São Paulo, sábado, 29 de junho de 2002

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VIOLÊNCIA NA ARGENTINA

Sequência de imagens do "Clarín" mostra que manifestante tentava dialogar com a polícia

Fotos indicam que policial matou piqueteiro

JOÃO SANDRINI
DE BUENOS AIRES

Uma sequência de fotos publicadas pelo jornal "Clarín" ontem traz fortes indícios de que a polícia argentina teria sido responsável pela morte de pelo menos um dos dois piqueteiros assassinados durante as manifestações realizadas na última quarta-feira em Buenos Aires.
As imagens praticamente derrubam a hipótese sustentada pelo governo e pela polícia de que os próprios piqueteiros teriam sido responsáveis pelos assassinatos.
As fotos mostram que policiais armados estavam presentes na estação de trem de Avellaneda, onde os dois piqueteiros foram mortos. Um deles, Darío Santillán, 21, aparece ainda vivo em diversas fotos, tentando dialogar com os policias armados. Minutos depois, Santillán já aparece baleado com um tiro nas costas, sendo arrastado por policiais para fora da estação.
A outra vítima era Maximiliano Kosteki, 22, que também é arrastado, mas seu corpo fica dentro da estação. Em foto publicada no jornal "Página 12", um policial sorri quando acaba de removê-lo.

Testemunha
Pepe Mateos, o fotógrafo do "Clarín" presente no local, confirmou que os policiais dispararam várias vezes dentro da estação, mas não presenciou o assassinato de Santillán. No entanto, segundo o advogado dos piqueteiros, Claudio Pandolfi, outras testemunhas teriam apontado o delegado Alfredo Franchiotti como autor do assassinato.
Franchiotti chefiava as operações na ponte Pueyrredón e, horas depois dos incidentes, concedeu entrevista em que afirmou nunca ter estado dentro da estação de trem e que não dispunha de armas de fogo.
No entanto as fotos mostraram que o delegado estava no local e que apontou uma arma de fogo para o piqueteiro Santillán. Além disso, a perícia preliminar realizada pela Justiça mostrou que os disparos fatais foram feitos à queima-roupa por armas de calibre 9 milímetros, o mesmo utilizado pela polícia. Baseada nessas provas, a Justiça determinaria ainda ontem a prisão preventiva do delegado e de outro policial.

Luto
A população e a imprensa local consideraram o incidente um escândalo. O presidente Eduardo Duhalde afirmou que "a Argentina está de luto". Ele culpou a polícia da Província de Buenos Aires pela "atroz caçada" a piqueteiros promovida "aparentemente" por policiais.
Já o governador de Buenos Aires, Felipe Solá, negou que tenha autorizado a repressão violenta. Ele prometeu reestruturar as forças policiais da Província por "falta de subordinação ao poder político". Solá também demitiu o chefe da polícia provincial, Ricardo Degastaldi, e suspendeu outros 110 policiais que participaram da ação.

Complô e renúncia
O chefe de gabinete, Alfredo Atanasof, não descartou a possibilidade de que os incidentes façam parte de complô para desestabilizar o governo Duhalde.
Para o analista político Rosendo Fraga, a possível continuidade dos conflitos sociais aumentaria a fragilidade do governo e poderia obrigar Duhalde a convocar eleições antecipadas.
Já o deputado comunista Luis Zamora pediu à população que peça a renúncia de Duhalde. Além disso, a CTA, terceira maior central sindical do país, convocou uma nova manifestação contra a violência do governo para quarta.



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