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BLOCO
Para o Brasil, haverá avanço maior nos acordos com a Argentina; Uruguai é o novo desafeto
Mercosul poderá ter "duas velocidades"
ANDRÉ SOLIANI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
RUI NOGUEIRA
SECRETÁRIO DE REDAÇÃO DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Mercosul deixará de ser apenas um, será dois. Para a diplomacia brasileira, haverá um avanço
maior nos acordos entre o Brasil e
a Argentina do que nos do bloco
(Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai). O Itamaraty chama essa
estratégia de integração "Mercosul de duas velocidades".
A mudança no projeto original,
que prevê acordos quadrilaterais,
se deve ao novo desafeto brasileiro: o Uruguai. Na opinião dos negociadores brasileiros, os uruguaios fazem tudo para obstaculizar o avanço da integração.
O Brasil não pode ser refém de
um sócio com atitude pouco
construtiva, disse um dos principais negociadores brasileiros.
A estratégia brasileira não é certa de obter sucesso. Pelas regras
do Mercosul, os quatro membros
têm o mesmo poder de voto e veto. Para alguns temas será possível aplicar duas velocidades; em
outros, o Uruguai, se quiser, conseguirá criar dificuldades.
Os uruguaios sabem que estão
chateando o vizinho maior, mas
não pensam em mudar de estratégia. Com essa postura, conseguem vantagens comerciais.
O ministro de Indústria do Uruguai, Sergio Abreu, qualificou a
posição do seu país de "inteligência que incomoda". A autodescrição foi feita depois dos resultados
da negociação em torno do regime automotivo. Os uruguaios
conseguiram uma tarifa mais baixa de importação para carros de
países de fora do bloco que a praticada por Brasil e Argentina.
Para o Brasil, a concessão foi injusta. A cessão foi feita para que o
acordo fosse fechado e inscrito na
OMC. Sem a assinatura do Uruguai, o regime automotivo poderia ser contestado na organização.
"Não incomodamos por incomodar, é uma necessidade de sobrevivência", diz o embaixador
uruguaio no Brasil, Mário Cesar
Fernández. Para o Uruguai, muitas vezes tarifas altas de importação significam aumento dos preços internos. Para o Brasil e a Argentina, servem de estímulo à
produção interna.
O mau humor no momento é
tanto que alguns chegam a aventar modificações no Tratado de
Assunção, que originou o Mercosul. Opção pouco provável devido
aos custos internacionais de imagem, dizem os diplomatas.
Os brasileiros não são os únicos
que se sentem incomodados pelos uruguaios. Na Embaixada da
Argentina, em Brasília, há quem
se incomode com a música tocada
no telefone da embaixada uruguaia. Os argentinos não gostam
de ser lembrados de que o tango
mais famoso no mundo não é argentino, é uruguaio, "La Cumparcita", de Gerardo Mattos Rodriguez. A música na espera do telefone da embaixada uruguaia faz
questão de recordá-los.
Os argentinos preferiam ouvir
um "candomblé", música típica
uruguaia, ao telefone. Os brasileiros, um parceiro mais dócil.
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