São Paulo, quinta-feira, 29 de junho de 2006

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Colombianos compram Cteep em leilão

Proposta para adquirir empresa de energia de São Paulo foi de R$ 1,19 bilhão; ágio sobre preço mínimo ficou em 58%

Dinheiro obtido com privatização da companhia servirá para cobrir parte do rombo da Cesp; negócio é alvo de críticas


JANAÍNA LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL

O governo de São Paulo privatizou ontem a Cteep (Companhia de Transmissão de Energia Elétrica Paulista). O controle foi arrematado pela colombiana ISA1 (Interconexión Eléctrica S.A.), que ofertou R$ 1,193 bilhão pela empresa durante leilão realizado na Bolsa de Valores de São Paulo.
O lance equivale a ágio de 57,89% sobre o preço mínimo estabelecido para a venda da Cteep, de R$ 755,6 milhões.
O objetivo do governo é usar os recursos para diminuir o rombo de caixa da Cesp (Companhia de Energética de São Paulo), cujas dívidas somam mais de R$ 10 bilhões. "Foi uma medida não-ideológica, mas pragmática, para a redução do tamanho do Estado e o saneamento financeiro da Cesp", disse o secretário paulista de Energia, Mauro Arce.
Em abril do ano passado, a Folha revelou que o governo de São Paulo tinha planos de vender a Cteep e, dessa forma, injetar até R$ 1 bilhão na Cesp. À ocasião, o então secretário de Fazenda estadual, Eduardo Guardia, contestou a informação. "O Estado não pretende vender as ações da Cteep."
No leilão de ontem, foram vendidas 31.341.890.064 ações ordinárias da Cteep em poder do governo de São Paulo, por meio de um bloco único. O número corresponde a 50,1% dos papéis com direito a voto pertencentes ao Estado, ou a 21% do capital total da empresa.
Mauro Arce confirmou que a Cesp só será colocada à venda depois de saneada. "Ela nunca deixou de estar no programa de desestatização", disse o secretário. No início deste mês, a Cesp anunciou um plano para conseguir cerca de R$ 5 bilhões em operações de mercado.
Seis participantes, inclusive a Interconexión, estavam habilitadas para o leilão. Mas houve só dois lances: o do vencedor, coordenado pelo Bradesco, e o do grupo Terna, sediado na Itália, no valor de R$ 1,06 bilhão. Os demais credenciados -Alusa Engenharia, Brascan Brasil, Makelle Participações, Pactual Transmissão e Investimentos- não disputaram.
O diretor de estratégia corporativa internacional da Interconexión, Cesar Ramirez, informou que pretende pagar pela Cteep usando recursos próprios e oriundos do sistema financeiro. O executivo, porém, não detalhou quais seriam as possíveis fontes de financiamento nem o tamanho da fatia do aporte que virá efetivamente do caixa da Interconexión.
Especialistas do setor de energia ouvidos pela Folha trabalham com a possibilidade de os colombianos se associarem a um grupo local em uma SPE (sociedade de propósito específico). Poderiam, assim, pedir dinheiro emprestado ao governo brasileiro para quitar o negócio, via BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). A liquidação financeira está prevista para 19 de julho. Ramirez disse ainda que a Interconexión fará novos investimentos em linhas de transmissão no país. No futuro, complementou ele, a companhia tende a investir em transporte de gás.
De acordo com executivos do setor de energia, os brasileiros não participaram do leilão porque estão de olho na geração de energia, ou seja, na Cesp. Para eles, se o governo de São Paulo limpar o balanço da empresa, ela se torna atraente o bastante para trazer investidores pesos-pesados ao jogo -principalmente grandes empreiteiras.

Críticas
O leilão da Cteep causou críticas de entidades sindicais ligadas aos trabalhadores do setor energético. "A Interconexión pagou quase 60% de ágio; é a principal prova de que o governo do Estado ignora os números e se desfaz de uma empresa lucrativa", afirmou o presidente licenciado do Sindicato dos Eletricitários de São Paulo, Antonio Carlos dos Reis.
A Cteep tem 11.800 km de linhas de transmissão e abriga em torno de 2.000 funcionários. No primeiro trimestre deste ano, lucrou R$ 82,8 milhões. Para analistas do mercado financeiro, contudo, o leilão foi bem-sucedido, pois a oferta esperada era de mais ou menos 20% sobre o preço mínimo.
"A companhia terá mais facilidade para financiar suas atividades e fazer investimentos", observou Rosângela Ribeiro, da ABN Amro Corretora.
O Ministério Público Estadual abriu inquérito civil para apurar supostos problemas no leilão. A hipótese é que a venda da Cteep tenha sido lesiva aos cofres públicos, pois não foi levado em conta na fixação do preço mínimo o dinheiro que a companhia tem em caixa (cerca de R$ 600 milhões).


Colaborou a Folha Online

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