São Paulo, sábado, 29 de abril de 2000


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MERCOSUL
Gros e Marcílio Marques Moreira divergem de economista em debate no Rio
Mundell pede dolarização no Brasil

da Sucursal do Rio


O economista canadense Robert Mundell, Prêmio Nobel de Economia de 99, uniu ontem contra sua tese de atrelamento da moeda brasileira ao dólar norte-americano, uma mesa de economistas brasileiros, que incluía o presidente do BNDES, Francisco Gros, e o ex-ministro da Economia, Marcílio Marques Moreira.
Mundell, que está no Brasil a convite do jornal Valor, participou ontem no Rio de debate promovido pela FGV. Ele disse que a Argentina vem sendo bem-sucedida com o seu câmbio fixo em relação ao dólar, adotado em 1991, e acrescentou que, se o Brasil fizesse o mesmo, isso alcançaria grande repercussão na economia mundial.
O economista, que dá aulas na Universidade de Columbia (Nova York), disse que o mundo tende a se agrupar economicamente em blocos monetários em torno das moedas mais fortes -dólar, euro, iene e um possível consórcio asiático- e que, para o Brasil, seria mais vantajoso optar pelo dólar do que pelo euro.
De acordo com Mundell, a provável interrupção do ciclo de crescimento acelerado da economia dos EUA deverá provocar desvalorização do dólar em relação à moeda européia, gerando por tabela vantagens competitivas para as exportações brasileiras.
Ele disse ainda que o atrelamento ao dólar provocará a queda dos juros no Brasil a níveis próximos aos dos Estados Unidos, estimulando o crescimento econômico. O atrelamento também facilitaria a integração do Mercosul, já que a Argentina já dolarizou sua economia.

Livro texto
Para o presidente do BNDES, que falou antes e depois de Mundell, a adoção de uma só moeda no Mercosul é algo desejável e que ocorrerá mais cedo ou mais tarde, mas Gros entende que a forma de se fazer isso ainda precisa ser muito discutida. "Na Europa demorou 50 anos", disse.
Gros contestou a tese de Mundell sobre a queda dos juros. Ele disse que, na Argentina, apesar da dolarização, as taxas são apenas um pouco mais baixas que no Brasil e estão muito além das dos Estados Unidos.
Para Gros, buscar uma moeda forte é uma tese muito interessante, desde que se defina como chegar a ela. "Enquanto você não discutir o que tem que fazer para chegar lá, eu diria que é uma tese de livro texto que não tem nenhuma aplicação na vida real", afirmou.
Para o ex-ministro Marcílio Marques Moreira, "seria prematuro, perigoso e indesejável" o Brasil se fixar em uma das grandes moedas, até por causa da grande volatilidade que existe entre elas. Ele disse ainda que a integração monetária do Mercosul é parte de um projeto político mais amplo de integração regional.
O ex-presidente do Banco Central, Gustavo Loyola, disse que a adoção do dólar pode até vir a ser discutida pelo Mercosul, mas em uma negociação de integração das Américas. Ele disse que o Mercosul precisa construir a sua própria cultura econômica, como fez a Europa.
Mundell, que estará na próxima semana em São Paulo, teve também sua tese criticada pelos economistas Carlos Ivan Simonsen e Carlos Geraldo Langoni, da FGV.


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