário de alta dos juros americanos acaba por espantar investidores dos ativos brasileiros, que tendem a migrar para os papéis do Tesouro dos EUA.
Após o término da reunião do Fed, no fim da tarde de ontem, a Bovespa acelerou rapidamente suas perdas, com os estrangeiros vendendo ações brasileiras.
Para Rosa, "ainda há muitas incertezas, apesar de o Mantega ter dito que irá manter a política econômica". "O novo ministro tem de seguir dando sinais positivos para o mercado criar confiança", diz o economista.
Durante o dia, o dólar chegou a R$ 2,238 (alta de 3,09%).
A BM&F também teve um dia agitado. As taxas dos contratos de juros com prazos de vencimento acima de 18 meses foram as que mais sentiram o peso das atuais incertezas. O temor dos investidores é o de que, mesmo que o novo ministro da Fazenda não mude nada na política econômica neste momento, haja mudanças profundas em um hipotético segundo governo Lula.
No contrato DI que vence em janeiro de 2008, a taxa foi de 14,75% na sexta para 14,94% ontem.


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