São Paulo, segunda-feira, 29 de abril de 2002

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FOLHAINVEST

AÇÕES

Mas analistas recomendam vender o papel; injeção de capital feita pela EDF, dizem, não resolve problemas da empresa
Dinheiro extra faz ação da Light subir 5%

DA REPORTAGEM LOCAL

O aumento de capital anunciado na última sexta-feira pela Light, no valor de R$ 2,35 bilhões, provocou uma alta de 5,1% nas ações ordinárias da empresa no pregão que fechou a semana.
Segundo Marcos Severine, gerente de pesquisa de investimentos da corretora Sudameris, o aporte reduziu o endividamento da empresa de R$ 5,75 bilhões para R$ 3,4 bilhões e, também, o pagamento dos encargos da dívida.
"A leitura dos investidores, no primeiro momento, é que agora a Light pode ficar rentável e não corre mais o risco de quebrar", diz o especialista no setor de energia de um grande banco nacional.
Para analistas, porém, a alta de sexta-feira passada de Light ON pode ter sido apenas um estertor de um papel agonizante que, desde a privatização da empresa, em maio de 1996, até aquele dia acumulava perda de 76,2%.
Severine, por exemplo, recomenda a venda do papel apesar de considerar "inegável que a empresa vai melhorar" após o aporte feito pelo controlador, a estatal francesa EDF (Electricité de France). Negociada a R$ 101,50 no último pregão, Light ON já está muito próxima do preço justo que, segundo avaliação da Sudameris, é de R$ 114 o lote de mil.
Segundo Severine, com o aumento de capital, a base acionária da empresa salta de 14,027 milhões de ações ordinárias para 38,007 milhões. Com isso há uma redução de 63% na participação dos acionistas minoritários no capital da companhia.
A esses investidores restam duas saídas: acompanhar o aumento de capital feito pelo controlador, comprando parte dos novos papéis a serem emitidos, ou cair fora. O capital da empresa em Bolsa encolheu de 11% para 4% do capital total após o aporte da EDF. "Isso deverá reduzir a liquidez [facilidade de compra e venda] dos papéis", diz Severine. Por isso ele recomenda aos investidores livrar-se logo das ações, para evitar perdas no futuro.
Outro motivo que leva alguns analistas a recomendar a venda é que o aporte de recursos não significará, necessariamente, a redenção da empresa.
Para um administrador de fundos de investimentos de um grande asset management, tanto a gestão operacional quanto a financeira da Light deixam a desejar. Segundo ele, quando foi privatizada, a Light tinha uma perda de energia de 16,8% do total que recebia das geradoras. Hoje esse percentual é de 16,1%.
Ou seja, seis anos depois de sair do controle do estado a Light ainda perde 16,1% das receitas devido ao roubo de energia.
Para ter uma idéia, a CPFL, por exemplo, tem uma perda de energia entre 5% e 6%, o que está dentro do limite de perda técnica.
Do ponto de vista de gestão financeira a empresa é "desastrosa", segundo aquele analista. Altamente endividada em dólar, a Light sofreu muito com a variação cambial, desde a desvalorização de 1999. No ano passado, ela registrou R$ 829,3 milhões de perdas devido à oscilação do câmbio.
(SANDRA BALBI)


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