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CUT diz que terá "peleja" com Palocci sobre IR
GUSTAVO PATU
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O ministro da Fazenda, Antonio
Palocci Filho, assistiu ontem ao
presidente da CUT (Central Única dos Trabalhadores), Luiz Marinho, anunciar, em cerimônia oficial, que hoje haverá um encontro
de ambos para discutir a correção
da tabela do Imposto de Renda.
"O Palocci está ali me olhando
seriamente. Certamente amanhã
[hoje] teremos uma peleja grande
para discutir a tabela do IR e outros assuntos igualmente importantes", discursou Marinho, na
instalação do Conselho Nacional
de Desenvolvimento Industrial,
no Palácio do Planalto.
A cobrança informal e inesperada provocou uma gargalhada do
ministro José Dirceu (Casa Civil),
que participava da cerimônia sentado ao lado do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva.
Tema que não constava da
agenda imediata da equipe econômica, a possibilidade de mudança da tabela do IR foi anunciada por Lula na última segunda-feira, em São Bernardo do Campo, a uma platéia de cerca de 4.000
metalúrgicos. "Até quarta-feira,
eu vou tomar uma decisão sobre o
salário mínimo e espero tomar
uma decisão sobre a questão da
alíquota do Imposto de Renda",
disse Lula na ocasião, respondendo a cobranças do público.
A correção pura e simples da tabela do IR implica queda da arrecadação do governo: a faixa de
isenção, que hoje beneficia rendas
mensais de até R$ 1.058, seria elevada; os demais contribuintes ganhariam com o aumento do valor
das deduções.
Em entrevista após a cerimônia,
Marinho confirmou a reunião de
hoje e disse que espera "pôr um
ponto final nesse assunto". A proposta da CUT é um reajuste de
57% na tabela, referente à inflação
acumulada desde 1996, segundo
os cálculos da central.
O próprio Marinho, porém, admitiu um cenário mais realista:
"Deve haver, pelo menos, a correção pela inflação do governo Lula", disse. Pelo IPCA de janeiro de
2003 até o mês passado, o índice
seria 11,32%.
Sob protestos do PT nos tempos
de oposição, a tabela do IR permaneceu inalterada de 1996 a
2002, quando foi reajustada em
17,5% pelo governo FHC.
Palocci deixou o local sem comentar o tema. "A questão está
sendo analisada, mas não há decisão", limitou-se a dizer o ministro
Guido Mantega (Planejamento).
Contramão
A idéia de reduzir a receita do IR
vai na contramão do pensamento
da equipe de Palocci, que já defendeu, em documentos, maior participação dos tributos progressivos (que atingem mais os setores
de maior renda) na arrecadação.
Uma alternativa, que foi estudada no ano passado, seria criar novas faixas de tributação. Hoje, só
existem duas, além da faixa de
isenção: uma alíquota de 15% para rendas mensais entre R$
1.058,01 e R$ 2.115 e outra de
27,5% para as rendas mais altas,
compensadas por deduções.
Marinho disse que a criação de
novas faixas não faz parte da proposta da CUT, embora acredite
que há espaço para elevar a tributação sobre os mais ricos. A Fazenda já estudou uma alíquota de
35% -para salários acima de R$
10.000, por exemplo- e a redução das deduções, mas nunca chegou a apresentar concretamente
um projeto nesse sentido.
Colaborou Wilson Silveira,
da Sucursal de Brasília
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