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MERCADO SELETO
Instituições oferecem atendimento e investimentos especiais a consumidor com renda acima de R$ 4.000
Banco ganha cliente top com jantar e cinema
SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL
A classe média mais abastada
não quer só que os bancos cuidem
bem de seu dinheiro. Ela também
quer comida, diversão e arte. Pelo
menos é o que pensam os executivos que comandam a área de varejo seletivo, uma invenção do
mercado financeiro para resgatar
do "piscinão de Ramos" -filas,
gerentes mal-humorados, longas
esperas - os clientes com renda
superior a R$ 4.000 mensais.
Segundo dados do IBGE, o país
tem 2 milhões de pessoas nessa
faixa de renda. Essa classe média
se constitui hoje na clientela mais
rentável para os bancos. "São
clientes com mais recursos para
consumir produtos bancários",
diz Andréa Genovesi, superintendente do segmento Uniclass do
Unibanco.
Essas pessoas têm ambições
materiais que demandam crédito,
orientação financeira, seguros,
planos de previdência e são insaciáveis. "Quem tem casa própria,
quer uma na praia; se tem carro,
quer outro melhor", diz ela.
Por isso bancos como HSBC,
Bradesco, Itaú, Unibanco e Citibank não medem esforços para
mimá-los com presentinhos, convites para jantares, shows e teatros, serviços exclusivos que vão
da contratação de um chaveiro
até o aluguel de um helicóptero.
Jogo de sedução
Tantas mesuras escondem a disputa pela fidelidade de uma classe
média que não cresce há dez anos
e que estava perdida dentro do
segmento de varejo dos bancos.
"Esse público tornou-se mais exigente, quer ser bem atendido e começou a migrar para bancos mais
seletivos", diz Waldemar Petty,
diretor executivo de vendas e distribuição do Citibank.
Segundo ele, nesse processo o
Citi e o BankBoston ganharam
competitividade e, agora, veio a
reação dos varejistas.
Nos últimos dois anos, bancos
de varejo como HSBC, Bradesco,
Itaú e Unibanco começaram a
resgatar os clientes de renda mais
alta da vala comum, criando um
segmento top, entre o private
banking, que atende os milionários, e a massa de correntistas.
O Itaú já içou ao Personnalité 70
mil dos seus 8 milhões de clientes.
"Até o final do próximo ano queremos migrar 10% da base de
clientes do banco para o Personnalité", diz Julio Tabuaço, diretor
comercial do Itaú Personnalité.
O HSBC criou seu segmento
Premier em junho do ano passado e este ano vai guindar 15% dos
seus 2 milhões de correntistas para o topo. "Entre 30% e 40% da
base de clientes poderá ser absorvida pelo Premier", diz Regina
Motta, diretora da área.
O Unibanco foi a primeira instituição nacional a explorar esse nicho. Em 97, quando lançou o Uniclass, o banco tinha 45 mil clientes
na categoria. Hoje tem 350 mil,
expansão de mais de 700%.
"No começo, o diferencial era
dado pela tecnologia e pela oferta
de produtos mais flexíveis para
esse correntista", diz Andréa Genovesi. "Hoje o que faz a diferença
é a capacidade de surpreender o
cliente, como dar-lhe assessoria
na hora de comprar um imóvel."
O Bradesco começou a desenvolver o Bradesco Negócios há
mais de um ano para oferecer um
atendimento diferenciado aos
clientes que têm um bom relacionamento com o banco: fazem
aplicações, compram produtos financeiros e mantêm um saldo
médio elevado.
Eles têm um gerente de contas
que cuida da sua rotina bancária,
são atendidos separadamente, em
geral no primeiro andar das agências, e se têm uma carteira de investimentos superior a R$ 5.000
não pagam tarifas bancárias.
O Citibank foi primeiro banco a
trabalhar o chamado varejo seletivo no país e até hoje é considerado um banco de elite. Não por
acaso: para abrir uma conta no
Citi é preciso ter uma renda mínima de R$ 6.000 mensais e estar em
ascensão profissional.
O perfil do correntista top dos
grandes bancos não é definido só
pela renda, mas pelos hábitos e
sonhos de consumo. "Esse cliente
demanda pouco crédito, não está
preocupado com o juro do cheque especial, pois só cai nele por
descuido", diz Tabuaço, do Itaú
Personnalité. Segundo ele, do total de negócios do Personnalité só
7% são operações de crédito.
Os clientes seletos do varejo, dizem especialistas, são pessoas
bem informadas e que querem ser
atendidas por um gerente capaz
de ajudá-las a montar uma estratégia de investimento.
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