São Paulo, segunda-feira, 29 de abril de 2002

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MARCHA LENTA

Analistas refazem previsão de crescimento da economia brasileira no ano após 1º trimestre pior que o esperado

Renda baixa e juro alto adiam recuperação

DA REPORTAGEM LOCAL

O desempenho da economia brasileira no primeiro trimestre frustrou economistas e empresários, que já começam a rever suas previsões para este ano.
Redução de salários, estagnação do crédito e juros elevados indicam que a economia ainda está frágil. Incertezas quanto ao desempenho econômico emperram também a outra via que pode deslanchar a recuperação do país: os investimentos das empresas.
"O que vemos agora é uma tímida recuperação da economia. Ainda estamos longe de viver um período de expansão", diz Mariano Laplane, professor da Unicamp. "A economia cresce com renda, crédito e juros baixos. Tudo o que falta no Brasil."
Os trabalhadores começaram 2002 ganhando menos. Em fevereiro, o salário médio dos ocupados foi 6,2% menor do que o verificado no mesmo mês de 2001, informa o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). O desemprego também subiu. Em março deste ano, a taxa ficou em 7,1%. Em 2001, estava em 6,5%.
Com menos dinheiro no bolso, os consumidores reduziram seus gastos. A indústria automobilística, que já não viveu um bom ano em 2001, viu as vendas caírem também nos três primeiros meses deste ano. Foram 321.794 carros vendidos no primeiro trimestre deste ano -12% menos do que no mesmo período de 2001.
Mesmo em ano de Copa do Mundo, o setor eletroeletrônico sofre para atingir o mesmo volume de vendas de 2001. As vendas de aparelhos de áudio e vídeo caíram 5,9% no primeiro trimestre em relação aos três primeiros meses do ano passado. O mesmo se verifica com as vendas de eletrodomésticos portáteis: caíram 23,4% no período.
"O consumidor está desconfiado. Ele enfrentou o racionamento e várias crises na economia. É natural que demore para recuperar a confiança no país", diz Roberto Padovani, da Tendências.
A queda da massa de salários poderia ter sido compensada pelo crédito. Mas os brasileiros não parecem seguros o suficiente para se endividar. O mesmo vale para as empresas, que não vêem motivo para buscar dinheiro nos bancos.
O resultado é que o volume de operações de crédito praticamente estagnou no primeiro trimestre deste ano. Nos três primeiros meses de 2002, as operações de crédito cresceram 0,77%, em média, ao mês. No ano passado, o crescimento médio mensal foi de 1,89%. Vale lembrar que, em 2000, quando a economia cresceu 4,36%, as operações de crédito aumentaram a uma taxa média de 4,84% ao mês.
"O crédito para pessoas físicas se recuperou um pouco, mas não na velocidade que permitiria uma retomada mais acentuada da economia", avalia o economista Fábio Silveira, da MB Associados.
A incerteza quanto ao futuro da economia torna ainda mais difícil diminuir o custo do crédito, isto é, reduzir os juros. A maioria dos analistas acredita que o BC tem menos espaço para baixar a taxa de juros do que tinha no início do ano. Ou seja, os juros cairão pouco até o final deste ano.
Os juros altos incomodam os empresários, que devem deixar os planos de investimentos na gaveta. "Fiquei um pouco decepcionado quando vi que o BC decidiu não alterar os juros", disse Horacio Lafer Piva, presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).

Mais cautela
O cenário econômico do primeiro trimestre mudou o humor de economistas e empresários, que trocaram o otimismo -mesmo que reservado, no início do ano - por uma atitude um pouco mais cautelosa neste mês.
O departamento econômico do Unibanco, que no início do ano previa crescimento de 2,8% da economia em 2002, estima agora crescimento menor que 2,5%. Pode até rever o número para algo próximo ou abaixo de 2%.
A MB Associados, que projetava para o país um crescimento ao redor de 2,5% para este ano, já cogita algo abaixo de 2,3%. Para Silveira, da MB, parte do tímido desempenho econômico neste ano está ligado ao fraco desempenho das exportações.
A MB também reviu as projeções de exportações. A expectativa, que era de crescimento de 5% em relação a 2001 agora é de queda. A consultoria prevê agora exportações da ordem de US$ 56 bilhões neste ano. No ano passado elas somaram US$ 58 bilhões. (FÁTIMA FERNANDES E MARCELO BILLI)

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