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Acordo na Argentina "relança" bloco
ANDRÉ SOLIANI
enviado especial a Buenos Aires
GUSTAVO CHACRA
de Buenos Aires
O acordo de convergência macroeconômica, considerado prioridade do Mercosul pelo presidente Fernando Henrique Cardoso desde o ano passado, finalmente saiu do papel, na Declaração de
Buenos Aires, anunciada ontem
na capital argentina pelos ministros da Fazenda, das Relações Exteriores e da Defesa do Brasil e da
Argentina.
O ministro da Fazenda brasileiro, Pedro Malan, e o ministro da
Economia argentino, José Luis
Machinea, anunciaram que, a
partir de março de 2001, serão estabelecidas metas para o déficit
fiscal e para a dívida pública.
Em setembro, os dois países
passarão a publicar as estatísticas
do déficit e da dívida com metodologias idênticas. Os técnicos
dos dois países já estabeleceram
as diferenças entre o cálculo das
estatísticas, que não serão utilizadas nos acordos com o FMI, e vão
adequá-las nos próximos meses.
Os dados da balança comercial
serão os próximos a serem harmonizados.
Embora as metas sejam estabelecidas em março, os países terão
um prazo para poder ajustar seus
índices. Segundo o secretário de
Assuntos Internacionais do Ministério da Fazenda, Marcos Caramuru de Paiva, "é muito cedo
para saber em que prazo os países
terão de cumprir a meta".
O principal objetivo da decisão
é ganhar credibilidade dos empresários e investidores. "O acordo é uma demonstração do compromisso dos governos com o
ajuste fiscal, mesmo na ausência
de acordos com o FMI e órgãos
internacionais", disse Caramuru.
Além do efeito de credibilidade,
apontado por ambos os lados, o
acordo tem uma importância
simbólica para o processo de integração entre Brasil e Argentina:
marca o relançamento do Mercosul, após várias semanas de negociações entre os dois países.
Segundo Caramuru, os representantes dos dois países estão
convencidos de que é possível
usar as metas fiscais e de dívida
pública mantendo as diferentes
políticas monetárias e cambiais.
Dentro do espírito de relançamento, os chanceleres dos dois
países, Luis Felipe Lampreia (Brasil) e Adalberto Giavarini (Argentina), enfatizaram a cordialidade
entre os dois países.
A cordialidade, no entanto, foi
marcada por divergências. O Brasil não conseguiu convencer a Argentina a negociar uma política
comum de defesa comercial (regras para adotar medidas antidumping e contra subsídios).
Fonte da diplomacia brasileira
disse que esse será um tema de
forte divergências entre os parceiros no próximo semestre.
Conflitos comerciais
Os diplomatas do Itamaraty
discordaram da forma como os
conflitos comerciais entre os parceiros devem ser tratados.
De um lado, que saiu perdendo,
estava o secretário-geral do Ministério das Relações Exteriores,
Luis Felipe de Seixas Corrêa. Ontem, ele afirmou que a Argentina
não havia convencido o Brasil de
que a desvalorização tinha causado danos a alguns setores da indústria do país, descartando qualquer tipo de acordo para administrar o comércio.
Do outro, estava o embaixador
brasileiro em Buenos Aires, Sebastião do Rego Barros. Ele defende uma postura mais flexível
em relação ao parceiro.
Segundo fontes argentinas, é
comum as embaixadas serem
mais flexíveis do que as secretárias de Estado.
No final da reunião, indicando
que Seixas Corrêa havia sido mais
duro do que desejava a diplomacia brasileira, a Argentina conseguiu incluir um compromisso de
que o governo brasileiro iria "estimular" acordos entre os setores
privados para proteger as indústrias que se dizem afetadas pela
desvalorização.
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