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NOVA ECONOMIA
Queda fez ações de tecnologia voltar aos preços de janeiro; correção saudável ou carnificina já começou?
Crise vai além do massacre da Internet
HAMISH MCRAE
DO "THE INDEPENDENT"
O colapso da tecnologia continua. Os diversos mercados de alta
tecnologia em todo o mundo
mantiveram o padrão estabelecido depois do seu pico do começo
de março, e cada pequena recuperação passou a ser seguida por
uma queda muito mais profunda.
A extensão da queda varia um
pouco de mercado a mercado,
mas o padrão geral é mais ou menos o mesmo em toda parte do
mundo: a Nasdaq caiu 35% ante o
seu pico, e a Neuer Markt, da Alemanha, e a Jasdaq, do Japão, tiveram perdas próximas a 40%.
Mas isso só as levou de volta aos
níveis que mantinham no começo
de janeiro, o que provoca a questão: será que se trata apenas de
uma correção saudável ou o massacre começou de verdade? Talvez
um pouco de cada coisa.
Vamos supor que ainda haja algum território de queda à frente,
mas que a partir do final do ano
tenhamos uma base sólida sobre a
qual apoiar um avanço: as quedas
na Bolsa dificilmente duram mais
de nove meses.
O sofrimento das empresas de
Internet continuará sendo a principal história.
Se elas não puderem retornar ao
mercado para financiar seus prejuízos, terão de encontrar alguma
outra maneira de levantar dinheiro.
Isso cada vez mais implicará recorrer a grandes empresas tradicionais, com fluxos de caixa decentes, que comprariam participações na nova geração de empresas. E as que não encontrassem dinheiro, faliriam.
Embora essas histórias devam
atrair as manchetes, elas não terão
impacto de grande porte sobre a
economia mundial.
As empresas de Internet não são
grandes; não têm muitos funcionários; boa parte de seu investimento foi na construção de suas
marcas, de modo que não há um
grande excedente de ativos de capital pronto a deprimir o mercado.
Contenção de crédito
As coisas começam a ficar mais
sérias caso empresas estabelecidas não sejam capazes de levantar
dinheiro.
Uma compressão de crédito está começando a se fazer sentir, à
medida que os bancos centrais de
todo o mundo começam a apertar
suas políticas monetárias. É difícil
determinar até que ponto esse
problema será sério, mas há duas
informações bastante inquietantes que merecem atenção mais
ampla.
A primeira delas é até que ponto
subiram os rendimentos dos bônus corporativos nos Estados
Unidos. A GFC Economics, uma
companhia de pesquisas sediada
em Londres, acaba de divulgar
um boletim demonstrando que
os bônus com classificação BB
agora estão oferecendo rendimento real da ordem de 9%, superior ao de 1990, pouco antes da recessão do começo da década.
Essa alta aconteceu em um momento em que a economia ainda
estava se expandindo, enquanto
em 1990 havia evidências claras de
desaceleração iminente. Se houver desaquecimento em breve, e
as empresas encontrarem mais
dificuldades para financiar suas
dívidas, o rendimento de seus papéis deve subir ainda mais a fim
de atrair investidores.
A outra informação surgiu na
mais recente pesquisa da Merrill
Lynch entre os administradores
de fundos de investimento. Não
tinha percebido até que ponto havia caído nos últimos meses o nível de otimismo deles quanto à
economia mundial.
Pico já passou
Diante da pergunta sobre quando acreditavam que o crescimento mundial estaria chegando ao
seu ponto mais alto, os administradores de fundos responderam
que em setembro, em média.
Não se deve levar a sério demais
as visões dos administradores de
fundos. Há muitas evidências de
que o crescimento econômico
mundial já passou do pico -que
pode ter surgido no primeiro trimestre deste ano.
Embora os profissionais de investimento de outros países possam ver a queda nas ações de tecnologia como oportunidade de
compra, nos Estados Unidos isso
deixou de ser verdade recentemente. Se esse último ponto se
confirmar, os problemas da tecnologia serão prolongados.
Os investidores de fundos dos
EUA estão mais preocupados
com a alta da inflação, que não garante, por si só, problemas para a
economia. Mas, tendo em vista a
maneira pela qual o efeito prosperidade vem sustentando os EUA,
isso causa mais preocupação.
Otimismo e pessimismo
No Reino Unido, a grande virada é rumo às ações defensivas, enquanto no continente europeu espera-se forte crescimento neste
ano, mas talvez uma queda considerável no ritmo para o ano que
vem. E os administradores de
fundos japoneses estão otimistas
quanto à economia, mas pessimistas quanto às ações.
Parece-me haver três coisas a
observar nos próximos meses.
A primeira é saber se o colapso
das ações de tecnologia prejudicará a capacidade de levantar dinheiro das grandes empresas
mundiais estabelecidas no ramo
de alta tecnologia.
A segunda é determinar se a
contração do crédito escapará ao
controle nos EUA. E a terceira é o
que vai acontecer ao dólar.
A primeira é preocupante. Os
mercados europeus de capital, em
especial, ainda não calcularam integralmente o custo de aquisição
das licenças de telefonia móvel.
Em um certo sentido, isso é simplesmente uma transferência de
fundos do setor privado para o setor público -como tirar dinheiro
de um bolso e guardá-lo no outro.
Ninguém nos Estados Unidos
espera que a contração de crédito
escape ao controle, tal é a confiança depositada em Alan Greenspan, o chairman do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano).
Mas há dúvidas. Dois anos
atrás, ele era rei. Agora, há resmungos de que o Fed deveria ter
contido o crescimento mais cedo
(quanto mais tardia a compressão, mais difícil controlá-la).
E o que mais poderia perturbar
o Fed seria a alta na inflação diante do dólar fraco.
O dólar terá de cair um dia. Não
é razoável esperar que o euro caia
para sempre. Administrar esse
declínio será difícil, uma vez mais.
Não impossível, mas difícil sem
dúvida.
Tradução de Paulo Migliacci
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