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LUÍS NASSIF
O "mix" dos
preços elétricos
Uma das grandes complicações na implantação do
novo modelo energético será a
maneira como será tratada a
herança do modelo anterior.
Nele, as licitações foram onerosas. Foram adquiridas empresas ou concessões com pagamento de ágio. O modelo de
negócios previa a venda de
energia por prazos longos, a tarifas mais elevadas para compensar o ágio.
O novo modelo prevê que as
distribuidoras se organizem
em pool e adquiram a energia
de acordo com um "mix" de
preços entre as chamadas energia velha e energia nova. Seria
uma maneira de tentar reduzir
os riscos dos contratos e garantir tarifas módicas para os consumidores. O modelo tem vantagens e desvantagens -que
procurarei abordar em futuras
colunas. Mas criou imbróglios
jurídicos e financeiros complicados para a transição do
atual modelo.
Há duas saídas para os investidores que adquiriram concessões com ágio. A primeira seria
manter as regras do jogo anterior, os contratos firmados anteriormente. Mas essa regra
elevaria a tarifa média do sistema.
A segunda alternativa seria
"perdoar" o ágio pago. O Ministério de Minas e Energia faria um leilão especial de compra de energia das "velhas-novas" hidrelétricas (as que foram privatizadas). Desconta-se o valor da outorga e vence
quem oferecer menor preço.
Depois, retorna-se com o adicional da outorga. Mas abre-se
o flanco jurídico para questionamento por parte de qualquer
vencedor de leilão de concessão
onerosa.
Outro ponto complicado é
que o modelo em vigor, a partir
da lei 9.648, artigo 10, de 1998,
previa a geração por conta e
risco. Mesmo as estatais passariam a ter sua energia liberada
gradativamente para vender
no mercado, à proporção de
25% por ano, até a completa liberação, em 2006. Por exemplo, no primeiro ano, a Chesf
teria 25% da energia na base
de preço e 75% de tarifa. Na
hora do "mix", para a energia
velha puxar a tarifa para baixo, ter-se-ia que reduzir receita
das estatais. A Chesf tem a dívida de Xingó para pagar. Se
reduzir sua tarifa, como vai
pagar a dívida de Xingó e investir?
No modelo anterior, os preços acompanhavam o chamado custo marginal de expansão
-o custo de novos investimentos. A geradora antiga acabava
se apropriando de uma receita
adicional que serviria para futuros investimentos.
No fundo, esse é o dilema de
toda política pública. Não existe a política ótima. Existem opções com prós e contras. No
modelo proposto, o pró é a possibilidade de uma tarifa menor
pelo "mix" e pela redução da
imprevisibilidade. O contra é a
redução da capacidade de investimento das hidrelétricas
mais antigas.
A Ministra de Minas e Energia, Dilma Rousseff, acha que é
possível chegar a uma tarifa
média que preserve a capacidade de investimento das antigas geradoras sem punir excessivamente o consumidor.
Outra dificuldade do novo
modelo será definir o custo
operacional de geração. São
muitas empresas, cada qual
com uma estrutura de custo diferente, exigindo uma capacidade de auditoria enorme. O
MME terá que demonstrar como será factível efetuar esses
cálculos.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
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