São Paulo, segunda-feira, 29 de maio de 2000


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INTERNET

Empresa dos EUA calcula valor superior a US$ 10 bi

Ninguém sabe dizer o prejuízo que foi causado pelo "vírus do amor"


DO "LIBÉRATION"

Fala-se do "vírus mais destrutivo já difundido". Em geral, todas as quantias divulgadas a respeito dele são alarmantes: US$ 6,7 bilhões de prejuízos em todo o mundo em apenas cinco dias; prejuízos totais superiores a US$ 10 bilhões...
E, sempre, uma mesma fonte: a Computer Economics, uma empresa de pesquisa da Califórnia (EUA) que parece deter o monopólio sobre o vírus "ILOVEYOU".
Quando se conversa com as companhias especializadas em software antivírus como a Symantec ou a Network Associates, todos declaram se referir "aos números de uma organização norte-americana, Computer Economics". Explica a Computer Associates de Paris: "Eles trabalham conosco".
Um dia depois que o vírus foi difundido, a empresa estimava que 45 milhões de usuários de computadores o houvessem recebido. Esses números foram imediatamente divulgados por inúmeros veículos de imprensa. Os US$ 6,7 bilhões de dólares em prejuízo também se tornaram conhecimento comum.

Metodologia
A empresa californiana de pesquisas se apresenta como "agência de consultoria sobre a tecnologia da informação". Ela garante contar entre seus clientes com 82% das 500 maiores empresas norte-americanas. Embora seu site multiplique as previsões sobre os supostos prejuízos financeiros do vírus, ela jamais indica a metodologia adotada.
Adam Harriss, um dos analistas do grupo, explica de que forma os números foram calculados. Ele exemplifica com os números finais, revisados, dos prejuízos causados no primeiro dia.
Para começar, determina-se o número de pessoas afetadas -29,5 milhões de computadores entre as empresas e 17,5 milhões entre os particulares, de acordo com Harriss.
Mas a maioria não foi atingida pelo vírus. Apenas 1,88 milhão de usuários haviam clicado sobre o arquivo anexo que efetivamente deflagrava o vírus. Assim, do total de 48,8 milhões de usuários atingidos, apenas 3,8% foram infectados.

Estranha conta
A seguir, atribui-se a cada categoria um prejuízo médio e, para surpresa, as pessoas que receberam o vírus sem deflagrá-lo tiveram atribuído a elas um prejuízo médio de US$ 125.
"Será que apertar um botão para suprimir um arquivo infectado por vírus custa mesmo US$ 125?", pergunta Eric Beaurepaire, diretor de marketing da filial francesa da Symantec.
A questão merece ser analisada: o custo atribuído aos usuários não contaminados representa 83% do prejuízo total calculado pela Computer Economics.
Para Harriss, os US$ 125 representam a "perturbação" ligada à recepção do e-mail portador do vírus. "As pessoas ficam se perguntando o que fazer. Em muitas empresas, elas verificam que o e-mail contaminado não as atingiu, e por garantia configuram um antivírus".
A estimativa do custo médio engloba todas as despesas potencialmente causadas pelo vírus, compreendendo o tempo de trabalho perdido, o pânico causado e as mensagens suspensas.
"Há perdas mesmo quando o vírus é eliminado", estima François Paget, pesquisador da Network Associates, empresa especializada em software antivírus. "A começar pelo tempo perdido em ir ao refeitório para contar a história."

A quem o vírus beneficia?
Resta saber de que maneira a Computer Economics define o número de pessoas atingidas e o custo médio. "Temos grande experiência no domínio dos vírus", responde Harriss, laconicamente. "Nossas estimativas são baseadas em nossas discussões com grandes empresas e com as companhias de software antivírus. Sabemos avaliar os custos relacionados aos vírus."
Os métodos de cálculos e os resultados dessas estimativas, apresentadas como dados únicos espantaram a maioria dos especialistas franceses. "São dados lançados ao acaso", diz Pierre Dellis, delegado do sindicato de serviços e engenharia da informática.


Tradução de Paulo Migliacci



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