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INTERNET
Empresa dos EUA calcula valor superior a US$ 10 bi
Ninguém sabe dizer o prejuízo que foi causado pelo "vírus do amor"
DO "LIBÉRATION"
Fala-se do "vírus mais destrutivo já difundido". Em geral, todas
as quantias divulgadas a respeito
dele são alarmantes: US$ 6,7 bilhões de prejuízos em todo o
mundo em apenas cinco dias;
prejuízos totais superiores a US$
10 bilhões...
E, sempre, uma mesma fonte: a
Computer Economics, uma empresa de pesquisa da Califórnia
(EUA) que parece deter o monopólio sobre o vírus "ILOVEYOU".
Quando se conversa com as
companhias especializadas em
software antivírus como a
Symantec ou a Network Associates, todos declaram se referir "aos
números de uma organização
norte-americana, Computer Economics". Explica a Computer Associates de Paris: "Eles trabalham
conosco".
Um dia depois que o vírus foi
difundido, a empresa estimava
que 45 milhões de usuários de
computadores o houvessem recebido. Esses números foram imediatamente divulgados por inúmeros veículos de imprensa. Os
US$ 6,7 bilhões de dólares em
prejuízo também se tornaram conhecimento comum.
Metodologia
A empresa californiana de pesquisas se apresenta como "agência de consultoria sobre a tecnologia da informação". Ela garante
contar entre seus clientes com
82% das 500 maiores empresas
norte-americanas. Embora seu site multiplique as previsões sobre
os supostos prejuízos financeiros
do vírus, ela jamais indica a metodologia adotada.
Adam Harriss, um dos analistas
do grupo, explica de que forma os
números foram calculados. Ele
exemplifica com os números finais, revisados, dos prejuízos causados no primeiro dia.
Para começar, determina-se o
número de pessoas afetadas
-29,5 milhões de computadores
entre as empresas e 17,5 milhões
entre os particulares, de acordo
com Harriss.
Mas a maioria não foi atingida
pelo vírus. Apenas 1,88 milhão de
usuários haviam clicado sobre o
arquivo anexo que efetivamente
deflagrava o vírus. Assim, do total
de 48,8 milhões de usuários atingidos, apenas 3,8% foram infectados.
Estranha conta
A seguir, atribui-se a cada categoria um prejuízo médio e, para
surpresa, as pessoas que receberam o vírus sem deflagrá-lo tiveram atribuído a elas um prejuízo
médio de US$ 125.
"Será que apertar um botão para suprimir um arquivo infectado
por vírus custa mesmo US$ 125?",
pergunta Eric Beaurepaire, diretor de marketing da filial francesa
da Symantec.
A questão merece ser analisada:
o custo atribuído aos usuários
não contaminados representa
83% do prejuízo total calculado
pela Computer Economics.
Para Harriss, os US$ 125 representam a "perturbação" ligada à
recepção do e-mail portador do
vírus. "As pessoas ficam se perguntando o que fazer. Em muitas
empresas, elas verificam que o e-mail contaminado não as atingiu,
e por garantia configuram um antivírus".
A estimativa do custo médio engloba todas as despesas potencialmente causadas pelo vírus, compreendendo o tempo de trabalho
perdido, o pânico causado e as
mensagens suspensas.
"Há perdas mesmo quando o
vírus é eliminado", estima François Paget, pesquisador da Network Associates, empresa especializada em software antivírus.
"A começar pelo tempo perdido
em ir ao refeitório para contar a
história."
A quem o vírus beneficia?
Resta saber de que maneira a
Computer Economics define o
número de pessoas atingidas e o
custo médio. "Temos grande experiência no domínio dos vírus",
responde Harriss, laconicamente.
"Nossas estimativas são baseadas
em nossas discussões com grandes empresas e com as companhias de software antivírus. Sabemos avaliar os custos relacionados aos vírus."
Os métodos de cálculos e os resultados dessas estimativas, apresentadas como dados únicos espantaram a maioria dos especialistas franceses. "São dados lançados ao acaso", diz Pierre Dellis,
delegado do sindicato de serviços
e engenharia da informática.
Tradução de Paulo Migliacci
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