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OPINIÃO ECONÔMICA
Como anda a qualidade de nossos combustíveis?
LUIZ AUGUSTO HORTA NOGUEIRA
Considerando as dimensões e a
população do Brasil, até que não
é demais uma frota de 16 milhões
de automóveis, abastecidos por
mais de 27 mil postos revendedores.
Esses números servem para indicar o tamanho do mercado brasileiro e dão uma boa idéia do
que significam os principais objetivos da Agência Nacional do Petróleo (ANP), na área de distribuição de combustíveis: regular e
fiscalizar esse mercado, promover
seu desenvolvimento saudável e
garantir a defesa do consumidor.
Nesse sentido, a qualidade do
combustível é um tema central,
algumas vezes pouco entendido,
mesmo porque temos vários tipos
de combustível, inclusive o álcool
etílico, que é empregado em praticamente todos os automóveis
brasileiros.
Aproximadamente 3 milhões de
veículos brasileiros usam álcool
hidratado puro, enquanto outros
13 milhões queimam uma mistura de gasolina com 24% de álcool
anidro.
Um outro fator que confunde o
consumidor sobre as questões de
qualidade dos combustíveis é a
equivocada associação das distorções de mercado decorrentes de
sonegação e liminares de caráter
tributário com problemas efetivos
de composição dos produtos. O
primeiro grupo de distorções afeta os agentes do mercado e toda a
sociedade, enquanto os problemas de adulteração afetam diretamente o consumidor.
Mas, afinal, o que significa
"qualidade de um combustível"?
Em essência, é sua capacidade
para atender bem sua função de
gerar energia em motores. Os parâmetros que definem a qualidade de um combustível são estabelecidos tendo em conta os equipamentos que o utilizam, seus impactos sobre o meio ambiente e as
restrições dadas pelo parque de
refino.
No caso brasileiro, essas especificações têm evoluído e atualmente a gasolina nacional tem
qualidade comparável à gasolina
européia. O álcool hidratado é
um combustível sem similares em
outros países, mas também é especificado pela legislação.
Para saber como anda a qualidade dos combustíveis no Brasil,
a ANP tem estabelecido uma série
de procedimentos e acompanhado os indicadores de conformidade desses combustíveis, principalmente sua densidade, no caso do
álcool, e octanagem e teor de álcool, no caso da gasolina. Trata-se de defender o consumidor, buscando uma abordagem consistente.
Mais do que manter um exército de fiscais, optou-se por um amplo programa de monitoramento
estatístico da qualidade, fundamentando ações tópicas de fiscalização. Em resumo, não se quer
fiscalizar a esmo, sem rumo, mas
de forma inteligente e com indícios concretos. Assim, a ANP decidiu descentralizar suas atividades e estabelecer convênios com
universidades e instituições estaduais de pesquisa e desenvolvimento.
Essas atividades já tiveram seu
início no Distrito Federal e em alguns Estados (São Paulo, Bahia e
Rio de Janeiro), estando por começar em diversos outros (Ceará,
Minas Gerais, Rio Grande do Sul,
Paraná e Rio Grande do Norte).
Até o momento tais convênios já
cobrem 78% do mercado brasileiro, com previsão de amostragem
anual em 19.344 postos de gasolina, o que significa cerca de 1.250
postos por semana. Esses postos
são escolhidos de forma aleatória
e o resultado do monitoramento é
um verdadeiro mapa da qualidade dos combustíveis no Brasil,
orientando as ações de fiscalização.
Em meados do ano passado, a
ANP iniciou o monitoramento de
qualidade em São Paulo, Rio de
Janeiro, Brasília e Bahia, avaliando 13.279 amostras de gasolina,
álcool e óleo diesel e chegando a
alguns resultados interessantes.
Diferentemente do que talvez se
pudesse imaginar, apenas 7,8%
das amostras de gasolina apresentaram não-conformidade às
especificações brasileiras, na
maior parte dos casos com teores
de álcool elevados. Quanto ao álcool hidratado, 4,9% das amostras apresentaram problemas, tipicamente quanto ao teor alcóolico. E, com relação ao diesel, 3,7%
das amostras mostraram-se fora
da conformidade, em sua maioria por problema de cor, o que indica mistura com frações mais pesadas. Tais distorções levaram a
1.749 autuações em postos revendedores e 323 em distribuidoras,
com a aplicação de multas totalizando R$ 4,1 milhões.
Para reforçar a capacitação das
universidades e instituições de
pesquisa no acompanhamento da
qualidade do combustível, a ANP
está lançando um edital para
equipar laboratórios e fomentar
tecnologias nesse campo e, a partir de abril, deverá publicar a portaria ANP 197/99, que, além de
definir uma especificação mais
completa para a gasolina brasileira, estabelece uma sistemática
para a "rastreabilidade da qualidade", comprometendo distribuidoras e revendedores de forma
inequívoca quanto à qualidade
do produto que comercializam.
As empresas que encaram com
seriedade seus consumidores já
estão se adequando para cumprir
essas determinações. O consumidor também pode ser um agente
importante: os postos são obrigados a fazer testes de qualidade
sempre que receberem os produtos ou forem solicitados por seus
clientes. Isso é muito importante,
pois o excesso no teor de álcool, a
fraude mais comum na gasolina,
pode ser facilmente avaliada por
um teste rápido e simples no próprio posto.
Com essas medidas, a ANP
acredita estar trabalhando para o
desenvolvimento saudável da indústria do petróleo no Brasil. Isso
implica, no país, empresas concorrendo de forma justa e consumidores bem atendidos, inclusive
em qualidade. O monitoramento
estatístico dos produtos é uma
ferramenta importante para subsidiar as ações de fiscalização e
nessa direção temos orientado
nossos esforços. E os primeiros indicadores mostram o acerto do
modelo adotado.
O que buscamos na distribuição
dos combustíveis são resultados
consistentes e consolidados, em
coerência com os sucessos que a
ANP já tem obtido na promoção
do novo marco para a exploração
e o desenvolvimento do petróleo e
gás natural no Brasil.
Luiz Augusto Horta Nogueira, 43, engenheiro mecânico, é diretor da Agência Nacional do Petróleo (ANP).
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