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MARCHA LENTA
Analistas refazem previsão de crescimento da economia brasileira no ano após 1º trimestre pior que o esperado
Renda baixa e juro alto adiam recuperação
DA REPORTAGEM LOCAL
O desempenho da economia
brasileira no primeiro trimestre
frustrou economistas e empresários, que já começam a rever suas
previsões para este ano.
Redução de salários, estagnação
do crédito e juros elevados indicam que a economia ainda está
frágil. Incertezas quanto ao desempenho econômico emperram
também a outra via que pode deslanchar a recuperação do país: os
investimentos das empresas.
"O que vemos agora é uma tímida recuperação da economia.
Ainda estamos longe de viver um
período de expansão", diz Mariano Laplane, professor da Unicamp. "A economia cresce com
renda, crédito e juros baixos. Tudo o que falta no Brasil."
Os trabalhadores começaram
2002 ganhando menos. Em fevereiro, o salário médio dos ocupados foi 6,2% menor do que o verificado no mesmo mês de 2001, informa o IBGE (Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística). O desemprego também subiu. Em
março deste ano, a taxa ficou em
7,1%. Em 2001, estava em 6,5%.
Com menos dinheiro no bolso,
os consumidores reduziram seus
gastos. A indústria automobilística, que já não viveu um bom ano
em 2001, viu as vendas caírem
também nos três primeiros meses
deste ano. Foram 321.794 carros
vendidos no primeiro trimestre
deste ano -12% menos do que
no mesmo período de 2001.
Mesmo em ano de Copa do
Mundo, o setor eletroeletrônico
sofre para atingir o mesmo volume de vendas de 2001. As vendas
de aparelhos de áudio e vídeo caíram 5,9% no primeiro trimestre
em relação aos três primeiros meses do ano passado. O mesmo se
verifica com as vendas de eletrodomésticos portáteis: caíram
23,4% no período.
"O consumidor está desconfiado. Ele enfrentou o racionamento
e várias crises na economia. É natural que demore para recuperar a
confiança no país", diz Roberto
Padovani, da Tendências.
A queda da massa de salários
poderia ter sido compensada pelo
crédito. Mas os brasileiros não parecem seguros o suficiente para se
endividar. O mesmo vale para as
empresas, que não vêem motivo
para buscar dinheiro nos bancos.
O resultado é que o volume de
operações de crédito praticamente estagnou no primeiro trimestre
deste ano. Nos três primeiros meses de 2002, as operações de crédito cresceram 0,77%, em média, ao
mês. No ano passado, o crescimento médio mensal foi de
1,89%. Vale lembrar que, em
2000, quando a economia cresceu
4,36%, as operações de crédito aumentaram a uma taxa média de
4,84% ao mês.
"O crédito para pessoas físicas
se recuperou um pouco, mas não
na velocidade que permitiria uma
retomada mais acentuada da economia", avalia o economista Fábio Silveira, da MB Associados.
A incerteza quanto ao futuro da
economia torna ainda mais difícil
diminuir o custo do crédito, isto é,
reduzir os juros. A maioria dos
analistas acredita que o BC tem
menos espaço para baixar a taxa
de juros do que tinha no início do
ano. Ou seja, os juros cairão pouco até o final deste ano.
Os juros altos incomodam os
empresários, que devem deixar os
planos de investimentos na gaveta. "Fiquei um pouco decepcionado quando vi que o BC decidiu
não alterar os juros", disse Horacio Lafer Piva, presidente da Fiesp
(Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).
Mais cautela
O cenário econômico do primeiro trimestre mudou o humor
de economistas e empresários,
que trocaram o otimismo -mesmo que reservado, no início do
ano - por uma atitude um pouco mais cautelosa neste mês.
O departamento econômico do
Unibanco, que no início do ano
previa crescimento de 2,8% da
economia em 2002, estima agora
crescimento menor que 2,5%. Pode até rever o número para algo
próximo ou abaixo de 2%.
A MB Associados, que projetava
para o país um crescimento ao redor de 2,5% para este ano, já cogita algo abaixo de 2,3%. Para Silveira, da MB, parte do tímido desempenho econômico neste ano
está ligado ao fraco desempenho
das exportações.
A MB também reviu as projeções de exportações. A expectativa, que era de crescimento de 5%
em relação a 2001 agora é de queda. A consultoria prevê agora exportações da ordem de US$ 56 bilhões neste ano. No ano passado
elas somaram US$ 58 bilhões.
(FÁTIMA FERNANDES E MARCELO BILLI)
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