São Paulo, segunda-feira, 29 de maio de 2000


Envie esta notícia por e-mail para
assinantes do UOL ou da Folha
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Moscou descobre o mercado livre com delegação de economistas

AMITY SHLAES
DO "FINANCIAL TIMES"

Um dos maiores mistérios sobre Vladimir Putin é a sua opinião sobre a economia. O passado dele como um homem de segurança no Kremlin, afinal, não o preparou muito para as nuances de liderar a economia russa. E, embora tenha declarado em discurso no começo deste ano que "combateria a pobreza" e que "quanto mais forte o Estado, mais livre o indivíduo", ele ainda não expôs sua posição sobre a privatização dos fundos de pensão, a regra de preços nas discussões monetárias ou sobre as alíquotas tributárias.
Assim, é interessante descobrir que o Kremlin recebeu duas delegações de economistas que defendem o mercado mais livre possível, o chamado "supply side".
Os planos para a visita foram supostamente preparados por Andre Illarionóv, um economista pró-mercado ao estilo ocidental que estudou em Harvard e agora é o principal assessor econômico de Putin. Illarionóv procurou a embaixada norte-americana em Moscou, que por sua vez entrou em contato com os dois grupos de economistas, que puderam defender a adoção das medidas clássicas do "supply side" -cortes radicais de impostos e a criação de contas individuais de investimento para a aposentadoria.
Os cinco convidados do Kremlin eram Richard K. Vedder, especialista em emprego, crescimento e privatização da educação da Universidade de Ohio; James Gwartney, líder da escola de pensamento econômico conhecida como "teoria da escolha pública" e economista chefe do Comitê Econômico Conjunto do Congresso; Arnold Halberger, um dos famosos "Chicago Boys" que convenceu o presidente Augusto Pinochet, do Chile, a reestruturar radicalmente a economia de seu país e a abrir seus mercados; James Carter, membro do Comitê Econômico conjunto do Congresso; e Carlos Bologna, ex-ministro das Finanças do Peru.
"Nós defendemos o corte dos impostos", diz Gwartney. Eles também discutiram o peso das altas contribuições vigentes na Rússia (41% sobre a folha de pagamentos) e disseram que o percentual era "alto demais".
Segundo os participantes, Putin parecia receptivo. "A questão é o quanto ele poderá fazer devido à situação política", disse Carter.
Na semana seguinte, um segundo grupo de defensores do livre mercado viajou à Rússia para uma reunião com Illarionóv no Centro Gref de Estudos Econômicos e Estratégicos, uma organização de pesquisa que convidada a apresentar planos para a reforma econômica. Esse grupo de especialistas incluía Sir Roger Douglas, o lendário ministro das Finanças adepto radical do livre mercado na Nova Zelândia, Graham Scott, neozelandês reformista, e José Pinera, o pai da privatização do seguro social no Chile.
Depois das visitas, Kotlikoff e Gwartney, escreveram artigos para o "Financial Times", mas nenhum deles revelou detalhes sobre as conversações. Resta determinar o impacto, se é que essa tutela de alto nível irá exercer algum. Espera-se que uma série de planos de reforma econômica seja anunciada em junho.


Tradução de Paulo Migliacci


Texto Anterior: Mercado cambial: Política do dólar despreza baixa do euro
Próximo Texto: Monopólio: Veja como a Microsoft dominou o mercado
Índice

Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.